Há 43 anos, entre 12 e 14 de outubro de 1981, teve lugar na Academia das Ciências de Lisboa um simpósio comemorativo dos seus 200 anos. Organizado pelo professor José Pinto Peixoto (1922-1996), então presidente da Academia, o encontro tinha como objetivo apresentar e discutir os mais recentes resultados teóricos e observacionais relativos ao clima da Terra e à sua modelação. O professor Peixoto, que foi o maior climatologista português do século XX, era uma autoridade mundial no ciclo da água e o seu prestígio permitiu-lhe trazer a Lisboa os cientistas mais eminentes na área da Climatologia.
Uma das comunicações foi feita por Syukuro Manabe que, 40 anos mais tarde, em 2021, viria a receber o Prémio Nobel da Física pelos seus trabalhos na modelação do clima da Terra, em particular do aquecimento global. Nas atas do simpósio podem ler-se os resultados obtidos por Manabe relativamente aos principais efeitos no clima devidos ao aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Desses efeitos, são de destacar uma média anual de aquecimento nas latitudes elevadas duas a três vezes maior do que nas latitudes baixas, uma intensificação do ciclo da água traduzida em taxas globais médias da evaporação e da precipitação mais elevadas, um decréscimo dos gelos polares, quer em área de cobertura, quer em espessura, uma antecipação da estação de derretimento das neves e uma redução da humidade do solo em duas bandas centradas nas latitudes médias e nas latitudes elevadas. Todos estes efeitos acabaram por vir a ser confirmados pelas observações, mas, à época, muito poucos prestaram a atenção devida.