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Desde logo um esclarecimento: a autobiografia em banda desenhada é sempre ficção. E das piores, no melhor sentido do termo. No mínimo porque a interpretação/representação feita pela personagem/autor não é necessariamente a mais verdadeira para outros intervenientes nos factos relatados (além da “mentira” criada desde logo pela representação, no sentido em que os desenhos não “são” pessoas “reais”). No máximo, porque a verdade serve apenas como ponto de partida, para ser narrativamente embelezada/dramatizada como mais convier. Marco Mendes assinala isso mesmo no final da sua colectânea Diário Rasgado: 2007/12, um livro que marca a entrada a sério na banda desenhada portuguesa de um género que tem sido claramente muito lido por autores nacionais, mas com consequências relativamente escassas do ponto de vista criativo; que vão desde uma influência não totalmente assumida em obras com mérito (Victor Mesquita, Paulo Monteiro, Ricardo Cabral), a coisas apenas úteis de ponto de vista sociológico-jornalístico (Marcos Farrajota).
O livro é feito de pequeníssimas histórias num formato constante (uma página, quatro vinhetas). Tal como nas tiras humorísticas tenta-se pois cristalizar num espaço mínimo uma ideia, um momento, uma sensação, um acontecimento. Do humor à tragédia, passando pelo non sequitur, Marco Mendes seleciona um pouco de tudo. É perpassa muito da filosofia e modo de estar “slacker” onananisto-depressivo (circa 1990) em Diário Rasgado, e é possível que alguma da frustração que (também) surge com a leitura do livro venha daí. Mas não abundam, felizmente, o escatológico básico, ou os excessos banais. De resto esses episódios funcionam como meras cortinas para esconder (e, portanto, enfatizar) instantes de emotividade vulnerável e sensação de perda, a partir dos quais surgem também instantes contemplativos sem palavras. E é aí que se revela o imenso talento no trabalho de Marco Mendes, com o preenchimento do desenho com cor e traços (visível sobretudo nos trabalhos mais recentes) a dar outro peso, outra angústia, outra vibração. Por outro lado, nesses momentos de isolamento há menos riscos do envolvimento de outros, sentindo-se uma libertação genuína e, dentro da mentira controlada do género, honesta.
A leitura de Diário Rasgado dá vontade de reler muita BD autobiográfica com um forte cunho de reflexão pessoal, de Fabrice Néaud, Joe Matt, Joe Chiapetta, Janus e Madison Clell (o desenho tem uma genealogia que lembra os dois últimos, embora os transcenda do ponto de vista formal), às paisagens urbanas magnificamente silenciosas de Paul Madonna (All over Coffee, Everything is its own Reward). Passando pelas histórias curtas de dois autores fundamentais a captar os pequenos absurdos da existência diária: David Greenberger (Duplex Planet) e, sobretudo, as histórias/reflexões curtas de Harvey Pekar (American Splendor). Nesse contexto um pouco mais alargado (e porque o trabalho merece transcender a realidade nacional) Diário Rasgado: 2007/12 deixa duas ideias fundamentais e uma promessa, assemelhando-se nesse aspeto a uma outra estreia em livro, a de Paulo Monteiro (O amor infinito que te tenho e outras histórias). É livro surpreendente nas suas qualidades, apesar da sensação constante de que podia ser muito melhor do que aquilo que é, talvez também pelo extenso período de criação artística que cobre, e pela desigualdade que inevitavelmente surge. Mas é também um testemunho notável de potencial, a trabalhar e descobrir.
Diário Rasgado: 2007/12. Argumento e desenhos de Marco Mendes. Mundo Fantasma/A Mula/Turbina, 84 pp., 15,90 Euros.
Diário Rasgado: 2007/12. Argumento e desenhos de Marco Mendes. Mundo Fantasma/A Mula/Turbina, 84 pp., 15,90 Euros.