Uma equipa de investigadores da Universidade de Ciências Médicas e Saúde de Dublin, na Irlanda, realizou um estudo em que analisou os compostos químicos presentes nos cigarros eletrónicos aromatizados. A investigação, publicada na revista científica Scientific Reports, recorreu a um programa de Inteligência Artificial para analisar a composição química de 180 líquidos com aroma para cigarros eletrónicos e simular a forma como os mesmos se decompõem quando aquecidos. Os cientistas acreditam que a ferramenta de IA acelerou o processo de investigação que, sem recurso à mesma, demoraria décadas.
Ao todo, na amostra analisada, foram encontradas 505 substâncias químicas perigosas das quais 127 foram classificadas enquanto “agudamente tóxicas”, 153 como “perigosas para a saúde” e 225 “irritantes”. Quase todos os sabores – como morango, melão e mirtilo – analisados apresentaram, pelo menos, um composto químico classificado enquanto perigoso para a saúde, sendo que muitos apresentaram vários.
A utilização de cigarros eletrónicos envolve o aquecimento de soluções químicas a altas temperaturas e a inalação das mesmas. Estudos anteriores já mostravam que alguns cigarros eletrónicos com aroma produzem compostos orgânicos voláteis perigosos – também conhecidos através da sigla COV –, devido a este processo de aquecimento. Estes compostos são conhecidos pelas consequências perigosas que têm em condições de saúde como doenças pulmonares crónicas, doenças cardiovasculares e cancros. “Os aerossóis produzidos pela vaporização de cigarros eletrónicos contêm misturas imensamente complexas e não caracterizadas de produtos de pirólise, cujas implicações para a saúde ainda não foram, na sua maioria, identificadas”, explicaram os autores do estudo, Donal O’Shea e Dan Wu.
Originalmente, os aromatizantes utilizados na produção destes produtos surgem na indústria alimentar, não estando prevista a sua inalação e aquecimento a altas temperaturas.
Dada a popularidade dos cigarros eletrónicos aromatizados, especialmente entre as faixas mais jovem, os cientistas acreditam que esta investigação pode ajudar a perceber os riscos que estes cigarros têm para a saúde dos utilizadores a longo prazo. “Como a vaporização é um stress novo e sem precedentes para o corpo humano, com a capacidade de gerar produtos de pirólise mais tóxicos do que os seus compostos de origem, parece prudente limitar estritamente o número de entidades químicas nos e-líquidos”, concluíram.