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Aconteceu de madrugada: o povo, farto de reclamar junto das autoridades soluções para travar a “onda criminosa”, decidiu tomar em mãos a tarefa, pela calada. Armada de marretas, martelos e outras ferramentas, meia centena de moradores – “e não só” – da zona do Bonfim, no Porto, desmantelou o urinol do Campo 24 de Agosto, “transformado desde há vários anos num autêntico antro de ladrões e homossexuais”, assim mesmo, conforme relatava o Jornal de Notícias de 8 de agosto de 1975.
Nessa altura, a democracia ainda gatinhava. A imprensa excitava-se a cada aglomeração popular e ganhava lastro o “Verão Quente” político, com vagas incendiárias, atentados, ameaças e refregas várias. Os preconceitos vinham do antigamente, o País demoraria a ser uma aquarela e o urinol, “construído em jeito de pagode chinês”, foi na barrela.
O JN tomava as dores da populaça feita milícia, pois, justificava, qualquer pessoa que tivesse “a infeliz ideia” de utilizar o local “corria grave risco de ser assaltado e roubado e, muitas vezes, agredido”. Como se não bastasse, “os homossexuais eram às dezenas e vagueavam até altas horas da noite por aquele jardim, por sinal bem tratado”, alertava-se. Ao momento de reduzir o urinol a chapa assistiram os “saudosistas” do dito que, “de olhos tristes, viam desaparecer o seu ponto de interesse”.
As forças militares e policiais, informadas do que se passara, chegaram tarde ao local, mas ainda a tempo de considerarem a destruição “uma obra de misericórdia”. Para gáudio geral, o urinol era, enfim, ruína. A polícia aprovou e até o jornalismo varreu “ladrões e homossexuais”, por junto e atacado, da frente. Naquele País do “Verão Quente”…