É na escuridão que melhor se veem as estrelas que podem iluminar-nos o caminho. E é também nos momentos mais difíceis e inesperados que damos conta das nossas vulnerabilidades, dos erros que andamos a cometer, das certezas pouco sustentadas que adotámos como dogma e, no fundo, da nossa ínfima pequenez no mundo. Como também é nesses momentos que melhor percebemos a importância da vida em comunidade, do espírito de entreajuda, do insubstituível valor da confiança nos serviços, públicos ou privados, de que dependemos para viver em sociedade.

Apesar de alguma aflição momentânea, o apagão da rede ibérica de eletricidade, na segunda-feira, 28 de abril, teve uma virtude: obrigou-nos a refletir, nem que fosse fugazmente, sobre a nossa vulnerabilidade e a nossa dependência absoluta da eletricidade. E, ao contrário do que aconteceu nos momentos de isolamento durante a pandemia, desta vez a reflexão teve de ser imperiosamente individual – uma raridade nos tempos em que vivemos. Sem rede de telemóvel nem ligação à internet, o apagão obrigou a que essa reflexão fosse feita apenas com base naquilo que observávamos e vivíamos, sem sermos contaminados pelas “opiniões” habitualmente debitadas nas redes sociais à velocidade da luz – que, neste caso, estava apagada.

Era bom que não nos esquecêssemos desse momento e das lições que dele podemos retirar. Devemos lembrar-nos de que, por necessidade e absoluta ausência de alternativa, voltámos a valorizar, naquelas horas de maior preocupação, a importância de ter acesso a informação objetiva, factual e direta. Porque é a única que interessa e tem utilidade nas situações de crise, pois não há teoria de conspiração, por mais criativa ou “iluminada” que se apresente, que seja capaz de nos carregar a bateria do telemóvel, fazer funcionar a máquina de multibanco ou pôr as carruagens do metro a circular. Já a informação rigorosa, sem procurar o alarmismo, permite-nos ter noção da realidade e, com isso, tomar as melhores decisões.

Devemos lembrar-nos também de como um meio de comunicação social tão antigo como a rádio – tantas vezes adjetivado de obsoleto – continua a ter o poder e a capacidade de se tornar indispensável, em especial nas situações de emergência, como difusor da informação útil e necessária, sem a preocupação de agradar aos algoritmos que manipulam a nossa atenção. E como a realidade tem sempre uma força avassaladora, este apagão também nos ajudou a dar maior importância aos conselhos básicos de segurança, mesmo aqueles que podíamos classificar como anedota: afinal, agora já todos devem ter percebido a importância de ter um rádio a pilhas e a razão por que esse é um dos objetos do kit de emergência que, há poucas semanas, a Comissão Europeia aconselhou os cidadãos a terem, para estarem prevenidos e informados em cenários de guerra ou de outras catástrofes.

Este apagão demonstrou também, em plena campanha eleitoral, como é importante ter um Estado sólido e eficiente, dotado dos melhores profissionais para zelarem pelos equipamentos que servem o bem comum. Como as 11 horas sem eletricidade, as últimas já de noite, acabaram por ser mais uma manifestação eloquente de que Portugal é um país seguro, sem os níveis de criminalidade e de violência vociferados por alguns populistas, sempre a utilizar o medo como forma de criar o caos. Afinal, no meio do que poderia ser uma situação caótica, com muitos estabelecimentos comerciais fechados e muitas ruas vazias e sem luz, não se registou nada de anormal. Antes pelo contrário, foram muitas as demonstrações de solidariedade e de espírito de comunidade de que se teve conhecimento um pouco por todo o País.

Ao ocorrer em clima de campanha eleitoral, este apagão ajudou ainda, de uma forma ou de outra, a vincar diferenças na postura e no comportamento dos dois principais líderes políticos. Naturalmente, tanto Luís Montenegro como Pedro Nuno Santos tentaram aproveitar o momento para mostrar as suas habilidades políticas, ao verem-se confrontados com uma crise inesperada e grave. A avaliação do comportamento dos dois será feita pelos eleitores, a 18 de maio. Mas há uma pergunta que este “dia de reflexão”, suscitado pelo apagão, impôs claramente na agenda política: quem, numa situação de emergência, quer ter à frente do Governo? Ou seja: em quem confia quando as coisas correm mal? É essa a reflexão que este apagão devia iluminar. 

