Quando chega o verão, as minhas memórias transportam-me invariavelmente para a minha infância. Uma das mais recorrentes, eram as ocasiões em que ia a casa de um familiar afastado, numa freguesia do concelho de Santarém. Ficava numa zona rural, com uma área considerável de vinha, um ajardinado muito agradável em frente à casa e uma piscina. A coisa de 50 metros da casa, havia uma casota de cão de plástico, habitada por um espécime imponente, de uma dessas típicas raças de cães de guarda. Eu tinha medo dele e não estava autorizado a chegar-me perto, mas sempre me apeteceu ir lá para o soltar da corrente… o pobre bicho passava mal, boa parte do tempo.
Já vamos avançados na época de calor, mas sendo este o mês em que mais pessoas aproveitam para deixar a rotina diária, pareceu-me valer a pena falar um pouco sobre os cuidados a ter com os nossos bichos, não só pelo calor em si, mas também por tudo o que a ida de férias envolve para um animal de estimação.
Devemos recordar-nos que não é apenas a nossa rotina que se altera. Essa mudança é imposta aos nossos bichos e pode trazer consequências, ora relacionadas com a nossa desatenção (face a necessidades que não estamos acostumados a ter de acautelar), ora relacionadas com a reação emocional a uma nova realidade. Vejamos então:
Gatos
Já todos estarão – certamente – cansados de saber que é preciso estimular o consumo de água nestes bichos. Ainda assim, vale a pena reforçar, não somente pelo calor que se faz sentir, mas também porque uma mudança repentina na vida de um gato poderá representar uma fonte adicional de stress, de tal forma, que o leve a comer e beber ainda menos. Tentem não se esquecer da comida a que eles estão habituados, pois poderão não conseguir comprar igual no local de férias e acabar por se tornar numa situação de recusa em alimentar-se, ou alimentar-se deficientemente.
Ainda que o vosso gato esteja habituado a ter janelas e portas abertas, regressando independentemente a casa após um passeio, não confiem de igual forma num local que lhe é estranho, pois poderá fugir.
Cães
Casotas de plástico são autênticas estufas. Se o vosso cão passa muito tempo na rua durante o dia, casotas de madeira ou de cimento pintado a branco são as mais indicadas para um local de refúgio do Sol. Garantam ainda que trocam regularmente a água da taça, e que a mesma se encontra à sombra. Caso contrário, a água irá aquecer bastante e tornar o seu consumo impraticável.
Procurem sempre ajardinados para os passear, preferencialmente nas horas de menor calor, recordando-se que o asfalto ou cimento poderão causar-lhes queimaduras nas almofadinhas palmares e plantares.
Sempre que os levarem à praia, façam uso de um recipiente para água, “regando-lhes” complementarmente o corpo, especialmente aos bichos com pelagem mais escura. O uso de protetor solar (próprio para animais de estimação) deverá ser aplicado no nariz, face interior das orelhas, peito, barriga e períneo. Também aqui, deverão ter atenção à temperatura da areia, havendo adicionalmente cães com a pele mais sensível e cujo contacto com a areia acaba por lhes ferir os dedos (passar creme hidratante ao final do dia pode ser importante). Evitem ainda que eles brinquem com pedras (pela saúde dentária) e que bebam água do mar. Para os que gostam de se banhar, não se esqueçam de lhes secar bem as orelhas e pavilhão auricular, ajudando assim a evitar otites.
Nas viagens de carro, caso o vosso cão tenha tendência a vomitar, promovam um jejum prévio de algumas horas. Sempre que a viagem seja longa, promovam pausas pelo menos a cada duas horas, permitindo ao vosso cão fazer as necessidades e beber água.
Pássaros
Apesar de não ser adepto da existência de passarinhos em gaiolas, quem os tiver – especialmente os colocados nas fachadas de prédios – deverá recolhê-los para local fresco e com sombra, dado que os “ninhos” (abrigos) revelam-se inúteis nos dias de maior calor. Poderão deixar as gaiolas numa posição que apanhe Sol ao longo do dia, desde que consiga ter local de sombra, movimentando o bebedouro para a parte protegida. Poderá ainda ser boa ideia colocar algum recipiente, cheio com água, para que eles se possam banhar.
Coelhos e roedores
Tanto os lagomorfos (coelhos), como as mais comuns espécies de roedores, costumam adaptar-se bem às deslocações, sem grande problema de adaptação, dado habitualmente estarem restritos às suas jaulas.
No entanto, quando de férias em alojamentos com relva ou espaço de quinta e caso os decidam soltar um pouco, tenham em atenção alguma erva menos indicada ou com tratamento que possa haver. Quando em zonas de campo, ter atenção a aves de rapina que os possam ter na mira. Ainda que, habitualmente, não façam investida com humanos por perto, caso decidam deixar o vosso coelho a passear pelo quintal enquanto dormem a vossa sesta, poderão ter uma surpresa desagradável ao despertar.
De resto, para qualquer que seja o animal que levem convosco de viagem, seja de carro, camioneta ou comboio, recordem-se que as transportadoras devem estar protegidas do Sol, mas sem comprometer o arejamento. O uso do porta-bagagens ou da chapeleira do carro devem ser evitados, por motivos de segurança.
Sempre que a viagem for para fora do país, deverão consultar as normas do país de destino e em certos casos, adquirirem passaporte para o vosso animal de estimação.
Lembrem-se sempre que os vossos animais sofrem bastante com as temperaturas elevadas, sendo o seu mecanismo de combate relativamente pouco eficaz e comprometedor. Essencialmente, a perda de calor faz-se pela expiração, através do vapor de água libertado pelos pulmões. Não tendo um processo de sudação, como o nosso, os nossos animais desidratam muito mais rapidamente do que nós.
Por fim, recordo-vos apenas que, nos dias de maior calor, não deverão deixar os vossos animais nos carros, ainda que com as janelas entreabertas e à sombra. Sejam responsáveis, pois eles dependem completamente disso para passarem bem o verão.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.