E se o óleo usado nas nossas cozinhas, nos restaurantes e nos refeitórios servisse de combustível? Isso já acontece: há empresas em Portugal a recolher os óleos alimentares e a transformá-los em biocombustível, para incorporar na gasolina e no gasóleo, evitando assim que vão parar a cursos de água e reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa.
Os biocombustíveis feitos a partir de resíduos são o futuro do caminho da descarbonização, diz Ana Calhôa, secretária-geral da Associação de Bioenergia Avançada, na Conversa Verde desta semana. “Representa reduções substanciais de emissões de gases com efeito de estufa. Quando falamos de biocombustíveis de resíduos, reduzimos as emissões em pelo menos 83% em comparação com os combustíveis fósseis. E permite o reaproveitamento de resíduos e o investimento é muito reduzido, quando comparado com outras fontes energéticas.”
Mas o primeiro passo para aproveitar o óleo usado, evitando a sua libertação na natureza, está do lado dos consumidores. “A maior parte das pessoas ainda manda o óleo pelo ralo abaixo, e isso provoca uma poluição ambiental gigante. Umas não sabem o que fazer ao óleo, porque a mensagem não passou, mas outras não têm onde colocar o óleo”, lamenta. Atualmente, são produzidas 150 mil toneladas de óleos alimentares usados, mas só 43 mil acabam por ser recolhidos e valorizados.
É por isso fundamental investir na educação (“e não só de jovens, também de adultos”) e no aumento de centros de recolha – oleões. “A recolha é muito importante. Os números mostram que recuperamos apenas 40 por cento. Os municípios deviam ajudar mais, para termos recolhedores mais acessíveis, como temos hoje para o plástico, para o papel… Os oleões deviam ser obrigatórios.”
Ana Calhôa garante que os biocombustíveis produzidos a partir de resíduos (e que incluem também margarinas e molhos fora de prazo) são mais sustentáveis do que os “tradicionais”, feitos, por exemplo, com cana de açúcar – um dos problemas dos biocombustíveis é roubarem espaço agrícola ou, no limite, fomentarem a desflorestação, para criar mais área de produção. “Os biocombustíveis de resíduos conseguem contribuir para uma transição energética mais sustentável. Estamos a promover a economia circular.”
A bioenergia avançada permite ainda reduzir a dependência energética, ao substituir parte do petróleo. “Quando abastecemos o nosso carro, 7% é biocombustível e o restante de combustível fóssil.” Além disso, acrescenta, “não vai encarecer a descarbonização dos transportes, pelo contrário”. “De todas as soluções, esta é a economicamente mais viável.”
Para ouvir em Podcast: