Ao longo de vários anos, a China tem feito todos os esforços para conservar o habitat dos pandas gigantes, icónicos animais do país, e uma das espécies mais ameaçadas. No entanto, de acordo com um novo estudo, as medidas de conservação não conseguiram impedir o declínio de outras espécies carnívoras da região que partilham o habitat com os grandes mamíferos.
O estudo foi realizado por um conjunto de especialistas da China e dos Estados Unidos, e publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution. De modo a analisar como o sucesso da conservação do panda gigante teve impacto nas restantes espécies que partilham a mesma área geográfica, os cientistas estudaram as condições e alterações na distribuição de quatro espécies carnívoras: o leopardo, o leopardo-das-neves, o lobo e o cão-selvagem-asiático.
Os pandas são conhecidos na China como uma espécie de “guarda-chuva”. Isto significa que os peritos acreditam que medidas adotadas para proteger o panda gigante poderiam contribuir, também, para a proteção das demais espécies. Posto isto, verificaram-se, realmente, resultados positivos nas proteção das pequenas espécies de carnívoros. No entanto, no caso dos grandes carnívoros, a mesma situação não se verificou.
A principal razão pela qual as reservas criadas para os pandas não conseguiram proteger, também, as quatro espécies de carnívoros, prende-se com o facto de estes precisarem de um espaço 20 vezes maior para necessidades básicas, como passear e caçar. Para além disso, os carnívoros são mais afetados pela atividade humana, e são presas fáceis no seu habitat. Estes aspetos contribuem para o aumento da exposição destes animais à prática de caça ilegal, o que aumenta substancialmente o risco de ameaça. De acordo com o estudo “esses diferentes requisitos e ameaças de habitat impediram o panda gigante de ser uma espécie de ‘guarda-chuva’, eficaz para a proteção de grandes carnívoros, sugerindo que é necessário um planeamento específico para conservar as grandes espécies de carnívoros”.
Através de diversas pesquisas, os especialistas descobriram que o leopardo, o leopardo-das-neves, o lobo e o cão-selvagem-asiático têm desaparecido de muitas das reservas dedicadas aos pandas desde os anos 60. Esta conclusão foi retirada com base em fotografias captadas entre 2008 e 2018 por cerca de 8 mil câmaras de deteção de movimento instaladas nas regiões montanhosas do centro da China. O leopardo perdeu 81% do seu espaço, o leopardo-das-neves 38%, o lobo 77% e o cão-selvagem-asiático 95%.
De modo a contornar a situação e proteger devidamente as demais espécies, os responsáveis pela conservação dos habitats devem apostar numa aplicação de medidas não se foque apenas no panda gigante. No estudo, os especialistas sugerem a adoção de planos para abordar questões próprias de cada montanha da região, restauração dos habitats, fiscalização contra a caça furtiva, limitação do número de animais e melhor gestão dos conflitos entre seres humanos e animais selvagens.