“Marcelo Rebelo de Sousa disse que era preciso abrir o melão para avaliar, mas quando o abriu, soube-lhe a pepino. Disse que o pacote para a Habitação é inexequível, inoperacional e panfletário: chamou-lhe mesmo uma lei cartaz, que se apresenta publicamente para marcar terreno mas não é para ser aplicada. Queria mais e melhor. Vem então o Primeiro-Ministro e diz que enquanto uns falam, falam, falam… outros fazem. Não é difícil de imaginar em quem estaria a pensar”, enquadra Mafalda Anjos.
Para a diretora da VISÃO, se esta crítica é justa em relação à medida do arrendamento coercivo das casas devolutas, é demasiado genérica. “Há medidas exequíveis neste pacote, medidas essas que o PR aliás já promulgou. Mas na minha interpretação do ‘marcelês’, o Presidente quis pressionar um consenso ao centro e forçar a que se deixe cair a norma mais polémica do pacote que é a do arrendamento compulsivo. Se nada mudar, depois destas criticas contundentes só lhe restam duas opções: vetar politicamente ou enviar para o Tribunal Constitucional”, afirma.
Nuno Miguel Ropio, jornalista da VISÃO, apontou que “torna-se um pouco insólito que Marcelo, o homem que criou e fez jornais, tenha sido ultrapassado na análise ao plano Mais Habitação pelo homem, neste caso Cavaco Silva, que nunca lia jornais”. Aliás, admite até uma “ligeireza” e uma forma “ziguezagueante” com o presidente da República tem comentado o programa com o que o Governo pretende resolver o problema da falta de casas a preços acessíveis.
“Tendo em conta as declarações do primeiro-ministro, entre tanto melão vai e tanto melão vem, Marcelo terá ficado com um grande melão, perante as críticas veladas de António Costa no debate sobre política geral no Parlamento”, acrescentou Nuno Miguel Ropio.
“Marcelo Rebelo de Sousa está a sentir sangue na água, com a impopularidade ou fragilidade – mesmo que momentânea – do Governo”, nota o jornalista Nuno Aguiar. “Não me parece é que seja a forma mais correta para fazer a sua crítica. Dizer que um pacote com dezenas de medidas é inoperacional não é construtivo, por mais críticas que ele mereça. O Presidente da República deveria deixar de ser vago e especificar que medidas não lhe agradam.”
A falta de compromisso do Presidente na avaliação tem sido acompanhada de uma atitude semelhante do primeiro-ministro. “Parece que o pacote de medidas para a habitação é uma espécie de balão de ensaio, podendo-se avançar ou recuar nalgumas medidas conforme o vento sopre”, refere Nuno Aguiar. “Tem sido esse o modelo de intervenção de António Costa, como também se viu com as novas medidas anunciadas no Parlamento, sem detalhe ou concretização.”
Outro tema em análise foram as novas medidas de apoio à inflação que poderão vir a ser aprovadas em breve.
A dias de ser conhecido o défice orçamental de 2022, que já se estima que possa vir a ficar em 0,5% do PIB, “o Governo está a correr atrás do prejuízo ou, neste caso, do brilharete”. “O primeiro-ministro sabe que ficará muito mal o Executivo estar a bater por muito a sua meta de défice, enquanto os portugueses têm cada vez mais dificuldades nas idas ao supermercado”, acrescenta Nuno Aguiar. “Veremos se este conjunto de medidas, incluindo aumentos mais altos para os funcionários públicos, representa uma viragem no comportamento cauteloso do Governo, principalmente quando entrarmos no ciclo eleitoral.”
OUVIR EM PODCAST
DISPONÍVEL NAS SEGUINTES PLATAFORMAS