Se ainda existissem dúvidas, a cerimónia solene na Assembleia da República demonstrou que o 25 de Novembro, apesar da sua inegável importância para a História recente de Portugal, não é uma data com o simbolismo e a força suficientes para unir o País. Precisamente o contrário do que sucede, há 50 anos, em relação ao 25 de Abril, “o dia inicial inteiro e limpo” onde, como escreveu Sophia de Mello Breyner, “emergimos da noite e do silêncio”, com o consenso generalizado de que estávamos, coletivamente, a iniciar uma nova era na “substância do tempo”.
A História está permanentemente a ser reescrita, obedece a várias interpretações, mas precisamos sempre, em qualquer circunstância, de tentar ser fiéis aos factos. E esses são perentórios a vincar a diferença entre as duas datas, em especial nas reações populares que suscitaram. Poucos dias depois do 25 de Abril, os portugueses saíram à rua para celebrar o 1º de Maio, numa manifestação espontânea e irrepetível que foi, porventura, uma das mais belas declarações de amor à liberdade a que se assistiu nessa época, em todo o mundo. Nos dias a seguir ao 25 de Novembro, a situação era completamente diferente: o País continuava em estado de sítio, era proibido sair à rua durante a noite e os jornais, impedidos de circular, tudo para tentar impor a ordem, numa nação profundamente dividida e que esteve à beira de uma guerra civil.