Um novo estudo, realizado por cientistas do Centro Médico da Universidade de Amesterdão, nos Países Baixos, pode ser mais uma esperança para o desenvolvimento da cura para o VIH, depois de a equipa ter sido capaz de eliminar o vírus de células em laboratório utilizando uma ferramenta de edição de genes, a CRISPR-Cas9, que valeu a duas cientistas o Prémio Nobel da Química em 2020 e que permite aos cientistas fazerem alterações precisas no ADN de forma relativamente simples e eficiente.
Neste sistema, as bactérias capturam pequenos pedaços de ADN de vírus invasores e integram-nos no seu próprio genoma num local específico denominado CRISPR. Quando o mesmo vírus tenta invadir novamente, as bactérias utilizam estas sequências de ADN guardadas para identificar e destruir o vírus.
Os cientistas descobriram que podem utilizar esta capacidade de “tesoura molecular” das proteínas Cas, tal como a Cas9, para fazerem cortes precisos no ADN de outros organismos, incluindo plantas, animais e até mesmo seres humanos. Uma vez que o ADN é cortado, o organismo repara naturalmente o dano, permitindo aos cientistas introduzir novas sequências de ADN ou corrigir mutações genéticas específicas.
Nesta nova experiência, os investigadores concentraram-se em partes do vírus que se mantêm iguais em todas as variantes de VIH conhecidas, conseguindo atingir o seu ADN e remover todos os vestígios do vírus das células infetadas.
Uma vez que o VIH pode infetar diferentes tipos de células e tecidos do corpo, a equipa está à procura de uma forma eficaz de atacar o vírus onde quer que ele apareça e acredita estar no caminho certo, afirmando que “estas descobertas representam um avanço fundamental para a conceção de uma estratégia de cura”.
Apesar de os resultados deste estudo preliminar serem “encorajadores”, os investigadores ressalvam que “é prematuro declarar que existe uma cura funcional para o VIH no horizonte”.
O objetivo da equipa agora é desenvolver um sistema CRISPR-Cas robusto, seguro e eficaz, que permita criar uma terapia de largo espectro capaz de representar a “‘cura do VIH para todos'”, inativando “diversas variantes de VIH em vários contextos celulares”. Só depois é que se poderá pensar na realização de ensaios clínicos em humanos para a cura deste vírus.
O relatório “Infeção por VIH em Portugal -2023” revelou que, em 2022, Portugal registou 804 novos casos de infeção por VIH, confirmando uma tendência decrescente que se verifica desde 2000. O mesmo documento refere que a taxa de diagnóstico mais elevada situa-se no grupo dos 20 aos 39 anos, com 54,5% dos novos casos de infeção por VIH.
O mesmo relatório recordou ainda que, ao longo das últimas quatro décadas, foram notificados 66061 casos de infeção, dos quais 23637 atingiram o estádio SIDA e foram reportados 15779 óbitos em pessoas que viviam com VIH.
A tecnologia CRISPR-Cas9 foi reconhecida com o Prémio Nobel da Química em 2020. Emmanuelle Charpentier, microbiologista francesa, e Jennifer Doudna, bioquímica norte-americana, foram premiadas com pelo seu trabalho pioneiro no desenvolvimento da tecnologia CRISPR-Cas9, demonstrarando a sua aplicação como uma poderosa ferramenta de edição de genes, abrindo caminho para uma série de avanços na biotecnologia e na medicina.