A quarta dose da vacina contra a Covid-19 pode ajudar a restaurar os anticorpos para os níveis registados após a terceira dose, e que vão reduzindo com o tempo, no entanto não garante uma proteção superior contra o vírus contrariamente ao verificado entre a primeira e a segunda dose ou entre a segunda e a terceira, indica novo estudo.
Segundo a investigação, desenvolvida num hospital israelita e publicado esta semana, a terceira dose poderá corresponder aos níveis máximos de imunidade que podem ser obtidos com a vacinação.
O ensaio clínico, iniciado no final de 2021, contou com a participação de 274 profissionais de saúde que se sujeitaram a receber uma quarta dose da vacina com um mínimo de três meses de distância da terceira dose, sendo que 154 terão recebido a vacina Pfizer e os restantes Moderna. Existia ainda um terceiro grupo que não recebeu a quarta dose e ao qual foram comparados os dois grupos teste.
O fabricante da vacina parece ter-se provado uma variável irrelevante dado que ambos os grupos tiveram respostas semelhantes e registaram níveis de anticorpos “ligeiramente superiores” aos verificados após a terceira dose. Ainda assim, e de acordo com o estudo, pode existir um limite de imunidade atingido na terceira dose e as doses seguintes serão apenas formas de o restaurar. “Não podemos continuar a elevar os níveis de anticorpos para sempre”, disse Miles Davenport, imunologista computacional da Universidade de New South Wales, em Sydney, Austrália em resposta à Nature.
A variante Ómicron
A equipa procurou também compreender concretamente a forma como a variante Ómicron reagia à quarta e à terceira dose, tendo concluído que a quarta dose pode não ser eficaz na prevenção de infeções contra a variante Omicron.
Os dados eram indicativos de que a terceira dose conseguia bloquear a variante Omicron, mas não tão eficazmente como o fazia com a Delta. A quarta dose, por sua vez, permitiu aumentar ligeiramente a capacidade de defesa contra a Omicron, mas também o fazia com a Delta, e em níveis proporcionais.
Os autores do estudo concluíram que, de facto, existia um ligeiro aumento nos níveis de anticorpos após a quarta dose, mas não significativos o suficiente para se traduzirem num aumento relevante da imunidade. Os dados indicavam que quatro doses da Pfizer conseguiam proteger até 30% mais do que três doses e quatro doses da Moderna até 11% mais.
Por outro lado, e segundo a Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido, com apenas a terceira dose da Pfizer e Moderna, a imunidade contra a variante Omicron é restaurada de 60% a 75% com perspetivas de reduzir entre 30% a 40% após 15 semanas. Esta percentagem de anticorpos é semelhante ou equivalente àquela que a quarta dose restaura indo, desta forma, de encontro à ideia de que esta dose de reforço não aumenta os níveis de proteção, mas antes restabelece.
“Apesar do aumento dos níveis de anticorpos, a quarta vacina oferece apenas uma defesa parcial contra o vírus”, disse o Dr. Gili Regev-Yochay, diretor da unidade de doenças infeciosas do hospital israelita que desenvolveu o estudo.
Da totalidade de participantes que receberam a quarta dose da vacina, 52 testaram positivo e do grupo de controlo (que não recebeu a quarta dose) testaram positivo 73 pessoas. A maioria das infeções por COVID-19 foram leves e nenhum dos participantes, seja de um grupo ou do outro, apresentou uma infeção grave. As diferenças pouco significativas entre os grupos que receberam a quarta dose e os que não receberam pode estar ligada ao facto de a proteção oferecida pela terceira dose já ser, por si só, “bastante elevada”, explica Davenport.
Quarta dose pode ser benéfica
Apesar dos resultados apresentados, a quarta dose pode ser benéfica para grupos de risco uma vez que permite uma restauração da imunidade. O Centro Médico Sheba, o hospital que desenvolveu o estudo em causa, publicou um comunicado apelando à “continuação da campanha de vacinação para grupos de risco neste momento, mesmo que a vacina não forneça proteção ideal contra a infeção com a variante”, de acordo com o The Times of Israel.
O estudo permite também repensar algumas questões ligadas ao sistema de vacinação nomeadamente, se será preciso desenvolver novas vacinas para combater uma dada variante em concreto ou qual será o intervalo de tempo ideal entre doses, explica, em resposta à Nature, o virologista do Christian Medical College em Vellore, na Índia, Gagandeep Kang.
O estudo realizado é significativamente mais pequeno do que outros estudos dedicados a testar a eficácia de um dado medicamento e que envolvem, normalmente, um número consideravelmente superior de voluntários e um intervalo de tempo de vários meses, podendo, por isso, criar uma margem maior de erro nos resultados. Ainda assim, o estudo foi o primeiro a focar-se na eficácia de uma quarta dose de vacina contra a COVID-19.
Segundo o The Times of Israel, a pesquisa foi desenvolvida em conjunto com o Ministério da Saúde do país e aprovado pelo painel sénior do governo para testes médicos em humanos. Em Israel, assim como em outros países, já está disponível a quarta dose apesar dos apelos da Organização Mundial de Saúde aos governos para adiarem as doses de reforço no seu país, de forma a disponibilizá-las a quem ainda não teve acesso à vacina.