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A semana, entre feriados, começou com um apagão. Portugal, Espanha e outros países na Europa viram algo muito pouco comum, na forma de uma falha geral de energia. As pessoas ficaram sem o conforto e distrações a que se habituaram nos seus lares. As empresas e outras organizações (com exceção dos hospitais e outros serviços essenciais) reduziram a sua atividade e, em muitos casos, cessaram a sua atividade.

Cerca de doze horas depois da falha, que também afetou as telecomunicações, tudo parece ter voltado ao normal. O Governo e as entidades competentes farão agora o seu trabalho de descobrir as causas do acontecimento e sobretudo vão pensar em formas de que numa próxima vez, tudo possa correr melhor.

Aos consumidores comuns e aos empresários coloca-se a questão de pensar em alternativas. Uma delas, óbvia e muito usada, é a dos geradores, muitas vezes alimentados através de combustíveis que, num dia como o de segunda-feira, também podem não estar ao dispor. 

Outra passa por aproveitar um dos recursos que não faltam ao nosso país: o sol. O recurso a painéis solares com baterias, permite que particulares e empresas possam recolher energia solar e transformá-la em energia elétrica para seu uso, com a vantagem adicional de poder guardar energia, que, em caso de falha, possa servir como backup.

A energia solar, já se sabe há muitos anos, permite que cada um possa reduzir a sua dependência energética, ao mesmo tempo que poupa dinheiro, a médio prazo e poupa o ambiente, desde a primeira hora.

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O futuro já não se faz sem energias renováveis

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A Sony Semiconductor Solutions Corp é o braço da Sony Group Corp na produção e comercialização de semicondutores. Agora, sabe-se que o grupo está a equacionar vender a sua posição neste segmento e o negócio pode mesmo ficar concluído ainda este ano, segundo fontes anónimas ouvidas pela Bloomberg. O objetivo da Sony passa por otimizar a sua operação e focar-se no entretenimento.

As deliberações estão a decorrer nesta altura e muito pode ainda mudar, especialmente se tivermos em consideração a volatilidade dos mercados trazidas pelas medidas de Donald Trump. A estratégia para já passa por distribuir a posição maioritária na unidade de semicondutores e depois manter uma posição minoritária depois da alienação.

Fonte oficial da Sony desmente o negócio, afirmando que “este artigo é baseado em especulação e não há quaisquer planos concretos”.

A unidade de semicondutores da Sony produz sensores de imagem que alimentam as câmaras de telefones da Apple e da Xiaomi, entre outros e rendeu, no último ano fiscal, cerca de 12 mil milhões de dólares. O crescimento tem vindo a abrandar devido à redução na procura global de smartphones e a aplicação das tarifas comerciais pelos EUA não pinta um cenário animador. A concorrência trazida pelos fabricantes chineses tem obrigado a baixar os preços e reduzir as margens, o que também ajuda a cimentar a decisão da alienação.

A margem de lucro desta unidade baixou de 25% para 10% nos últimos anos e, em sentido inverso, os segmentos de jogos e música lideraram o crescimento dos lucros, com 37% e 28% respetivamente no trimestre que terminou em dezembro.

Apesar de a Nintendo Switch 2 só chegar aos mercados dentro de um mês sensivelmente, há um jogador que já chegou ao final da nova versão de Breath of the Wild. O criador de conteúdos Ikaboze publicou um vídeo no YouTube no qual mostra o feito conseguido durante uma sessão de previsualização da Nintendo em Tóquio. Todos os que estiveram no evento puderam jogar uma demonstração do jogo durante dez minutos, tempo suficiente para Ikaboze realizar a façanha.

