A sua câmara fotográfica é, fundamentalmente, uma câmara escura que, quando prime o botão disparador, se “abre” momentaneamente para registar luz, criando uma fotografia.
O registo da luz depende de três variáveis: a Abertura (diâmetro do diafragma presente na objectiva), a Velocidade de obturação (tempo que o obturador está aberto, expondo o interior da câmara à luz) e a Sensibilidade ISO (sensibilidade do sensor de imagem à luz disponível).
Para além destas três variáveis serem responsáveis pela quantidade de luz registada — a “exposição”, que dá origem à fotografia —, elas têm um impacto criativo considerável nas suas imagens. Sendo assim, na prática, o que é que pode fazer com cada uma delas? Fácil! Vejas as próximas sugestões e potencie a sua criatividade em três passos essenciais.

A combinação entre abertura, velocidade de obturação e sensibilidade ISO foram cruciais não só para registar a luz — conseguindo criar uma fotografia —, mas também para conseguir os efeitos criativos que se percebem nesta imagem. Descubra como e aplique nas suas fotografias!
© Joel Santos – www.joelsantos.net, Bali, Indonésia.
Passo 1: Abertura — Quantos planos desejar ter nítidos?
O nosso olhar está biologicamente programado para prestar atenção às zonas de maior nitidez numa imagem, pois, tipicamente, são as mais ricas em informação relevante. Assim, controlar a quantidade de planos nítidos numa fotografia é crucial, pois permite enriquecer e/ou simplificar a mensagem, tornando a composição da imagem mais eficaz e apelativa.
Assim, depois de focar para uma dada zona, digamos os olhos num retrato, será a abertura do diafragma definida que controlará a ‘profundidade de campo’ — i.e. a quantidade de planos nítidos, antes e depois do ponto onde se efetuou a focagem. As imagens seguintes são bons exemplos disto mesmo.

Sendo a abertura descrita por valores de f/, um valor de f/ pequeno (por exemplo, f/2.8 ou f/4) garante uma pequena profundidade de campo, ideal para retratos em que se pretende o motivo nítido com um plano de fundo atraentemente desfocado. Neste caso o olhar do jovem rapaz ganha protagonismo, pois apenas a sua face se encontra nítida.
© Joel Santos – www.joelsantos.net, Tribo Erbore, Vale do Omo, Etiópia.

Contrariamente ao exemplo anterior, um valor de f/ elevado (por exemplo, f/11 ou f/16), confere uma maior profundidade de campo, adequada para fotografia de paisagem natural ou urbana, na qual é frequente desejar ter nitidez no primeiro plano, mas, também, nos planos mais afastados.
© Joel Santos – www.joelsantos.net, Templo de Borobudur, Java, Indonésia
Passo 2: Velocidade de obturação — Quer congelar ou arrastar os motivos?
A fotografia tem uma característica que a separa claramente do vídeo: a narrativa é contada em apenas um fotograma. Como tal, ao contrário do vídeo, no qual o movimento é facilmente representado por uma sucessão de imagens, numa fotografia a impressão de movimento só pode ser transmitida através de um punhado ardis visuais: postura do motivo (orientação das pernas de um futebolista no momento do remate, por exemplo), sensação de gravidade (criança num baloiço quando este está numa posição elevada, por exemplo) e congelamento/arrastamento (mão a acenar surge como um borrão arrastado numa imagem, por exemplo).
Tomando como referência a última hipótese, será a velocidade de obturação usada que determinará se um motivo em deslocação surge congelado ou arrastado na fotografia. Novamente, as imagens seguintes constituem dois bons exemplos práticos.

A velocidade de obturação pode ser melhor entendida como o tempo de exposição — logo, simplificando, quando a velocidade é elevada, o tempo de exposição é curto. Neste caso uma velocidade de obturação de 1/400 seg., uma ínfima parte de um segundo de exposição, foi suficientemente ‘rápida’ para congelar o motivo, fazendo com que este surja representado como algo ‘estático’.
© Joel Santos – www.joelsantos.net Cavaleiro na savana de cinza vulcânica junto ao Mount Bromo e Mount Batok. Vulcão Bromo, Java, Indonésia. Bali, Indonésia

Quando as velocidades são extremamente baixas — ou, melhor dizendo, quando os tempos de exposição são longos —, começa a ser fácil registar os motivos em movimento com arrasto. Contudo, tempos de exposição mais longos obrigam, normalmente, a usar um estabilizador de imagem ou até mesmo a apoiar a câmara num tripé. Nesta fotografia, um tempo de exposição de 40 seg. arrastou bastante a água do rio e ligeiramente o céu com nuvens sopradas pelo vento, transmitindo a sensação de passagem do tempo. Já ponte e as montanhas, que permaneceram imóveis durante a exposição, tal como a câmara, aparecem ‘congeladas’, produzindo um bom contraste visual face às zonas arrastadas.
Foto: © Joel Santos – www.joelsantos.net, Região Oeste da Mongólia junto a cadeia montanhosa Altai, Mongólia
Passo 3: Sensibilidade ISO — Qualidade de imagem ou agarrar o momento?
Quem fotografou com câmaras analógicas, as que usavam um rolo com filme em vez de um sensor digital, certamente se recorda de tomar a decisão de escolher uma película com 100 ASA, 200 ASA, 400 ASA, 800 ASA, etc. Provavelmente, também se recordará que essa decisão dependia da quantidade de luz disponível que se esperava encontrar ao fotografar — uma praia num dia soalheiro, uma floresta num dia nublado ou uma festa de anos no interior de uma casa, são exemplos recorrentes.
Com a fotografia digital a notação ASA passou para a designação ISO, bastando um botão para, num instante, alterar a sensibilidade de ISO 100 para ISO 800. E, sem desenvolver todas as razões possíveis para querer alterar a sensibilidade, a principal continua a ser a mesma: quando a luz escasseia, é essencial aumentar a sensibilidade ISO, pois tal garantirá velocidades de obturação suficientemente elevadas para congelar os motivos (isto, claro, se for esse o objectivo, tal como se viu no Passo 2). Contudo, esse incremento de sensibilidade tem um custo: quanto maior for a sensibilidade ISO, menor será a qualidade de imagem, pois o ruído digital aumenta com essa variação.
Uma vez mais, a imagem seguinte procura mostrar como, por vezes, aumentar a sensibilidade ISO é fulcral para registar um momento especial.

Tendo em consideração o que foi referido antes, caso deseje congelar um motivo, há que tomar uma decisão basilar: é mais importante ‘agarrar’ o momento (o que pode implicar usar um ISO elevado) ou privilegiar a qualidade de imagem (o que envolve definir o ISO mais baixo possível)? É um juízo muito subjetivo, mas a fotografia anexa mostra como registar o momento decisivo (ou seja, o olhar cruzado e o abrir da asa da águia dourada) foi mais importante do que a perda de qualidade de imagem (a qual, em boa verdade, foi residual). Assim, usar ISO 1000 foi essencial para, com uma abertura de f/3.5 e dada a fraca luz ambiente, obter uma velocidade de 1/400 seg., congelando o movimento da águia e, também, evitando uma imagem tremida.
Foto: © Joel Santos – www.joelsantos.net, Caçador com Águia, Nómada Cazaque, Mongólia
E já está! Três variáveis, três passos, três pilares para melhorar as suas fotografias. Boas fotos!