Um novo estudo científico realizado por uma equipa de investigadores da University College de Londres, no Reino Unido, sugere a saúde mental e o estado de espírito são melhores durante o período da manhã. O objetivo da investigação, publicada recentemente na revista BMJ Mental Health, passava por analisar variações na saúde mental – como sintomas depressivos ou de ansiedade – e no bem estar – felicidade hedónica e eudaimónica – dos participantes ao longo do dia e quais os períodos do dia em que estes são mais elevados.
Para a investigação – que envolveu quase um milhão de participantes – foram utilizados dados de um estudo anterior, em que existiu um acompanhamento regular dos inquiridos entre março de 2020 e novembro de 2021. “Recorremos a uma grande amostra de dados repetidos – quase um milhão de respostas a inquéritos de 49 mil participantes ao longo de dois anos”, explicou Feifei Bu, um dos autores do estudo. No questionário, para além da saúde mental e bem estar, foram também observados fatores como a solidão e a satisfação com a vida, através de questões como: “Na semana passada, até que ponto se sentiu feliz?”, “Até que ponto se sentiu satisfeito com a sua vida?” e ”Até que ponto sentiu que as coisas que faz na sua vida valem a pena?”.
As respostas foram depois complementadas com outras informações sobre os inquiridos, como a idade, género, etnia, nível de escolaridade, situação profissional, zona de residência (rural, urbana) e as condições de saúde física e mental. Cerca de 76.5% dos participantes eram mulheres, 68% tinha um nível de escolaridade elevado e apenas 6% integravam alguma minoria.
Segundo os resultados, os inquiridos mostraram ter maiores índice de bem-estar e saúde mental durante o período da manhã, com menores níveis de ansiedade e sentimentos de solidão. Por outro lado, os participantes afirmaram sentir-se ligeiramente pior à noite – sobretudo por volta da meia-noite. No entanto, de acordo com os investigadores, o momento em que as pessoas optaram por preencher os questionários pode ter influenciado os seus resultados. “Este padrão pode refletir o momento em que as pessoas escolhem responder ao inquérito, em vez de um efeito direto da hora do dia. Por exemplo, quem já se sente melhor de manhã pode ter mais probabilidades de responder ao inquérito nessa altura”, continuou.
Já as diferenças verificadas entre os dias de semana e os fins-de-semana podem ficar a dever-se a fatores como a rotina, diferente entre os fins-de-semana e os dias úteis. Foi possível verificar a existência de melhores índices de bem-estar e satisfação com a vida às segundas e sextas-feiras comparativamente aos domingos. As terças foram os dias com melhores valores de felicidade.
Os investigadores verificaram ainda algumas mudanças no humor dos participantes consoante a estação do ano. Comparativamente às outras estações do ano, durante o inverno, os inquiridos mostraram uma tendência a apresentar valores menores na saúde mental – mais ansiedade e depressão -, felicidade e satisfação com a vida e mais solidão. O verão foi a estação com um melhor nível de felicidade embora a estação do ano não tenha afetado as alterações no bem-estar observadas ao longo do dia.
Por se tratar de estudo observacional, os investigadores referem não ser possível determinar os motivos para estas variações. Contudo, sugerem que determinadas mudanças na saúde mental e no bem-estar ao longo do dia podem estar associadas ao relógio biológico. “Por exemplo, o cortisol [uma hormona que regula o humor, a motivação e o medo] atinge o seu pico pouco depois de acordar e atinge os seus níveis mais baixos por volta da hora de deitar”, disse o especialista.
De acordo com os investigadores, esta investigação é a mais abrangente até à data uma vez que, por norma, os estudos científicos que se debruçam sobre este tema não analisam as mudanças tendem apenas a analisar grupos específicos ou muito pequenos de pessoas. Os resultados terão agora de ser reproduzidos noutros estudos para se ter a certeza de que correspondem à realidade. “Embora estes resultados sejam intrigantes, têm de ser reproduzidos noutros estudos que tenham em conta este potencial enviesamento. Se forem validados, poderão ter implicações práticas importantes”, concluiu o investigador.