A Covid-19 já tinha sido relacionada com a possibilidade de se desenvolver problemas nos rins. Agora, um estudo publicado no Journal of the American Society of Nephrology mostrou como nos casos em que os sintomas persistem depois da infeção, conhecido como Covid de longa duração, os problemas nos rins podem durar vários meses, durante a recuperação à Covid-19. Além disso, podem surgir problemas vitalícios, como a redução da função renal, afirma o estudo.
O estudo teve uma amostra bastante ampla, sendo a maior investigação realizada até agora no que diz respeito aos problemas renais relacionados com a Covid-19. Os investigadores analisaram dados de 89216 de veteranos dos EUA, presentes no sistema de saúde do Departamento de Assuntos dos Veteranos, que testaram positivo à Covid-19 entre 1 de março de 2020 e 15 de março de 2021, e que teriam apresentado sintomas da infeção durante mais de 30 dias. Depois, compararam com dados de 1,637,467 pessoas que nunca contraíram Covid-19.
Os cientistas chegaram à conclusão que mesmo os recuperados que não precisaram de ser hospitalizados têm um maior risco de desenvolver problemas nos rins do que as pessoas que nunca tiveram Covid-19. No entanto, também notaram que, quanto mais severa tivesse sido a infeção por SARS-CoV-2, mais grave era o declínio na função renal.
Na conclusão do estudo é possível ver que 5% dos recuperados de Covid de longa duração tiveram uma queda de 30% na sua função renal, conhecida como taxa de filtração glomerular estimada (TFG, que avalia como os rins estão a filtrar os resíduos tóxicos do sangue). No geral, quem sofreu de Covid de longa duração era 25% mais provável de desenvolver um declínio de TFG do que quem nunca tivesse sido infetado, sendo que quanto maior a gravidade da Covid-19, maior era o risco.
Foi ainda mostrado que quem tinha tido Covid-19 tinha 44% maior probabilidade de perder 40% da função renal e era 62% mais provável de perder 50% desta função, do que quem nunca tinha estado infetado. O declínio da função renal é uma condição habitual que advém do avanço da idade, mas nos recuperados de Covid de longa duração este declínio “foi em excesso”, escreve num comunicado Ziyad Al-Aly, co-autor do estudo, nefrologista e professor assistente de medicina na Washington University School of Medicine, em St. Louis, Missouri.
Quando é perdida cerca de 86% da função renal, esta é considerada a fase final da doença renal. Segundo Al-Aly, este nível de declínio foi encontrado em 220 recuperados à Covid-19. Quem teve a infeção era três vezes mais provável de receber este diagnóstico do que doentes que não ficaram infetados.
“Os nossos resultados enfatizam a importância critica de prestar atenção à função e doenças renais no tratamento de doentes que tenham tido Covid-19. É bastante importante que as pessoas percebam que existe este risco e que os médicos que tratam os doentes no pós Covid prestem realmente atenção à função e às doenças renais”, acrescentou.
Os cientistas analisaram ainda a insuficiência renal aguda e deram conta de que 2812 recuperados à Covid-19 apresentavam esta doença, o dobro relativamente às pessoas que não tiveram a infeção.
O estudo admite algumas limitações que podem condicionar a comparação que é feita entre os recuperaram da Covid-19 e as pessoas que nunca tiveram a infeção: caraterísticas demográficas, condições de saúde pré-existentes, uso de medicação e se tinham estado em lares de idosos, por exemplo. Ainda assim, dizem os investigadores, tentou-se, na análise, minimizar o impacto que estas condições poderiam ter. Também o facto de apenas terem sido analisado homens caucasianos, com uma média de 68 anos, é apontado como uma limitação.