Falta pouco mais de um mês para as eleições europeias, que se realizam nos 27 Estados-membros entre 6 e 9 de junho. Em Portugal, o escrutínio vai ocorrer no último dia deste período, a 9, num fim de semana prolongado, o que não augura nada de bom no que toca à participação eleitoral. O governo anterior ainda tentou, em vão, que as eleições fossem marcadas para o final de maio, argumentando que a data era muito inoportuna por causa dos feriados.
Não são apenas os cidadãos a ter a perceção de que a sua vida não é afetada pelas decisões tomadas no Parlamento Europeu e, por isso, tendem a abster-se mais nestas eleições. A verdade é que até os próprios partidos políticos as desvalorizam (à hora de fecho destas páginas, o PSD, que vai voltar a concorrer coligado, e o PS ainda não tinham revelado os cabeças de lista). Por tudo isto, a abstenção nas eleições europeias costuma ser elevada, e nada nos diz que em 2024 será muito diferente. Nas últimas, em 2019, a taxa atingiu os 69,3%, o seu pico (superior à média na União Europeia, 49,4%).Tendo em conta as condições de governabilidade, também haverá, claro, leituras nacionais a fazer dos resultados das próximas europeias. A procissão ainda vai no adro e, com o ciclo político-mediático em aceleração constante, daqui até junho, tudo pode acontecer. Para já, segundo uma sondagem da Aximage, para o Jornal de Notícias, Diário de Notícias e TSF, divulgada no fim de semana passado, o PS soma 31,3% das intenções de voto, mais 6,5 pontos percentuais do que a Aliança Democrática (24,8%). O Chega ocupa o terceiro lugar, com 18,4%, à frente do Bloco de Esquerda (5,9%), Iniciativa Liberal (5,8%), CDU (4,1%), Livre (3,6%) e PAN (1,8%). A guerra da Ucrânia e, sobretudo, a necessidade de um apoio militar relevante conferem uma importância ainda maior às eleições de 2024, que acontecem num momento político particular. A Europa extremou-se, e exemplo disso são as várias coligações de governo que integram partidos políticos de direita radical. Se, há 20 anos, 80% dos governos dos Estados-membros eram dirigidos por um partido social-democrata ou democrata-cristão, hoje apenas 20% são liderados pelo chamado mainstream. Logo no princípio do ano, o European Council on Foreign Relations publicou uma projeção que aponta que as forças de direita radical e de extrema-direita deverão conquistar entre 183 e 197 dos 720 lugares a eurodeputado. Na altura, um dos autores do estudo, Kevin Cunningham, chamou a atenção para as consequências de essas forças virem a representar 25% do hemiciclo: “A composição do Parlamento Europeu vai deslocar-se acentuadamente para a direita, nas eleições de junho deste ano, o que poderá ter implicações significativas para a capacidade de a Comissão Europeia e de o Conselho da União Europeia levarem por diante os seus compromissos em matérias de política externa e ambiental, incluindo a próxima fase do Pacto Ecológico Europeu.”