Depois da terceira derrota da época contra o Sporting e cinco meses depois do terramoto do verão, quando Jesus trocou a Luz por Alvalade, ficou claro que a estratégia de Luís Filipe Vieira falhou a toda a linha. E que o caso pode ganhar contornos de ainda maior dramatismo se a equipa não sair de Braga, na próxima segunda-feira, com uma vitória que mantenha minimamente viva a chama de chegar ao tricampeonato.
Se assim não for, depois de perder a Supertaça e de se ver afastado na Taça de Portugal, ficaria a restar ao Benfica a Taça da Liga e… a Liga dos Campeões. Se esta última não passa de uma utopia, a primeira tem o condão de ser mais uma dor de cabeça, visto que a sua conquista será sempre um fraco consolo, mas uma derrota poderá ser mais um grande abalo, visto ser uma competição tradicionalmente ganha pelos da Luz.
A estratégia de Vieira foi clara. Numa época de desinvestimento e obrigatoria aposta na formação, percebeu que Jesus não era o homem certo. Era caro e habituado a planteis caros. Confiante na estrutura profissional criada no Seixal, o presidente do Benfica acreditou que o clube saberia atravessar esta mudança de paradigma com um treinador novo, devidamente enquadrado por essa equipa. Até aqui tudo bem. Aquilo com que Vieira não contava era com a ida de Jesus para o eterno rival. E, a partir desse momento, os equívocos e os problemas foram-se sucedendo.
Primeiro a escolha do treinador. Com Jesus em Alvalade, aumentou exponecialmente o risco de apostar num técnico pouco habituado à pressão dos grandes clube. Uma coisa seria apostar em Rui Vitória com Jesus a treinar uma equipa algures nas arábias. Com o ex-técnico no eterno rival, o Benfica deveria ter apostado em alguém com outro peso e estofo. O resultado está à vista. Ao fim de cinco meses, o treinador do Benfica continua a tentar encontrar a equipa, um sistema de jogo, uma postura e um estilo de comunicação. E o problema é que a cada tentativa tem correspondido quase sempre um erro. Em quatro clássicos, quatro derrotas.
O segundo fracasso (porventura o mais rotundo) foi a aposta na “Estrutura”. Do início da pré-epoca até hoje, falhou tudo: um estágio milionário mas desgastante e pouco produtivo em termos desportivos; inúmeras contratações falhadas; demasiado foco no ataque a Jesus e fraquíssimo enquadramento ao novo treinador. E o pior de tudo foi a falta de resposta à ofensiva de Bruno de Carvalho no que diz respeito às arbitragens. O Benfica deixou-se encurralar pela teia de insinuações e acusações que, ao não terem merecido uma resposta clara e definitiva, o deixaram completamente vulnerável. E, em poucos meses, a equipa que tão acusada era (e ainda é) de ser beneficiada pelas arbitragens, acaba a com legítimas razões de queixa. E, aqui, é Rui Vitória que tem razão: quem não faz barulho arrisca-se a acabar “comido de cebolada”. E este é um erro demasiado grave para uma estrutura que, nos últimos anos, parecia ter percebido perfeitamente este dado da equação: a intensidade do barulho costuma ser inversamente proporcional à frequência dos erros que prejudicam as equipas grandes.
Finalmente, o Benfica parece estar também a perder o famoso “colinho”. E não, não me refiro às arbitragens. Falo, isso sim, do apoio incondicional que os adeptos vinham dispensando à equipa nas últimas temporadas. Há muito que não se assistia, no Benfica, a incidentes como os que ocorreram esta semana, com grupos de adeptos a mostrar o seu descontentamento junto da equipa. Dirão que são apenas meia dúzia de pessoas. É verdade. Mas não deixa de ser um sinal claro de que a paciência dos adeptos (pelo menos de alguns ou de algumas fações) se está a esgotar. E isso, quando se aproxima um ano de eleições, pode acabar por se tornar mortal para o projeto de Luís Filipe Vieira.