Quando o automóvel se vulgarizou no início do século XX, para além de outras vantagens, era considerado uma opção bastante mais higiénica para a mobilidade urbana do que as carruagens puxadas por cavalos, uma vez que não pejava as ruas de excrementos. Um cavalo produz cerca de dez quilos de fezes por dia – e em cidades como Nova Iorque havia mais de cem mil cavalos. À época, a poluição oriunda dos cavalos era (bem) visível, já a dos carros não. Hoje, cem anos depois, sabemos que o uso dos automóveis tem consequências que na altura se desconheciam.
Com o plástico passa-se o mesmo tipo de fenómeno: quando o seu uso se massificou na década de 1950, não se anteviam os impactes que este novo material poderia ter no ambiente e na saúde humana. A massificação do seu uso – na alimentação, no vestuário, no mobiliário, nos transportes e na saúde – era vista como um progresso. O plástico era prático, leve, barato, versátil e, sobretudo, muito útil. Como refere o Pacto Português para os Plásticos, também graças a ele, disfrutamos hoje de um nível de vida impensável há poucas décadas. Porém, e apesar das vantagens que apresenta, sabemos hoje que a escala e o modo linear ou descartável com que tem sido usado nos coloca sérios problemas.
Desde a década de 1950, produziram-se mais de 9 mil milhões de toneladas de plásticos – sendo que menos de 10% foram reciclados. Segundo as Nações Unidas e a National Geographic, produzem-se anualmente 400 milhões de toneladas de plásticos e há mais de 50 biliões de microplásticos nos oceanos – ou seja, 500 vezes mais do que estrelas na nossa galáxia (a Via Láctea). E como a produção de bens poderá triplicar até 2050, o problema só irá agravar-se, desde logo porque os plásticos demoram mais de 500 anos a decompor-se.
Mais de metade dos plásticos são desenhados e produzidos para uso único, ou seja, para descarte imediato. Para se ter uma ideia de escala, por minuto, é vendido um milhão de garrafas de plástico, todos os anos são utilizados 5 biliões de sacos de plástico de uso único e só nos Estados Unidos são deitadas fora mil milhões de escovas de dentes de plástico por ano. Não será, assim, de estranhar que o que começou por ser uma ilha de plásticos e microplásticos a flutuar no Pacífico já seja um continente, com o perímetro de Portugal, Espanha e França juntos.
Os impactes ambientais dos plásticos são diversos, fazendo-se sentir sobretudo nos ecossistemas, nos solos, na atmosfera (ao serem queimados em aterros) e, claro, na nossa saúde. No que diz respeito à penetração de microplásticos nas nossas cadeias alimentares, estima-se que atualmente ingerimos em média o equivalente a um cartão de crédito (5 gramas) por semana.
É verdade que, uma vez calculada a pegada ecológica, para certos fins o plástico continua a ser melhor solução do que os materiais alternativos. Porém, mesmo nesses casos, tal não impede que seja usado com muito mais frugalidade e circularidade. Sem uma economia global circular (atualmente, é apenas 8,6% circular), isto é, que imite a natureza, onde não há descarte, nem desperdício, será impossível alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, o Acordo de Paris sobre o clima e o Pacto Ecológico Europeu.
Neste momento, dada a escala do desafio, e ainda que já tenham sido dados os primeiros passos nesse sentido, urge uma regulação mundial do uso dos plásticos. Na década de 1980, o mundo apercebeu-se das consequências dos CFCs e outros químicos para a camada de ozono (fundamental para nos proteger dos raios ultravioleta) e agiu – banindo-os, através de um protocolo assinado por todos os países. Assim, desde 2000, o buraco já está a diminuir. Mais recentemente, em 2015, foram as emissões de gases com efeito de estufa que foram objeto do Acordo de Paris, também assinado por todos os países. Pois urge agora um acordo mundial para os plásticos – não no sentido de os banir, mas de disciplinar o seu uso. No que toca a Portugal, um bom primeiro passo seria o lançamento de um novo Plano de Ação para a Economia Circular – a União Europeia já o fez em 2020.