O mais recente relatório do Gabinete Nacional de Estatística do Reino Unido faz disparar valores interessantes, nomeadamente no que diz respeito à bissexualidade.
O números
– 1.7% dos habitantes do Reino Unido em 2015 responderam ser Lésbicas, Gays ou Bissexuais (LGB)
– 45% de crescimento do número de jovens que se identificam como bissexuais nos últimos três anos
– 0.8 % de Mulheres que se identificam como bissexuais
– 0.7 % de Mulheres que se identificam como lésbicas
– 0.5 % de Homens que se identificam como bissexuais
– 1.6 % de Homens que se identificam como gays
– 3.3 % da população entre os 16 e os 24 anos identificam-se como LGB (a maior percentagem de entre os cinco grupos etários estudados em 2015 e quase o triplo do valor total da população inglesa)
– 68.2% de probabilidades de a população LGB estar solteira ou nunca ter casado
O seja, a maior percentagem de respostas assumindo uma sexualidade LGB está entre os jovens (dos 16 aos 24 anos) e, pela primeira vez na história, o número de jovens que reportou ser bissexual (1.8%) excedeu o número de jovens homossexuais (1.5%).
É importante destacar que estes dados encaixam com outros estudos ingleses e norte-americanos em que as mulheres tendem a identificar-se de forma crescente com a bissexualidade e os homens mais do que em anos anteriores com a homossexualidade, aquando da comparação entre sexos.
As razões
Numa sociedade ainda muito marcada pelos valores binários do homem vs mulher e do homossexual vs heterossexual, é útil tentar perceber o que é que explica esta tendência. Não deixa de ser também útil ressalvar que há sempre a possibilidade de as coisas não terem, na prática, mudado assim tanto, e que as pessoas passaram, simplesmente, a ter mais facilidade em falar e assumir, nomeadamente em estudos como este.
A sexualidade feminina foi sempre demonizada e negada. Para uma mulher ser algo que não hétero sempre pôde considerar-se ultrajante e um verdadeiro desafio para as estruturas patriarcais. Além disso, os estudos também provam que elas têm relações mais fluídas, o que significa que “o balanço entre as suas atrações hétero e homossexuais está em constante mudança”, como explica o Bisexual.org, um projeto do The American Institute of Bisexuality (AIB) em parceria com a Bisexual Foundation.
Há, claro, muitos fatores que podem explicar esta realidade, nomeadamente as evoluções jurídicas que temos vindo a testemunhar por todo o mundo. Isto não invalida, claro, a existência de ainda uma quantidade considerável de crimes de ódio contra as minorias sexuais, tanto lá como cá .
Em paralelo, o que se verifica é uma “desradicalização” dos movimentos LGB que, nos anos 70 e 80 foram inspirados nos movimentos de Direitos Civis americanos e eram muito firmes na sua luta. O que acontece no Reino Unido é uma perda progressiva da carga política que neste momento parece ter-se diluido relativamente aos temas da igualdade e do reconhecimento, focando-se mais em entrar nas instituições tardicionais, como o casamento.
Tudo isto se está a passar em sintonia com a explosão do pensamento e ideias queer e o crescimento dos movimentos trans podem justificar o fim de alguns muros nas cabeças dos jovens. Quanto aos exemplos de bisexuais assumidos, que dão sempre força ao movimento, podemos falar de muitos casos: Malcolm Forbes, Daniela Mercury, John Maynard Keynes, Lindsay Lohan, Marilyn Monroe, David Bowie, Marlon Brando, Lady Gaga, Oscar Wilde, Megan Fox , Frida Kahlo ou Angelina Jolie.
Põe-se ainda a possibilidade, numa visão bastante pessimista, de poder ser mais bem visto ser bissexual. Uma vez que a bissexualidade tem uma relação mais próxima e “amigável” com a heterossexualidade, muita gente, sobretudo as mulheres e os mais jovens, pode preferir assumir-se como bi. Pesoas que, influenciadas por valores rígidos, alteram atitudes e orientações por considerarem que o impacto e o investimento exigido era muito maior se se assumissem como gays.
Outro dado curioso: o número de pessoas que reporta ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo é muito maior do que o número de pessoas que se diz homossexual ou bissexual.
Seja como for, há duas ideias cada vez mais claras para os jovens de hoje: é natural questionar a orientação sexual e não tem mal nenhum se não formos da maioria. E ser gay ou bissexual tem uma carga de preconceito e estigma muito menor do que tinha no tempo dos seus pais e avós.