Um novo estudo, realizado por investigadores da Universidade Rutgers, em New Jersey, EUA, concluiu que o exercício físico pode ser ainda mais benéfico do que se pensava, para o cérebro, conforme se vai envelhecendo . A investigação, que pretendia perceber o que acontecia no cérebro dos mais velhos com o exercício físico, deu conta de que a sua memória pode ser melhorada depois da realização de certas atividades aeróbicas regulares.
Já é sabido que a atividade física contínua ajuda a atrasar a perda normal de volume cerebral que acontece com o envelhecimento, o que pode ajudar a prevenir a perda de memória e, até, a reduzir o risco de demência nos mais velhos.
Várias investigações têm mostrado, aliás, ao longo do tempo, a importância do exerício físico. Um estudo realizado pela Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados Unidos, demonstrou, em 2019, que sessões curtas mas intensas de exercício físico estão diretamente relacionadas com a eficácia da função do cérebro ligada à aprendizagem e à memória. Nesse mesmo ano, os cientistas David A. Raichlen e Gene E. Alexander, que dedicaram alguns anos a tentar perceber como é que o exercício afeta o cérebro, partilharam as suas conclusões num artigo publicado na revista New Scientist.
Nesse artigo, realizado a partir de um estudo muito extenso, explicaram que “é possível criar exercícios específicos que aumentem a cognição à medida que envelhecemos” e que “o exercício parece ser tanto uma atividade cognitiva quanto física”.
Este novo estudo, publicado na revista científica Neurobiology of Learning and Memory, corrobora estas ideias e conclui que o exercício físico pode mudar, até, a forma como partes cruciais do cérebro se comunicam, à medida que as pessoas envelhecem, melhorar alguns aspetos do pensamento e também da memória. A equipa, liderada por Mark Gluck, professor de neurociência, deu especial atenção aos lobos temporais, estruturas responsáveis, entre outras funções, pela “coordenação” da memória, que contêm o hipocampo. O seu funcionamento começa, normalmente, a falhar com a idade, mas os investigadores tentaram perceber precisamente se o exercício poderia alterar esse “destino”.
Para a realização do estudo, a equipa recrutou vários voluntários afro-americanos mais velhos e sedentários, a maioria deles na casa dos 60. A todos foram realizados testes de condicionamento físico e saúde no geral, assim como testes cognitivos. Todos tinham funções semelhantes de aptidão e memória no início da investigação.
Uma parte dos voluntários começou, então, a realizar exercício físico regular – aulas de ginástica aeróbica de uma hora duas vezes por semana, durante 20 semanas -, enquanto a outra permaneceu sedentária, como grupo de controlo. Analisando os resultados a partir de técnicas neuroimagiologia, os investigadores perceberam que se notavam diferenças subtis no cérebro dos praticantes de exercício: neste grupo, as imagens mostraram uma atividade mais sincronizada em todos os lobos temporais, fazendo com que os cérebros deste grupo “reorganizassem de forma mais flexível as suas conexões”, o que não acontecia no grupo sedentário.
Essas mudanças mostraram, também, uma alteração no pensamento e memória dos voluntários: relativamente ao grupo que fez exercício físico, este teve um melhor desempenho do que no início do estudo num teste de capacidade de aprender e reter informações e aplicá-las de forma lógica em novas situações.
Apesar das conclusões interessantes, este estudo incluiu na sua análise uma amostra muito reduzida, ou seja, serão necessários mais estudos que comprovem esta maior “flexibilidade” das conexões cerebrais em pessoas mias velhas e praticantes de exercício físico.