A mentira, o engano e a batota não são um exclusivo dos humanos, mas antes armas comuns às espécies do mundo biológico. Todos conhecemos animais que mudam de cor para se confundirem com o meio ambiente, outros que, apesar de inofensivos, conseguem mascarar-se de seres perigosos para afastarem os predadores, e são inúmeras as classes de aves e de primatas que recorrem às mais diversas artimanhas para poderem acasalar. Uma das descobertas mais surpreendentes da Ciência é mesmo a constatação de que nem é preciso ter um cérebro ou sequer um neurónio para enganar. As plantas também o fazem, bem como os fungos e até as bactérias e os vírus, conforme é bem documentado pelo cientista chinês, radicado nos EUA, Lixing Sun, num livro originalmente editado pela prestigiada Universidade de Princeton e que acaba de ser publicado em Portugal, com um título sugestivo: Os Mentirosos da Natureza e a Natureza dos Mentirosos (ed. Temas & Debates).
Conforme explica o zoólogo, a razão por que o engano é um recurso comum no mundo biológico tem uma explicação simples e facilmente verificável: é necessário à sobrevivência. Na sua tese, Lixing Sun acrescenta outro fator importante, nem sempre valorizado até agora: o engano é, por si próprio, um potente motor de evolução. Isto, porque promove a competição entre o enganador e o enganado, obrigando-os a encontrar novas trapaças ou estratagemas para poderem cumprir os seus dois principais objetivos: ajudar a sobreviver e promover a reprodução.