É o programa de televisão mais antigo e o acontecimento não desportivo com mais audiência do mundo. A 6 de abril de 1974, um desconhecido grupo de quatro suecos ganhou o festival da Eurovisão e entrou para a história. Os Abba, com a canção Waterloo, não deram qualquer hipótese ao representante português, Paulo de Carvalho, que ficou em 14.º e último lugar. Felizmente, para todos nós, em Portugal, ‘E Depois do Adeus’ acabaria por ser muito mais importante do que a música orelhuda com o nome da batalha que ditou o fim de Napoleão: serviu de primeira senha para a Revolução dos Cravos e abriu caminho à instauração de uma democracia no retângulo mais ocidental do Velho Continente.
Organizado ininterruptamente pela União Europeia de Radiodifusão (UER) desde 1956, o espetáculo cuja final se realiza amanhã em Malmö, na Suécia, sempre refletiu a evolução dos países que nele participavam. Mais do que o microfone de cristal a que o vencedor tem direito, jogam-se relações de poder, alianças e divisões entre estados. Os regulamentos e a tradição mandam dizer que se trata de um acontecimento “apolítico”, de “união entre os povos através da música”, embora toda a gente saiba que tal não corresponde à verdade. A começar pelos opacos critérios de seleção de quem pode ou não participar.