Falta de força de um braço, boca ao lado e dificuldade em falar – são estes, quando surgem de forma súbita, os principais sinais de alerta de um AVC (acidente vascular cerebral), explica o neurologista Vítor Oliveira, lembrando que no tratamento deste problema “o fator tempo é fundamental”.
“A cada minuto de atraso morrem milhares de neurónios”, acrescenta. Segundo o especialista da Sociedade Portuguesa de Neurologia, perante o aparecimento nem que seja só de um destes sintomas, deve-se ligar imediatamente para o 112. O neurologista esclarece que os sintomas são muitos, podendo variar até consoante o tipo de AVC que se sofre. “O AVC pode ocorrer tipicamente de uma de duas situações: a oclusão de um vaso, o que provoca um AVC isquémico, em que ocorre a destruição (morte) de uma área do tecido cerebral, ou a rotura de um vaso, o que provoca o derrame de sangue pelo tecido vizinho (hematoma) ou pelo espaço envolvente. O médico elegeu os sinais mais alarmantes.
1. DOR DE CABEÇA INTENSA
Uma forte dor de cabeça pode ser um dos sintomas. “É mais frequente nos derrames ou nas hemorragias cerebrais, porque a rotura de um vaso sanguíneo vai provocar um hematoma que ocupa espaço e que, assim, deforma o tecido cerebral”, explica o neurologista Vítor Oliveira, acrescentando que, no caso “em que o sangue passa para as meninges, o próprio sangue provoca nelas um processo inflamatório e daí surge a dor”.
2. FALTA DE FORÇA DE UM LADO DO CORPO
A falta de força ocorre na metade do corpo do lado oposto da zona do cérebro afetada, começa por explicar o neurologista, esclarecendo que tal “resulta da lesão das fibras nervosas (área motora) que conduzem a informação aos músculos para se contraírem”. Segundo o médico, a razão que leva a que seja do lado oposto resulta do facto de “haver um cruzamento dessas fibras no bulbo” – parte inferior do tronco cerebral. O médico aproveita para recordar que “podem ocorrer variadas manifestações de AVC sem serem a falta de força”. Tudo depende, diz, “da área do sistema nervoso onde ocorra o AVC”.
3. BOCA TORTA
É um dos sinais mais conhecidos do AVC. “Deve-se à paralisia dos músculos que controlam os movimentos à volta da boca (peribucais) e recebem informações através dos nervos motores, como o resto do corpo afetado”, diz o neurologista. Muitas vezes, circula também a ideia de que a sobrancelha fica caída, mas o médico garante que esta não é afetada num AVC.
4. FALA EMBOLADA
A fala dificultada é, sem dúvida, um dos sintomas mais usuais. “A alteração da fala pode ou não ocorrer, depende da localização e da extensão do AVC”, sublinha Vítor Oliveira. De acordo com o médico, é preciso “distinguir entre a dificuldade em articular as palavras (disartria) e a dificuldade em encontrar as palavras ou em compreender o que os outros dizem (afasia). “As afasias só ocorrem em lesões que atinjam as áreas da linguagem, as quais se situam no hemisfério esquerdo” do cérebro, detalha o médico.
5. PERDA DE SENSIBILIDADE
A perda de sensibilidade ocorre pelo mesmo mecanismo da falta de força. “A diferença está em que na alteração da sensibilidade há lesão das áreas sensitivas, enquanto na falta de força há lesão das áreas motoras”, nota.
6. ALTERAÇÃO DA VISÃO
No AVC, algumas lesões podem afetar a visão. “As lesões cerebrais mais posteriores (conhecidas como occipitais) podem provocar ausência de visão em metade do campo visual do lado oposto em ambos os olhos (hemianopsia)”, indica Vítor Oliveira. Há ainda outras possíveis consequências: “Outras das alterações de visão num AVC podem ser a visão dupla ou com imagens encavalitadas”, diz, explicando que isso “resulta da perturbação da coordenação dos movimentos oculares (diplopia)”. Estas situações ocorrem principalmente, acrescenta, nos AVC do tronco cerebral.
7. DIFICULDADE EM SEGURAR OBJETOS
Nos AVC, a forma como os neurónios são afetados depende do tipo e da gravidade do mesmo
Nos casos em que há diminuição da força, “há sempre o risco de não se conseguir segurar os objetos”, nota o especialista, sublinhando que, porém, tudo “depende do peso do objeto e do grau de compromisso da força”.
8. DIFICULDADE EM MOVIMENTAR-SE
Nos AVC, há muitas vezes dificuldade em movimentar o corpo. “Tipicamente num AVC com défice motor, a pessoa pode ter menos força no membro inferior”, o que, segundo o médico, pode até potenciar o risco “de esta tropeçar e de cair com facilidade”. Alguns casos podem ser ainda mais preocupantes: “Se a situação for mais grave, o doente pode mesmo não conseguir mover os membros do lado afetado e não conseguir estar de pé.”
9 PERTURBAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA
Nos casos mais graves, pode ocorrer o que se chama “perturbação do estado de consciência”. Vítor Oliveira refere que se pode mesmo “chegar ao estado de coma, o que é um sinal de gravidade e consequente risco de vida”.
10. FALHAS NA MEMÓRIA
Dependendo da zona do cérebro, a memória pode ser afetada. “As perturbações de memória podem ocorrer nos AVC que atinjam as áreas cerebrais que processam a memória”, ou seja não ocorrem em todos os AVC nem são exclusivos destes. “Os estados confusionais podem ocorrer em múltiplas situações.”
11. NÁUSEAS E VÓMITOS
Quando os AVC são mais extensos e mais graves, podem ocorrer náuseas e vómitos. Mas grande parte dos AVC, sobretudo os isquémicos, não apresenta estes sintomas.
Três perguntas que podem salvar uma vida
Segundo o grupo Portugal AVC, há três aspetos que ajudam na identificação de um AVC
Fala: Pedir à pessoa que diga uma frase. Foi capaz de dizer a frase e com as palavras claramente pronunciadas?
Face: Pedir para sorrir. A pessoa fica com a boca simétrica ou, de um lado, não a mexe tão bem, ficando com a boca torta?
Força nos membros: Pedir que a pessoa levante os braços. Foi capaz de levantá-los e de mantê-los esticados para a frente de forma igual ou um tem tende a cair?