Já imaginou um futuro onde respirar ar puro seja um luxo? É sabido que a queima de combustíveis fósseis associadas ao tráfego automóvel, a algumas formas de produção de energia e outras atividades humanas estão a envenenar a atmosfera. Em Portugal, as emissões de dióxido de azoto (NO₂) e partículas finas (PM₂.₅ e PM₁₀) colocam cidades como Lisboa e Porto perigosamente próximas – ou mesmo acima – dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estas partículas podem danificar os pulmões, mas os seus impactos vão muito além, afetando outros órgãos e contribuindo para problemas cardiovasculares e doenças crónicas.
À medida que o planeta aquece, também a química da atmosfera muda. O aquecimento global promove a formação de poluentes secundários, como o ozono troposférico, enquanto fenómenos extremos, como incêndios florestais, libertam partículas que deterioram ainda mais a qualidade do ar. Os incêndios de 2017, por exemplo, deixaram várias cidades portuguesas sob níveis alarmantes de poluição, uma antecipação de uma realidade onde alterações climáticas e poluição atmosférica se agravam mutuamente.
Porém, o impacto não é igual para todos. Comunidades próximas de vias de tráfego intenso ou zonas industriais enfrentam maior exposição, com consequências mais severas na saúde. Ao mesmo tempo, a ausência de espaços verdes em muitas áreas urbanas agrava ainda mais este problema. Por vezes somos levados a crer que a qualidade do nosso ar não nos afetará como sabemos que ocorre, por exemplo, na China e na Índia, mas, como as próximas imagens mostram, o NO₂, por exemplo, chegar a ter nas grandes cidades da Península Ibérica concentrações preocupantes deste gás poluente.
Apesar deste cenário, há esperança. Portugal tem dado passos importantes, como a promoção de veículos elétricos, o incentivo ao transporte público e a implementação de zonas de baixas emissões. No entanto, estas ações precisam de ser reforçadas e complementadas com estratégias mais ambiciosas. O futuro das nossas cidades passa por um planeamento urbano inteligente, que integre mais espaços verdes, melhore a mobilidade sustentável e implemente sistemas de monitorização contínua da qualidade do ar.
No contexto europeu, ferramentas como o Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS) já permitem monitorizar a poluição em tempo real e prever picos de poluição, protegendo as populações mais vulneráveis. Portugal pode e deve aproveitar estas ferramentas para desenvolver soluções adaptadas às nossas necessidades, como prever picos de poluição e proteger as populações mais vulneráveis.
Respirar é essencial, mas garantir ar limpo exige escolhas conscientes e políticas robustas. Não se trata apenas de avanços tecnológicos, mas de um compromisso geracional. Imagine cidades com parques verdejantes, transportes limpos e ar puro. Esse futuro é possível, mas depende das ações de hoje. Prefira transportes sustentáveis, apoie políticas ambientais mais sustentáveis e incentive a utilização dos dados resultantes de iniciativas como o CAMS por parte de quem decide e monitoriza o ambiente em que vivemos. O ar que respiramos molda o futuro – sejamos a geração que escolheu respirar, não apenas sobreviver.