Há quem vacile nos momentos decisivos, há quem se intimide quando vê os adversários a superarem-se, há quem se resigne ao fatalismo, há quem se desculpe com o azar ou a má sorte, e depois há… Nelson Évora. Com ele nunca há desculpas. Há sempre determinação, espírito de luta, emoção competitiva e uma vontade imensa de superar os limites do corpo. Na sua cabeça só existe um pensamento: correr o mais rápido possível e voar até onde se julgava impossível. E uma certeza: a competição só termina quando os pés tocam na areia no último ensaio.
Os saltos decidem-se com as pernas, mas as medalhas – em especial no caso de Nelson Évora – sempre foram ganhas graças à determinação e ao desejo de vencer. Para subir ao pódium não chega apenas o bom momento de forma. É preciso um nível de concentração elevado e uma motivação indestrutível. Durante as mais de duas horas de uma prova de triplo salto, Nelson Évora (e qualquer dos outros competidores) é um ser quase solitário, mesmo que esteja rodeado por mais de 80 mil espectadores, como sucedeu mais uma vez no “Ninho de Pássaro”, de Pequim. Não fala com ninguém, não se distrai com nada, apenas comunica à distância com o treinador (sentado na bancada) e vai repetindo, mentalmente, todos os passos e movimentos de pernas, tronco e braços que tem que executar em cada salto. São mais de duas horas completamente entregues a si próprio e à sua motivação. Mas, no seu caso, com um tónico especial: a adrenalina da competição, o gosto pelo risco, a necessidade de apostar com ainda mais convicção quando se sente “picado” pelos adversários.
Foi sempre assim que Nelson Évora conquistou os seus principais títulos. Em 2007, em Osaka, sagrou-se campeão do mundo graças a um despique tenso com o brasileiro Jadel Gregório, que tinha uma marca pessoal superior à sua. No ano seguinte, em Pequim, foi campeão olímpico num duelo semelhante com o britânico Phillips Idowu (que também tinha uma marca melhor).
Agora, novamente em Pequim, Nelson Évora partiu com a convicção de que podia chegar às medalhas no Mundial, apesar de saber só que poderia aspirar à de bronze, tendo em conta os níveis estratosféricos atuais do norte-americano Christian Taylor e do cubano Pedro Richard, com vários saltos acima dos 18 metros. Ora, foi precisamente essa a medalha que ganhou, no sexto e último salto do concurso (e com 17,52 metros, a sua melhor desde 2009, quando iniciou um calvário prolongado de lesões que só terminou no final do ano passado). Tal e qual como tinha metido na cabeça. A sua melhor e exemplar arma. A mesma que o fará querer voar mais, dentro de um ano, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.