Que a temperatura do ar e dos oceanos aumentou, nos últimos anos, já todos sabemos. O que pode ser novidade é o facto de o sexo de uma tartaruga depender da temperatura em seu redor. Uma vez que o sexo de uma tartaruga-marinha é determinado pelo calor da areia onde o ovo foi incubado, os cientistas já suspeitavam que encontrariam mais fêmeas do que machos. O que não imaginavam era a proporção. A pesquisa revelou que as tartarugas-marinhas fêmeas do maior e mais importante berçário de tartarugas do Oceano Pacífico superam o número de machos em, pelo menos, 116 para 1. Uma diferença abissal face aos números dos anos 1970 e 1980 – uma proporção de 6 para 1.
Na maioria das espécies o género é determinado durante a fertilização. No entanto, o sexo da maioria das tartarugas, jacarés e crocodilos é determinado após a fertilização. É a temperatura dos ovos em desenvolvimento que determina se a prole será masculina ou feminina. A pesquisa mostra que se os ovos de uma tartaruga incubarem abaixo de 27,7º, as crias serão do sexo masculino. Se os ovos incubarem acima de 31º, os filhotes serão fêmeas.
A pesquisa foi publicada, esta semana, na Current Biology, e é a mais recente a sugerir que o aumento das temperaturas pode transformar populações de tartarugas-marinhas em fêmeas. “Trabalho com uma das maiores populações de tartarugas do mundo e todos tendem a pensar que isso significa que as coisas estão bem”, diz o biólogo marinho Michael Jensen, principal autor do estudo e investigador do Centro de Ciências da Pesca do Sudoeste da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) na Califórnia. “Mas, daqui a 20 anos, o que irá acontecer, quando literalmente não existirem mais machos em idade adulta? Existem machos suficientes para sustentar a população?”.
As tartarugas-verdes da Austrália Oriental chegam a atingir os 500 quilos com carapaças em forma de coração de 1,20 metros ou mais de diâmetro. Habitualmente, acasalam em dois lugares específicos, um arquipélago perto de Brisbane ao longo da parte sul da Grande Barreira de Coral e na remota ilha Raine. É por estes lados que, há 20 anos, as tartarugas fêmeas se têm reproduzido, quase em exclusivo. Nestes 32 hectares cabe um dos maiores berçários de tartarugas na Terra, onde mais de 200 mil indivíduos chegam para formar ninhos. Durante a época alta, 18 mil tartarugas podem instalar-se de uma só vez. E essas são apenas as fêmeas. Com o aumento do nível do mar, os locais de nidificação foram inundados e os ovos afogados. A erosão da praia está a criar pequenos penhascos, e as tartarugas adultas caem de costas e morrem, por não se conseguirem virar. As autoridades australianas estão a tratar da restauração da ilha para melhorar a vida das tartarugas.