O criador precisou apenas de sete minutos para conseguir passar o título até ao fim e derrotar Ganon, na épica batalha final. O Engadget clarifica que isto não significa que Ikaboze tenha completado todo o jogo, operação que demora cerca de 23 minutos para os jogadores mais hábeis. Ao invés, Ikaboze carregou um ficheiro de autosave que fez surgir fora do Castelo Hyrule, onde imediatamente largou todo o equipamento e correu em direção a Ganon para o enfrentar (e derrotar).

Os funcionários da Nintendo terão reconhecido que Ikaboze foi o primeiro a concluir o jogo na versão de demonstração. Breath of the Wild e Tears of the Kingdom vão estar disponíveis para a Switch 2 logo na altura do lançamento da consola.

Com tanta incerteza política, económica e até mesmo social no mundo, é fácil perder de vista os muitos problemas que temos à porta de casa. E como diria aquela icónica senhora de uma reportagem da TVI, estes problemas “não é muitos, e não são poucos, não é? Bastantes!“. Portugal está cheio de bombas-relógio, algumas a estourar (como a habitação), outras com o rastilho já a arder.

Posso começar por duas questões pelas quais tenho particular interesse: o envelhecimento da população e a reforma. Portugal é, ao dia de hoje, o quarto país mais envelhecido do mundo. É uma estatística que por um lado me enche de orgulho (os nossos velhotes são rijos e estão aí para as curvas), mas por outro, do ponto de vista do futuro, preocupa-me. Perdoem-me a frontalidade, mas os idosos nunca são o futuro de um país. O que significa que nas próximas décadas Portugal vai ter um conjunto de desafios relacionados com a falta de renovação geracional, baixas taxas de natalidade, falta de mão de obra jovem no mercado de trabalho, maior isolamento social, menor dinamismo da economia… E, claro, uma pressão acrescida no Sistema Nacional de Saúde (cuja própria saúde não está em bom estado) e no sistema de pensões. Com que idade pensa reformar-se? E quanto pensa que vai ganhar na reforma? As estimativas mais recentes apontam para que as pessoas que se reformem em 2050 só venham a receber de reforma o equivalente a 38,5% do seu último salário! Pois, vá começando a fazer contas à vida…

Numa fase em que só agora é que começam a existir planos de apoio do Estado para as creches, já devíamos estar num patamar completamente diferente, com uma aposta séria e reforçada nos… lares. Se vamos ter um país de idosos empobrecidos, ter uma rede pública robusta de lares e outros serviços de apoio à terceira idade não é uma utopia, é uma inevitabilidade.

Se o envelhecimento da população é um dos exemplos mais gritantes dos problemas estruturais que Portugal precisa mesmo de endereçar, há muitos outros e que afetam praticamente todos os níveis da nossa sociedade. O sistema de educação precisa urgentemente de ser revisto. A educação devia ser o verdadeiro desígnio de qualquer país, pois são as crianças e os jovens que um dia vão levar isto para a frente. Quanto mais apostarmos na qualidade da educação, melhor seremos enquanto País. Aquilo que tenho visto nos últimos anos é uma cada vez menor competitividade do ensino público face ao ensino privado (que tem o seu espaço e é necessário), mas que se não for devidamente equilibrado, vai criar uma sociedade ainda mais desigual, na qual os que têm dinheiro são aqueles que acabam por conseguir as melhores oportunidades de acesso aos melhores cursos nas melhores faculdades, perpetuando um ciclo no qual o elevador social deixa de funcionar.

A justiça precisa ser mais célere, prática e acessível. Um país onde a justiça funciona mal, torna-se mais propício para os que têm mais recursos prolonguem quase infinitamente os seus processos, enquanto os mais pobres sentem que não podem sequer recorrer a um dos mais importantes meios de equilíbrio de forças que uma sociedade dispõe (em teoria, um rico e um pobre, um inteligente e um totó, um gordo e um magro, são todos iguais aos olhos da justiça).

