Em Portugal não é preciso um terrorista fortemente armado para lançar o pânico ou fazer alastrar o medo. Há sempre o noticiário de uma estação de rádio, o rodapé de um canal de TV ou a “última hora” de um site de notícias disponíveis para essas tarefas.
Começa a ser um padrão: nas horas e dias seguintes à ocorrência de um grande atentado terrorista na Europa (agora em Bruxelas, como antes em Paris), os portugueses são sobressaltados, invariavelmente, com a notícia de que qualquer coisa de semelhante pode estar mesmo a acontecer ao lado de sua casa ou no caminho para o emprego. Não é exagero: basta um pacote abandonado numa paragem de autocarro ou um telefonema “malandro” para uma escola e… soam logo os alarmes. Mas se as autoridades policiais fazem bem em levar esses “avisos” a sério, os profissionais da informação fazem muito mal quando os noticiam na hora e sem pensar.
Quais são alguns dos principais objetivos dos terroristas quando lançam ataques? Todos sabemos: espalhar o medo, paralisar as sociedades, criar um sentimento de insegurança, destruir o nosso modo de vida.
O que fazem os jornalistas quando interrompem uma emissão para informar que existe uma “ameaça de bomba”? Precisamente o mesmo. Com uma agravante: acabam por descredibilizar também o seu papel enquanto mensageiros de informações que deveriam ser sempre verdadeiras, autênticas e de interesse público.
“As falsas ameaças de bomba não devem ser vistas como notícia, a não ser que tenham consequências graves de interesse geral. Estas informações, quando difundidas, apenas favorecem o deliquente e ajudam a copiar este tipo de comportamentos”. É isto que está inscrito logo nas primeiras páginas do Livro de Estilo do diário espanhol El País, desde a sua fundação, numa época em que o país vizinho era assolado, com frequência, por atentados terroristas. Nessa época, fui testemunha algumas vezes, em viagens a Espanha, de como esse compromisso com a verdade nunca era descurado. Vi multidões em fuga, com a polícia a fechar estações de metro, mas depois – comprovada a falsidade do alarme – não encontrava uma referência nos noticiários da rádio ou uma linha nos jornais.
Reconheço que, nesta época de informação imediata e de redes sociais, que conseguem tornar virais notícias com vários anos, os livros de estilo possam já não ser a coisa mais popular nas redações. Mas há um princípio básico inerente a esta profissão: a de que nos devemos esforçar para procurar a verdade. Notícias falsas só mesmo no primeiro de abril, por brincadeira e tradição. Nunca para ajudar a difundir o medo e fazer o papel dos terroristas. Se é falso não é noticia.