A privação de sono é um problema grave que pode afetar a saúde física e mental. Os problemas de sono afetam a saúde e a qualidade de vida de “até 45% da população mundial”, de acordo com estatísticas do Dia Mundial do Sono.
Um estudo, publicado no início deste mês, revelou que pôr o sono em dia não é assim tão fácil como se imagina, mesmo para pessoas mais jovens. Treze participantes com cerca de 20 anos, que dormiram 30% menos do que o necessário para obter um sono revigorante, durante 10 noites consecutivas, não recuperaram totalmente a função cognitiva após sete noites de sono sem qualquer restrição.
O desempenho dos participantes em termos de processamento de informações cognitivas foi avaliado diariamente, tendo de decidir se o nome da cor da tinta coincidia com a tinta em que a palavra estava escrita (condições congruentes) ou não (condições incongruentes). Assim, a tarefa mais automática (ler a palavra) interferia na tarefa menos automática (identificar a cor da tinta) e demonstrava a dificuldade em inibir um processo mais automático.
“Os tempos de reação melhoraram ao longo de sete dias e voltaram aos níveis normais, enquanto tarefas cognitivas, incluindo a precisão, não recuperaram completamente”, disse Bhanu Prakash Kolla, um especialista em medicina do sono da Clínica Mayo, nos EUA, à CNN.
Através da investigação tornou-se claro que a privação de sono afeta a memória e a velocidade de raciocínio e que restaurar estas funções não é da noite para o dia.
“A privação de sono prejudica o funcionamento neurocomportamental, produzindo défices no estado de alerta, atenção, memória e funções executivas – resolver problemas e tomar decisões”, pode ler-se no estudo.
Uma outra investigação, de 2003, verificou que pessoas que dormiram menos de seis horas por noite durante duas semanas obtiveram resultados a testes cognitivos e de reflexos tão negativos, quanto pessoas que foram privadas de qualquer sono por duas noites inteiras. Estas perturbações ocorrem porque o cérebro precisa de ciclos de sono contínuos para assimilar novos conhecimentos, formar memórias-chave, reparar o corpo do desgaste do dia e, até, restaurar as células.
Ficar acordado durante pelo menos 18 horas pode prejudicar a condução, tanto como se conduzisse embriagado e tivesse uma concentração de álcool no sangue de 0,05%, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. O valor equivaleria a 0,10% se ficar acordado por pelo menos 24 horas.
Em 2017, um outro estudo descobriu que adultos saudáveis de meia-idade que dormiram mal, apenas uma noite, produziram elevados níveis da proteína beta-amilóide, associada ao Alzheimer.
De acordo com um inquérito realizado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em 2019, 46% dos portugueses questionados dorme menos de seis horas. Dormir pouco ou mal é considerado pelo CDC como um “problema de saúde pública” e está associado a um maior risco de doenças, incluindo pressão alta, enfraquecimento do sistema imunitário, aumento de peso, falta de libido, alterações de humor, paranóia, depressão e um risco maior de diabetes, derrame, doença cardiovascular, demência e alguns tipos de cancro.
Não fumar, consumir pouco álcool, ter uma dieta equilibrada, praticar exercício regularmente, permanecer mentalmente ativo e manter a pressão arterial e os níveis de colesterol sob controlo são formas de melhorar a qualidade do sono.