Sobre a habitação nem preciso de escrever muitos caracteres, mas vou ‘roubar’ uma ideia que vi num comentário deixado num vídeo do YouTube. A casa que comprei há sete anos vale hoje muito mais, o que em teoria me torna um pouco mais ‘rico’. Mas se o negócio fosse feito hoje, provavelmente eu já não conseguiria comprar a casa onde moro – o que é um claro sinal de pobreza.

A desertificação do interior precisa de ser estancada, sob pena de termos um território ainda mais desigual (e, num país geograficamente pequeno como o nosso, justifica-se sequer tamanha desertificação?).

Na saúde, o SNS precisa de passar de um modelo corretivo, que trabalha maioritariamente sobre os problemas de saúde das pessoas, para passar para um modelo preventivo, trabalhando para evitar tanto quanto possível que os cidadãos precisem de recorrer ao SNS (precisamos de construir uma sociedade mais saudável, no fundo). A este propósito, recomendo a leitura do livro o Suicído da Espécie, que é para o qual andamos todos, de uma maneira ou de outra, a contribuir.

E que áreas estratégicas quer Portugal ‘atacar’ na Ciência e na Tecnologia? Em que domínios queremos ser os melhores do mundo em 2050? É que para isso acontecer, as sementes já deveriam ter sido lançadas ontem – não é amanhã, nem depois. Somos um país de turismo e de mar, mas curiosamente não temos grandes ‘campeões’ digitais e tecnológicos nesta área. Porquê?

Em algum momento, no futuro, um Governo terá de ter a coragem de tomar todas as decisões difíceis que nenhum outro até aqui se atreveu a fazer. E a palavra coragem não é escolhida pela prosa – considerando que muitos dos problemas aqui citados são óbvios, só posso interpretar que sobre eles pouco ou nada está a ser feito pela falta de coragem. Quem é que vai ter coragem para mexer no sistema das reformas? Quem é que vai ter estofo para remodelar o sistema de educação? Quem terá a audácia de taxar eficazmente as comidas ultraprocessadas? Quem vai ser o intrépido que vai decidir canalizar um investimento sério para a educação? Quem é que no seu perfeito juízo arriscaria o seu lindo pescoço político por um problema que só vai ‘estourar’ daqui a 30, 40 ou 50 anos? Quando temos uma classe política que considera um salário mínimo de 1100 euros brutos, em 2029 (!), como um objetivo ambicioso para o crescimento do País, está tudo dito.

Este é, no fundo, o grande problema de Portugal. Andam todos preocupados com o seu quintal e ninguém pensa o País como ele precisa de ser pensado. De forma estruturada, com objetivos de curto, médio e longo prazo. A mover-se em diferentes dimensões, a diferentes velocidades. Não deixemos que as bombas que temos em mãos rebentem de forma descontrolada. 

Esta texto marca a minha despedida da Exame Informática. Ao longo destes quase seis anos, tive o privilégio de ter a liberdade para escrever sobre tudo um pouco: visitei o lado negro das redes sociais, revelei as primeiras vítimas de deepfakes em Portugal, mergulhei no mundo das polícias e da videovigilância, entrevistei o melhor dos hackers, troquei o meu carro pessoal por um Ami, descobri um colecionador de íris, aprendi a comprar casas mais baratas, fui barista durante um mês (e nem sequer aprecio café), chamei a atenção para os hackers chineses que andaram a fazer tropelias em Portugal, troquei ideias sobre IA com grão-mestres de xadrez, tornei públicas as confissões de um investigador forense, dormi (algo que sei fazer bem), quis saber como viver para lá dos 100, cruzei-me com o criador do iPod e do iPhoneAté um OVNI consegui meter numa capa da revista! Trabalhos que serviram para informar (espero), mas também para provocar o pensamento dos leitores sobre todas estas transformações que estão a acontecer à nossa volta.

Daí que não podia terminar sem fazer a mais definitiva das provocações: que futuro queremos realmente para Portugal e o que estamos dispostos a fazer para o alcançar? Obrigado a toda a equipa da Exame Informática. E obrigado pelo seu interesse e companhia.

