Com a chegada do mês de junho, do calor e bom tempo que nos faz sentir já no verão, chegam também os Santos Populares e as suas tradicionais celebrações. Um pouco por todo o País assistimos a diferentes manifestações de expressão popular que têm já uma tradição bastante longínqua.
Celebrando hoje os Santos que o povo acarinhou como seus e que fizeram deles os estandartes dos seus festejos, estão também associados a estes dias os festejos, oferendas e anseios pré-cristãos que marcam a dimensão popular e nacional destas datas na história do nosso país.
Seja no 13 de junho, com o casamenteiro Santo António, ou no 24 de junho, com o balão de São João, ou até mesmo a 29 de junho, com os cortejos de São Pedro, o que mais se evidencia é a participação popular de grande dimensão, tomando estes dias como dias de alegria, convívio e fraternidade. Basta percorrermos os bairros e localidades deste país para compreender o fulgor e vivacidade destes dias, onde as ruas se tornam verdadeiros salões de festa com as comezainas, em que a sardinha é senhora e rainha, e os bailaricos, em que ninguém fica sem par e cada um põe à prova o seu pézinho de dança.
Festas e celebrações em que a participação juvenil não é exceção, mas antes a regra. Ora através das comissões de festas, ora através das associações juvenis, coletividades, clubes e outros espaços recreativos, também os jovens vêm estas datas como um momento de afirmação do seu espírito, da sua presença e de convívio entre outros. É nestas datas em que os jovens podem também afirmar os seus projetos, os espaços onde participam como a sua associação, o seu clube, a sua coletividade ou até mesmo a sua localidade. Nestas datas, assistimos a grandes momentos de sociabilização, de alegria e participação, dos quais os jovens são peças determinantes, contrariando uma vez mais a falácia de que aos jovens nada interessa ou nada lhes diz.
Junho é, portanto, mês de festa, de reunir e fazer novas amizades, de expressar as mais simples das vontades que são a alegria e a fraternidade entre todos, e a dura realidade mostra quão necessários são estes momentos. Necessários num contexto em que experienciamos o aumento do custo de vida, a subida dos preços dos bens e serviços essenciais, enquanto os salários e os rendimentos são desvalorizados. Em que resistimos a ataques e tentativas de degradação dos serviços públicos, que em muito afetam a população e os jovens.
Contudo, e verdade seja dita, não deveríamos olhar para estes momentos de alegria como algo momentâneo, em que os elementos que neles se inserem são apenas passageiros.
Em vez de rogar ao Santo António para que o senhorio baixe a renda, o que deveria estar a ser pedido era boa fortuna no namorico; em vez de se pedir ao São Pedro para que a bolsa da faculdade não chegue atrasada no próximo ano, pois com propinas no Ensino Superior é impossível estudar, o que deveria ser pedido era que equipa local ganhasse a taça; em vez de se suplicar por mais direitos e garantias ao São João, o que deveria ser suplicado é que a sardinha esteja quente e apetitosa.
Não deveria caber aos Santos tais pedidos, pois esses milagres têm de ser responsabilidade do Estado e do Governo, que teima em não querer responder às preocupações e anseios do povo e do País. Teima em não assumir uma política que responda com mais financiamento e meios para os serviços públicos, nomeadamente na saúde e na educação, com mais profissionais, meios e equipamentos; teima em não contrariar os grandes e forçar os pequenos a sacrifícios, com políticas de baixos salários; teima em não assumir uma política de defesa e garantia de direitos como a cultura, os transportes e o desporto para todos. Teima em não assumir uma política verdadeiramente patriótica e de esquerda.
O ditado cunhado pela sabedoria popular que diz que “A união faz a força” pode facilmente caracterizar a grandeza destes dias, mas também o significado de que o povo é alegre, divertido, carinhoso e acima de tudo combativo e resistente! Tomemos da alegria destes dias a força para construir e exigir um futuro que nos sirva. Até porque Santos da Casa não fazem milagres!
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