Quando, em julho de 2011, as agências de rating classificaram como “lixo” a dívida pública portuguesa, fazendo subir as taxas de juros para níveis ainda mais insuportáveis e obrigando a novas medidas de austeridade, rapidamente se levantou um coro de protestos. À indignação perante o aumento do custo de vida juntou-se a afronta de ver a imagem do País atirada para um nível de “lixo”. Agora, 12 anos depois, as mesmas agências de rating começam a elogiar Portugal como um exemplo no controlo da dívida pública. E, uma a seguir à outra, passaram a classificar-nos com a nota máxima de A, o que representa um sinal de “estabilidade” e de “confiança” para quem queira investir na nossa dívida. Com óbvio benefício para o País: o Estado passa a pagar juros mais baixos e a dívida pública pode descer mais depressa.
No entanto, com a exceção da natural autocongratulação do Ministério das Finanças por conseguir “a melhor avaliação de risco da sua dívida pública em 12 anos”, esta mudança passou quase despercebida, sem qualquer sinal de entusiasmo, em claro contraste com o que sucedeu quando fomos atirados para o “lixo”. E porquê? Porque, no atual momento, ninguém sente esta transformação como relevante para as suas vidas, como algo que tenha uma influência direta no seu poder de compra ou até na esperança em melhores dias.