Apesar de a Constituição portuguesa consagrar a separação entre Estado e religiõesa neutralidade religiosa do Estado foi posta em causa com o adiamento das comemorações do 25 de Abril devido à morte do Papa Francisco, consideram os constitucionalistas ouvidos pela agência Lusa.

Sem utilizar o termo ‘laico’, a Constituição da República Portuguesa estabelece inequivocamente, através da Lei da Liberdade Religiosa, no artigo nº3, que “as igrejas e demais comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto” e, no artigo n.º 4, que “o Estado não adota qualquer religião nem se pronuncia sobre questões religiosas”.

Em entrevista à Lusa, a constitucionalista Isabel Moreira disse que “Portugal é formalmente um Estado laico, mas há uma ordem moral informal, de matriz católica, que ainda influencia decisões políticas e sociais”.

Segundo a deputada socialista, o adiamento das comemorações do 25 de Abril são um exemplo de violação clara da separação entre o Estado e a religião, não compreendendo que “a festa da democracia seja condicionada pela morte de uma figura religiosa”.

O presidente da Comissão para a Liberdade Religiosa (CLR), José Vera Jardim, entrevistado pela Lusa, reconheceu avanços a respeito da laicidade do Estado, como a não inclusão de representantes religiosos na cerimónia de abertura do ano judicial deste ano, porém, admitiu também que subsistem práticas institucionalizadas.

Relativamente a cerimónias religiosas, como a bênção de obras públicas como a que aconteceu em 2023 junto à obra do Plano Geral de Drenagem de Lisboa, o presidente disse que estas cerimónias “não deviam ter lugar” e que se trata de “um problema cultural que se vai resolver”, reconhecendo que “há algumas queixas que têm chegado”.

O funeral do Papa contou com a presença oficial do Presidente da República, do primeiro-ministro e do Presidente da Assembleia da República, algo que não se verificou, por exemplo, quando faleceu o Príncipe Aga Khan, líder da comunidade ismaelita, em que também não foi decretado luto nacional.

Para Jorge Miranda, conhecido como um dos pais da Constituição portuguesa, esta decisão não comprometeu a laicidade do Estado.

Em entrevista, o constitucionalista disse que uma ação destas “não põe em causa a laicidade do Estado, uma vez que o Papa era chefe de Estado. É natural que um Estado homenageie outro Estado”.

José Vera Jardim deu conta que a representatividade social justifica diferenças. “A religião católica tem uma implantação em Portugal que mais nenhuma tem. E, portanto, tem de ser tratada, ou tem direito a ser tratada de uma forma diferente em certos aspetos, embora a sociedade deva caminhar para a igualdade. Mas é evidente que o chefe da Igreja Católica tem um posicionamento, face a Portugal e a outros países católicos, diferente do que tinha o Príncipe Aga Khan”.

Segundo a CLR, mais de 80% da população declara-se católico e isso acabará por refletir-se em aspetos protocolares como, inclusivamente, o calendário nacional, que mantém vários feriados religiosos católicos.

Não obstante, a lei prevê que outras confissões possam solicitar o reconhecimento de dias sagrados para efeitos laborais ou escolares, desde que devidamente fundamentados.

Portugal mantém um acordo — a Concordata de 2004 — que garante à Igreja Católica isenções fiscais, como o IMI e o IVA, e direitos como o ensino da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica nas escolas públicas, acordos que, segundo o presidente da CLR, só não são celebrados com outras religiões se as próprias não quiserem, uma vez que todas são representadas e foram “escolhidas pela sua importância na sociedade portuguesa”.

Acerca do ensino religioso, Isabel Moreira defende que o Estado “não se deve ocupar do ensino da religião nas escolas”, sendo “a única forma de garantir verdadeira igualdade e neutralidade”.

Já Jorge Miranda explica que esta disciplina “não é obrigatória, são os pais que escolhem. É uma forma de ensino como outra qualquer. Se fosse obrigatório, aí sim, seria um problema.”

