“Temos de perceber que estamos num ambiente de normalidade social, portanto, não há nenhuma situação de alarme.” As palavras de Artur Paiva, diretor do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências a Antimicrobianos (PPCIRA) da Direção Geral da Saúde (DGS), à agência Lusa, vão no sentido de acalmar os ânimos depois de dois hospitais de Lisboa terem regressado ao uso de máscaras. Desde 1 de setembro que o Centro Hospitalar Lisboa Norte, que engloba os hospitais Santa Maria e Pulido Valente, voltou a impor o uso de máscara nos locais de internamento para profissionais de saúde e visitas.
“Não há nenhuma deteção de aumento do número de casos graves ou de hospitalizações devido à Covid-19 e, portanto, não há nenhuma razão para voltarmos ao uso generalizado da máscara”, no entanto, face a situações locais de aumento da incidência e de pessoas de especial fragilidade, o contacto deve ser feito com máscaras, argumentou.
A VISÃO sabe que outros hospitais de Lisboa estão a ponderar voltar à obrigatoriedade do uso de máscaras e que os dois maiores do Porto (São João e Santo António) não equacionam, para já, fazer o mesmo, dado que não têm doentes com Covid-19 internados.
De acordo com o médico intensivista, cada unidade de saúde tem a sua unidade local do PPCIRA e, por isso, a decisão do centro hospitalar “é perfeitamente normal”, no âmbito de “uma medida com sensatez associada à situação específica do hospital em causa”. Segundo a DGS, a abordagem à COVID-19 deve ter em conta “dois vetores essenciais”: a proteção dos mais frágeis e a responsabilização dos cidadãos, que devem adotar medidas de proteção em relação aos outros quando estão infetados.
Nesta altura, a doença está numa fase de transmissibilidade “um pouco maior” face à entrada de uma nova variante mais transmissível, mas sem aumento da gravidade dos casos, notou o médico.
E porque é que isto está a acontecer? A aglomeração de pessoas, como a que se verificou na Jornada Mundial da Juventude, nos festivais de verão e nas muitas festas locais, é uma das razões apontadas.
Não só “os eventos de massa”, refere Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, como as jornadas, os festivais de música ou as “festas do pôr do sol” contribuíram para um aumento de casos, mas também porque foi “introduzida uma sub-linhagem da Ómicron com maior transmissibilidade, a EG.5”. O médico diz que “as pessoas esqueceram-se do vírus e conviveram sem preocupação”.
De acordo com o último relatório da resposta sazonal em saúde – Vigilância e Monitorização da DGS há um aumento de novos casos notificados a sete dias de infeção por SARS-CoV-2 casos por 100 000 habitantes na semana 33 (31/07/2023 a 20/08/2023), mais 35% em relação à semana anterior. Os dados da DGS indicam que a 1 de agosto foram notificados 258 casos e, a dia 17, 633 infeções – recorde-se que já não é obrigatório os infetados ligarem para a linha Saúde24 a informarem que tiveram um teste positivo e que a monitorização de casos é feita através da rede sentinela e da rede laboratorial nacional, à semelhança do que acontece com a gripe.
Este aumento de casos, diz Tato Borges, está “dentro dos valores considerados aceitáveis”, mas não deixa de ser “um alerta” para “termos mais cuidado”.
Quanto ao uso generalizado de máscaras, o médico de Saúde Pública aponta que “essa é uma incógnita que vai aparecer todos os invernos”, mas é da opinião que “é pouco provável que isso aconteça”, no entanto, se aparecer uma variante nova “poderá ser preciso”.
Dado que no inverno circulam vários vírus respiratórios, “alguns hospitais poderão tomar essa medida” para proteger os utentes e profissionais.
O último documento da DGS refere ainda que, de acordo com as amostras laboratoriais analisadas, a sub-linhagem XBB da variante Ómicron, cuja circulação tem vindo a aumentar desde a semana um de 2023, tornou-se dominante na semana 10 de 2023, registando uma frequência relativa de 96,2 % nas semanas 31 a 33 de 2023 (31/07/2023 a 20/08/2023), em particular das sub-linhagens XBB.1.5, XBB.1.9 e XBB.1.16 (e descendentes). Destaca-se que a sublinhagem XBB.1.9 (em particular a sua descendente EG.5.1) registou um considerável aumento de frequência em Portugal, representando cerca de 50% das sequências analisadas nas últimas três semanas (semanas 31 a 33 de 2023).
Já em relação à infeção por SARS-CoV-2 a nível mundial, nos últimos 28 dias (24/07 a 20/08/2023), verificou-se um aumento de 63% no número de novos casos e continua a verificar-se tendência decrescente do número de óbitos (-48%), comparativamente com o período anterior, refere a DGS. Acrescenta ainda que, segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla inglesa) na semana 33/2023, há evidência de aumento da transmissão em mais de metade dos países da UE/EEE que comunicam dados, embora os níveis permaneçam baixos, com impacto limitado na doença grave.