Tarab significa, em árabe, um estado de graça, que corpo e alma atingem através da música. Aprendi-o nas minhas pesquisas sobre Asif Ali Khan & Party, um grupo de música qawwali, do Paquistão, que pretende causar, precisamente, um efeito tarab na audiência. Foi o que fizeram no Festival Músicas do Mundo de Sines (que decorreu de 18 a 27 de julho). O Senhor Asif Ali Khan e a sua secção rítmica e vocal, os Party, levaram-nos a um autêntico e maravilhoso transe.
Agradeço-lhes, por isso, e por me terem feito descobrir a palavra tarab. Assim poupam-me o trabalho de encontrar outras que possam descrever o que foi esta 15.ª edição. Digo só assim: foi um tarab pegado. Aliás, é sempre. Acho até que deviam mudar o nome do festival para “Tarab”. Ficava tudo dito.
É que isto não é um festival. É uma volta ao mundo em 15 dias. E a surpresa e intensidade da viagem elevam-nos a um estado de graça, onde, de repente, tudo parece fazer sentido.
Só no último fim-de-semana, fomos ao Mali de Rokia Traoré, uma das vozes mais envolventes do planeta, que faz de cada canção um abraço. Também atravessámos o deserto maliano com o blues rock psicadélico dos tuaregues Tamikrest. Estivemos no Japão, num lugar estranho chamado Shibusa Shirazu Orchestra: sem dúvida, o melhor e mais desconcertante espetáculo visual do festival. Passámos pela China, na companhia dos DaWangGang, cuja música tem qualquer coisa de sagrado – parece que estão a dizer-nos ‘a verdade’, ainda por cima numa língua que desconhecemos. Enfim, podia falar de muitos outros destinos musicais, mas não tenho mais espaço. Fica a ideia: isto não é um festival. É um barco onde cabe toda a Humanidade.