Segundo um comunicado do Governo, o programa de eventos do 25 de Abril que estavam previstos para a Residência Oficial do Primeiro-Ministro realizar-se-ão na quinta-feira.

A Medicina Veterinária há muito deixou de ser apenas a ciência dos consultórios onde se tratam cães e gatos. É um campo do saber e da prática que, apesar de muitas vezes remetido ao silêncio dos bastidores, tem um papel absolutamente central no funcionamento das sociedades modernas. A veterinária não anda de coleira; é livre, interdisciplinar e indispensável.

Num mundo onde as fronteiras entre a saúde humana, animal e ambiental se tornam cada vez mais ténues, os médicos veterinários assumem funções cruciais que vão muito além da consulta de rotina. São eles que, discretamente, garantem a segurança dos alimentos que chegam à nossa mesa, através do controlo sanitário nas cadeias de produção e distribuição. São também sentinelas da saúde pública, ao intervirem na prevenção e controlo de zoonoses – doenças que passam dos animais para os humanos – como a raiva, a leptospirose ou a gripe aviária.

A sua atuação no terreno é apenas uma parte de um universo muito mais vasto. A investigação científica em Medicina Veterinária tem contribuído significativamente para avanços na biotecnologia, prevenção e controlo de zoonoses, saúde pública, desenvolvimento de vacinas, tratamentos mais eficazes e diagnóstico precoce, onde muitos estudos em modelos animais têm permitido melhorias na saúde humana. Este conhecimento, construído com rigor e ética, é um alicerce para a inovação em várias áreas do saber.

Também no domínio do bem-estar animal, a veterinária ocupa uma posição de liderança. A crescente consciencialização social para os direitos dos animais tem sido acompanhada, e em muitos casos impulsionada, pelo trabalho dos profissionais veterinários, que lutam por práticas mais humanas na pecuária, na ciência e no tratamento de animais de companhia. São vozes ativas na defesa daqueles que não têm voz.

Importa ainda reconhecer o papel dos veterinários em contextos de crise, em cenários de catástrofe ambiental, conflitos armados ou surtos pandémicos, são frequentemente chamados a agir em nome da proteção das populações, humanas e animais. A crescente valorização do conceito One Health, que integra a Saúde humana, animal e ambiental, reforça a importância de um trabalho colaborativo onde a Medicina Veterinária é uma peça-chave.

A resposta a todos estes desafios começa na formação. O ensino da Medicina Veterinária tem vindo a evoluir, acompanhando as exigências da sociedade e da ciência. Um bom exemplo disso é o ensino moderno, modular, integrado, intensamente prático e especializado que caracteriza o curso de Medicina Veterinária da Egas Moniz, assim como o lançamento do novo Mestrado em One Health, que vem reforçar a aposta numa formação especializada, capaz de preparar profissionais para contextos cada vez mais complexos e multidisciplinares e para resolver os desafios globais da saúde animal, humana e ambiental.

Reconhecer a Medicina Veterinária é, por isso, muito mais do que valorizar uma profissão. É afirmar um compromisso com a vida, em todas as suas formas. É olhar para uma ciência que se move com liberdade, que se adapta, que pensa o futuro: uma ciência que não anda de coleira porque está na linha da frente, mesmo quando não damos por isso.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O dia histórico que marca o início da nossa liberdade e democracia merece ser celebrado com dignidade. Mas, desta vez, o Governo parece ter aproveitado a circunstância do falecimento do papa Francisco para descaracterizar a data, adiando-a sem sentido, e com isso fez um favor aos adversários do regime democrático, que detestam tais comemorações.

Mas houve comportamentos verdadeiramente indignos na própria sessão comemorativa na Assembleia da República. Paulo Núncio resolveu aproveitar para fazer um comício em nome do CDS, e até abusando do tempo regulamentar concedido ao seu partido para discursar. Outros centraram o discurso no papa e não na data em comemoração. Já o Chega abandalhou a sessão quanto conseguiu, com os habituais apartes, sonoros e indecentes.  

