Com o início de um novo ano letivo, a nossa atenção coletiva centra-se naturalmente em proporcionar aos nossos filhos uma educação completa. O nosso foco é equipá-los com os conhecimentos e competências necessárias para as carreiras que escolhem e para um futuro cada vez mais incerto.
No entanto, há um aspeto crítico do seu sucesso futuro, que muitas vezes escapa à atenção: a literacia financeira.
Na nossa sincera tentativa de preparar os nossos filhos para o mercado de trabalho, investimos fortemente nas suas actividades académicas, extracurriculares e até em explicações. Mas há uma ausência completa de como podem gerir e planear as suas finanças. E esta é uma competência crucial para a vida.
Embora as escolas ensinem matemática, ciências e história, frequentemente deixam os alunos lamentavelmente mal preparados para gerir as suas finanças quando entram no mundo dos adultos.
O inegável défice de literacia financeira
O défice de literacia financeira é uma questão urgente que afeta os indivíduos e a sociedade como um todo. Os licenciados podem ser excelentes nas áreas que escolheram, mas muitas vezes não sabem como fazer um orçamento, investir, poupar para a reforma ou compreender as implicações do crédito.
Esta falta de conhecimentos leva, muitas vezes, a uma má tomada de decisões, a um stress financeiro e a um caminho mais longo para a independência. Hoje em dia, os jovens são chamados, cada vez mais cedo, a tomarem decisões financeiras e a usar produtos e serviços financeiros. É crucial estarem preparados.
Mais do que isso. Dificilmente os nossos filhos e alunos viverão períodos que lhes permitam armazenar poupanças avultadas apenas com aquilo que recebem mensalmente. E quando chegarem à idade da reforma, vão receber menos de metade do valor do seu rendimento no final da carreira profissional, segundo estimativas da Comissão Europeia. Se não lhes dermos as ferramentas certas, estaremos a condená-los a uma velhice com desafios.
Portugal tem, sistematicamente, registado maus desempenhos na avaliação desta temática. Não tenhamos ilusões: é um desafio para várias gerações, vai demorar tempo e será necessário o esforço e colaboração de todos.
Elevar a educação financeira
Integrar a educação financeira nos nossos currículos escolares é fundamental para a sociedade e para o desenvolvimento do país. Não é apenas uma questão de contar tostões; é uma questão de dotar os jovens com ferramentas para que possam tomar decisões informadas, sobre aspetos que afectam profundamente o bem-estar financeiro.
É uma competência para a vida que transcende os percursos profissionais. Quer os nossos filhos aspirem a ser médicos, engenheiros, artistas ou empresários, é essencial compreender como gerir o dinheiro.
Com elevada probabilidade, o recurso ao crédito vai acontecer ao longo da vida. É fundamental compreender as implicações de pedir dinheiro emprestado e como gerir a dívida de forma prudente.
Os indivíduos com literacia financeira estão mais bem equipados para navegar nas complexidades da economia moderna. Podem fazer escolhas informadas sobre investimentos, poupanças e planeamento da reforma, promovendo a estabilidade económica tanto a nível pessoal como social.
O ensino da literacia financeira pode aliviar a ansiedade e o stress, frequentemente associados à incerteza financeira. Isto, por sua vez, pode levar a um melhor bem-estar mental e emocional.
A educação financeira lança as bases para a segurança a longo prazo. Ao compreender conceitos como, por exemplo, os juros compostos ou custo de oportunidade, os alunos podem estabelecer uma base financeira sólida para o futuro.
Para colmatar o défice de literacia financeira, é necessário um esforço concertado, que envolva os pais, as escolas e os decisores políticos.
É essencial defender a inclusão de conceitos de literacia financeira, de forma estruturada, nos currículos escolares. Esta formação, deve começar bastante cedo e persistir ao longo da vida académica, garantindo que os alunos recebem uma educação consistente e progressiva nestas questões.
Ainda é em casa que a maioria destes conceitos e exemplos são passados aos jovens. Os pais desempenham um papel fundamental na introdução de conceitos financeiros. Sendo que os dados são muito reveladores: Portugal está entre os países europeus com menor literacia financeira. O que significa que muitos pais não saberão dotar os seus filhos destes conhecimentos.
Ainda assim, é fundamental que se fomentem discussões em casa, que se envolva toda a família para debater orçamento, poupança e gastos responsáveis. É imperativo incentivar estas conversas sobre o mundo real. Só assim os jovens começarão a estar munidos de conhecimento.
Em suma, embora continuemos empenhados em proporcionar aos nossos filhos a melhor educação possível, não devemos ignorar a competência crítica para a vida que é a literacia financeira. É uma competência que se estende para além das escolhas de carreira, capacitando os nossos jovens para tomarem decisões informadas sobre o seu futuro financeiro.
Devemos garantir que os nossos alunos se formam não só com proezas académicas, mas também com a perspicácia financeira necessária para prosperar no mundo real.
Se considerarmos que Finanças Pessoais tem mais de “pessoal” do que de “finanças”, ou seja, que os comportamentos se sobrepõem aos conceitos, facilmente compreendemos que quanto mais cedo começarmos, mais sustentável serão os ensinamentos.
Se não estamos dispostos a contratar, nem queremos que os nossos filhos avancem para o mercado de trabalho sem a formação adequada, como permitimos que encarem a vida sem ferramentas básicas?
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