Que uma boa comunicação entre o casal é importante todos nós já sabemos. Mesmo com os altos e baixos, falar sobre os problemas torna mais fácil lidar com eles, com vista a chegar a um entendimento e à sua resolução. Mas será que a comunicação numa relação implica falar sobre tudo com o cônjuge?.
Qualquer pessoa que se encontra numa relação espera que o(a) parceiro(a) seja sincero(a) e que não esconda nada que possa ser relevante. No entanto, embora a sinceridade seja a base de qualquer relacionamento, há certos assuntos que não é preciso partilhar. O que não quer dizer que se está a omitir ou a mentir em relação a algo, mas sim compreender que nem sempre convém contar tudo ao outro, tornando a partilha de certos assuntos opcional e não obrigatória.
Tem de haver um equilíbrio entre a partilha para que um lado da relação não sinta um sentimento de invasão no espaço pessoal e uma falta de individualidade, pois é bom que ambos tenham espaço para a sua própria privacidade. Há coisas que é melhor simplesmente não contar ou então que não vão acrescentar qualquer valor ao relacionamento atual e, pelo contrário, poderão ser prejudiciais ao casal e gerar insegurança e ansiedade. Mas é preciso ter cuidado, uma vez que nos momentos de conflito, determinados temas poderão ser abordados apenas com o intuito de vingança, de forma a assumir o controlo da situação ou de descarregar a culpa que sente, o que pode, claro, vir a ferir o(a) parceiro(a).
É necessário ter em mente o conceito de diferenciação do casal: o “tu existes sem mim”. Os termos conjugalidade e individualidade vão surgindo com intensidades diferentes em cada etapa da vida do casal e torna-se relevante tê-los em consideração. Existem sempre duas pessoas numa relação, pelo que nenhum é propriedade do outro, mas sim complemento. Se o sentimento de posse existir, é necessário trabalhar a confiança em si próprio e na outra pessoa. Com o tempo, e ao elevar a autoestima, passará a amar-se mais e a não depender tanto do(a) parceiro(a) de forma emocional. O também saber estar em casal é necessariamente sabermos estar connosco próprios. E, para isso, é importante trabalharmos na nossa autoestima, autoconfiança e autoconhecimento para que os nossos comportamentos e ações não interfiram na relação.
Torna-se necessário estabelecer um limite de privacidade no início da relação, porque só assim poderemos preservar o nosso “eu” individual. Nunca se esqueça de que antes de serem um casal, já eram pessoas individuais com certas características, qualidades e defeitos, pelo que é perfeitamente normal que ambos queiram estar sozinhos de vez em quando, sem que isso afete a dinâmica e intimidade do casal. O conceito de privacidade não deve ser nunca confundido com o esconder alguma coisa do cônjuge, apenas é dar ao(à) parceiro(a) espaço para respirarem sozinhos. Se a individualidade for respeitada, a relação terá certamente mais qualidade.
Posto isto, há aspetos sobre nós e sobre a nossa existência que pode fazer sentido guardarmos apenas para nós. Apenas terá de pensar: será isto esconder uma verdade ou apenas estarei a manter a minha privacidade?. O importante é sentir-se bem com aquilo que guarda, sem prejudicar o outro, nem o relacionamento. A comunicação em casal não implica necessariamente contar tudo e será sempre o bom senso individual a definir os limites daquilo que é um segredo ou apenas algo sem gravidade.
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