À tarde, Rui Fonseca e Castro, do partido nacionalista neofascista Ergue-te!, decidiu insistir numa manifestação que estava proibida e que não passou duma provocação aos migrantes da zona. A PSP avisou-o no local de que estava a incorrer num crime de desobediência e, perante a sua insistência, deu-lhe voz de prisão.

Momentos depois do tumulto provocado e em face da intervenção do dispositivo policial para conter a agitação pelos extremistas, Fonseca e Castro acabou por se entregar. Mário Machado e o seu grupo neonazi agiram da forma idêntica. A verdade é que estes grupos extremistas conseguiram desviar a atenção da comunicação social da grande celebração popular para uma reles luta de rua, à boa maneira dos marginais que os integram.

De resto, Marcelo continua a dar tiros nos pés. Por que razão o Presidente duma República, que é um estado laico, teria de dirigir uma comunicação ao País nas televisões, em horário nobre, a pretexto do passamento de Francisco? Quando é que o fez anteriormente por ocasião de qualquer outro chefe de estado? Ou de qualquer outro líder religioso? Marcelo ensaiou uma trôpega tentativa de justificação do ato ao mencionar que a Santa Sé teria sido o primeiro estado a reconhecer o reino de Portugal em 1143. Tal justificação é ridícula visto que os estados europeus eram então reconhecidos por bula papal. E daí?

E o Governo não poderia ter marcado luto nacional sem ser em cima da data fundadora do regime democrático, como outros estados fizeram incluindo o Vaticano? Montenegro adiou as celebrações festivas do 25 de Abril para o 1.º de Maio alegando que o luto nacional pelo Papa Francisco implica reserva nas comemorações. Uma vez cometido o erro, procurou voltar atrás mas ficou muito mal na fotografia. Porém, a forte resposta popular mais uma vez verificada no habitual desfile na Avenida da Liberdade respondeu a estas tentativas de menorizar o “dia inicial”. 

A data de 25 de Abril de 1974 remete para o fim da ditadura, da polícia política, dos “bufos”, da censura, dos “gorilas” nas universidades, do regime de partido único e duma guerra interminável e injusta contra os povos africanos. Com o fim do regime do Estado Novo, os cidadãos ganharam o direito de ler os livros, ver os filmes e ouvir as músicas que quisessem, de poder votar em eleições realmente livres e universais, de se reunirem em associações sindicais, culturais e de toda a espécie, de usufruírem de liberdade de pensamento, expressão e associação política ou qualquer outra. A educação e a saúde democratizaram-se. A economia libertou-se. As mulheres ganharam autonomia. As minorias religiosas passaram da condição de toleradas à de aceites.

Ao aderir à Europa, Portugal passou a existir de facto e a ter voz no concerto das nações. Atualmente, temos um português como secretário-geral da ONU, outro preside ao Conselho Europeu, e já tivemos um presidente da Comissão Europeia.

Nenhuma desilusão ou frustração com as perturbações do chamado “processo revolucionário” ou com o País de hoje justifica o facto de diabolizar Abril. Não insultemos a memória. Se quisermos ser honestos temos de reconhecer que há um mundo de diferenças entre o regime salazarista-marcelista e a democracia, apesar das imperfeições desta. Para muito melhor.

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O debate entra no português por via do verbo francês débattre, que significa bater de forma contínua ou violenta. Mas mesmo na sua língua original, conta a revista brasileira Veja, o uso comum sempre foi o de “querela, controvérsia” no campo das ideias, em vez da violência física propriamente dita. Embora, já vimos historicamente que por vezes as ideias saltam da cabeça e instalam-se nos cabos das bengalas – uma outra forma de “esgrimir” argumentos, por assim dizer.

Hoje há debate grande. Literalmente. Enquanto os confrontos televisivos entre os líderes dos partidos com assento parlamentar, para as eleições legislativas de 18 de maio, tiveram uma duração máxima de 30 minutos, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro são uns privilegiados e terão 70 minutos pela frente – afinal, um deles será o próximo primeiro-ministro.

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