Tinha apenas 16 anos quando aterrou pela primeira vez nos Estados Unidos. Para trás ficava a participação nos Ídolos, onde se classificou em terceiro lugar, mas acima de tudo aprendeu a ganhar à-vontade com as câmaras. Luísa Sobral diz que o programa televisivo ajudou-a a perceber que ainda não estava preparada para gravar um disco, pois ainda não tinha descoberto quem era a nível musical. E recusa a ideia de que para se ser um bom profissional, seja preciso saber cantar todos os géneros. “Temos de descobrir a nossa voz, aquilo em que somos únicos e, naquele tipo de programas e concursos, isso não é uma prioridade. Ninguém vai pedir ao Steven Taylor para cantar uma balada de jazz. as pessoas são o que são e são boas num determinado estilo.”
“Um cantor que é bom em tudo acaba a cantar em casamentos”, diz.
Foi nos Estados Unidos, onde a componente musical nas escolas é muito forte, que Luísa começou a “descobrir a sua voz”. Concluiu o secundário em Utah, através de um programa de intercâmbio, numa cidade “muito pequenina chamada Springville, com trezentas vacas e dez pessoas”.
Nessa altura da adolescência, Louis Armstrong e Ella Fitzgerald começaram a fazer parte das suas escolhas musicais. Mas só quando foi para a universidade é que se apercebeu que o jazz encaixava no seu timbre. E na sua vida: aos 18 anos, Luísa rumou a Boston e ingressou no Berklee College of Music, onde diz que aprendeu de tudo. “Mas talvez o mais importante tenha sido a aprendizagem da linguagem musical e a forma de comunicar às pessoas o que me vai na cabeça”, sublinha.
LA é para as estrelas, Nova Iorque é para os músicos
Foram quatro anos de aprendizagem. Mas a viagem desta cantora que odeia monotonia tinha apenas acabado de começar. Próxima paragem: Nova Iorque. “Quando acabam o curso em Berklee, as pessoas normalmente vão ou para Los Angeles ou para Nova Iorque.
Para Los Angeles vai quem quer ser uma grande estrela, tipo Lady Gaga. e Nova Iorque é para quem quer tocar. Os melhores músicos de jazz vivem lá e há concertos incríveis todas as noites”, conta.
Luísa Sobral viveu cerca de sete meses na Grande Maçã, uma cidade que considera “um bocado complicada”. De dia, trabalhava num café e à noite cantava em bares e restaurantes.
“Em Nova Iorque diz-se fake it ‘til you make it e eu levei essa frase a peito”, graceja.
O sonho da mãe e uma cover viral
Antes o sonho passava por viver em Paris, mas agora que está de volta a Lisboa, onde já não morava há seis anos, Luísa gosta cada vez mais da cidade e mostra desejos de continuar junto dos amigos e família. O bichinho da música vem da parte do pai, que é sempre a primeira pessoa a quem mostra as suas composições. “Se ele não gostar de uma canção, o mais provável é eu nunca mais a interpretar”, confidencia. Diz que a inspiração pode surgir das mais variadas coisas, desde que sejam “vistas de uma forma artística “: livros, filmes, histórias pessoais, algo que vê na rua, até mesmo sonhos.
Foi de um sonho da mãe que surgiu o nome do seu álbum de estreia, The Cherry on my Cake, que já é disco de ouro.
A cantora foi nomeada para vários prémios durante os tempos em que viveu em Boston, no entanto, acha que estes servem essencialmente para pôr na biografia, apesar de ser gratificante saber que as pessoas gostam do seu trabalho e que está “no caminho certo”. Ideias não lhe faltam. Transformar a canção Não és Homem Para Mim, da cantora Romana, foi, por exemplo, algo que nunca pensou que pudesse fazer tanto sucesso, com o vídeo dessa interpretação a espalhar-se rapidamente pela internet.
E se pudesse transformar-se num objecto que instrumento musical escolheria Luísa Sobral? A resposta chega pronta e com um sorriso: “Uma guitarra clássica, porque é abraçada de forma simpática e tocada com ternura.”
Próximos concertos:
17 de fevereiro Seia Jazz & Blues 2012
18 de fevereiro Theatro Circo (Braga)
8 de março Teatro José Lúcio da Silva (Leiria)
13 de abril Casa da Música (Porto)
14 de abril CCB Grande Auditório (Lisboa)
Os lugares de Luísa
A geografia particular dos locais que mais fascinam a cantora
LISBOA
- Almoçar no Pois Café (Rua de São João da Praça, 93)
- Relaxar no terraço do Hotel do Chiado a beber um chocolate quente
- Ir do Cais do Sodré a Algés de bicicleta, ao fim da tarde
- Ir ver um concerto, ler um livro ou beber um chá na livraria Ler Devagar (Lx Factory)
- Lanchar no café Tati, ao domingo (Rua da Ribeira Nova, 36), enquanto decorre a jam session
PARIS
- Passear por Montmartre
- Beber um chá em St. Germain des pres
- Ir ao clube de jazz Duc des Lombards (42, Rue des Lombards)
NOVA IORQUE
- Passear pelo Prospect Park, um dos meus jardins preferidos em Brooklyn
- Comer um scone (os meus preferidos) ou outro bolo qualquer no Balthazar, padaria e pastelaria no Soho
- Assistir a um concerto no Fat Cat (75, Christopher Street), em West Village, ou no Tea Lounge (837, Union Street), em Brooklyn
BOSTON
- Dar um passeio por Cambridge
- Jantar no restaurante italiano Bottega Fiorentina (264, Newbury St,), em Back Bay
- Passear pelo Charles River e parar num dos decks
Oiça e veja o videoclip de duas músicas do álbum de Luísa Sobral: “Xico” e “Not There Yet”