Ismael é terrorista. Ismael é português. Os portugueses são terroristas.
Os refugiados são árabes. Os terroristas são árabes. Os refugiados são terroristas.
Duas conclusões, a mesma lógica da batata, a mesma ignorância básica na análise, a mesma xenofobia ignóbil.
Segundo as notícias avançadas hoje pelo “New York Times”, Ismael Omar Mostefai, o rapaz de 29 anos que foi identificado como um dos autores dos ataques no Bataclan, é filho de pai argelino e mãe portuguesa. Luso-descendente, portanto (e não português, mas as generalizações não olham às precisões de nomenclatura) . A confirmarem-se estas suspeitas, este facto singelo pode fazer mais pela luta contra o preconceito anti-refugiados em Portugal do que horas e horas de pedagogia básica sobre as diferenças entre uma religião e o extremismo em seu nome, entre uma nacionalidade e uma religião, entre um crente e um criminoso, entre um criminoso e um país.
Na cabeça de muitos portugueses – muitos mais e muito mais “normais” do que poderíamos à partida imaginar – estes conceitos elementares continuam a ser confundidos. Mal surgiram as primeiras notícias sobre os sangrentos atentados em Paris, começaram a chover os comentários anti-refugiados, como se uma e outra coisa estivessem relacionadas. “Abram as portas a estes tipos, dêem-lhes médicos de família e subsídios, e depois queixem-se de ter bombas à porta”, li algures. É só um entre milhares.
Este tipo de atitude tem um nome: xenofobia. Podia chamar-lhe ignorância, mas esta é condição essencial da primeira. A xenofobia alimenta-se da estupidez e do medo, que tolda a razão e faz geminar o pior que há nos seres humanos.
Repitamos, por isso, esta evidência até à exaustão: o terrorismo não é o Islão, o terrorismo não é o Islão, o terrorismo não é o Islão. Com a mesma convicção com que repetiríamos: os portugueses não são terroristas, os portugueses não são terroristas, os portugueses não são terroristas.