Uma mulher de 20 anos, que nasceu com uma malformação congénita na orelha direita (era pequena e disforme), recebeu um implante impresso em 3D feito a partir de células auriculares dela própria. Este é mais um passo em frente no desenvolvimento de órgãos produzidos através da impressão tridimensional.
A paciente, que faz parte de um ensaio clínico com outras 11 pessoas, entre os 6 e os 25 anos com uma doença denominada microtia (nasceram com a orelha pequena), foi a primeira a receber o órgão fabricado pela 3DBio Therapeutics, uma empresa de medicina regenerativa de Queens, nos EUA.
A bioimpressão da orelha foi feita com o molde da orelha esquerda da mulher, para corresponder exatamente à mesma forma. A nova orelha, implantada em março, continua a regenerar o tecido cartilaginoso (tem uma consistência rígida e como função a sustentação de tecidos moles), dando-lhe a aparência de uma orelha natural, referiu a empresa em comunicado.
“É definitivamente um grande acontecimento”, disse, ao The New York Times, Adam Feinberg, professor de engenharia biomédica e ciência e engenharia de materiais da Carnegie Mellon University. “Isto mostra que esta tecnologia não é mais um ‘se’, mas um ‘quando’”.
A 3D Bio Therapeutics ainda não divulgou publicamente os pormenores técnicos de todo o processo, mas anunciou que os dados serão publicados numa revista médica quando o estudo estiver concluído.
O ensaio clínico ainda está a decorrer e é possível que possam ocorrer falhas ou complicações imprevistas noutros transplantes. No entanto, e como a orelha foi feita com células da própria paciente, o órgão não deverá ser rejeitado pelo corpo, segundo os médicos que acompanharam o processo, como acontece nos transplantes de pessoa para pessoa.
A empresa está apostada na continuação de estudos para ir mais longe. Com mais investigação, dizem, a tecnologia de bioimpressão 3D poderá ser usada para fazer outros órgão ou tecidos do corpo, como narizes, meniscos do joelho ou tecido reconstrutivo para lumpectomias (cirurgia para a extrair nódulos). A esperança é que, daqui a pouco tempo, possam ser impressos em 3D órgãos vitais muito mais complexos, como fígados, rins e pâncreas.
Arturo Bonilla, o cirurgião que implantou a orelha, referiu ao mesmo jornal que está “tão entusiasmado” com o que fez que, às vezes, tem de se “controlar um pouco”. “Se tudo correr como planeado, este procedimento vai ser revolucionário.”