O ‘bar’ a que nos referimos no título é, obviamente, figurativo, mas não é todos os dias que os diretores executivos de três das mais influentes empresas do setor tecnológico partilham o mesmo palco, no mesmo dia – considerando, ainda para mais, que são rivais. Jensen Huang, CEO da Nvidia, Pat Gelsinger, CEO da Intel, e Lisa Su, CEO da AMD, partilharam no evento Tech World, organizado pela Lenovo e que está a realizar-se em Seattle, nos EUA, aquelas que são as suas visões de futuro. E estão todos a pensar no mesmo – Inteligência Artificial (IA).
“A Inteligência Artificial será a maior das revoluções industriais que já vimos”, começou por dizer Jensen Huang, da Nvidia, a empresa que tem tido um crescimento explosivo, justamente por causa da grande procura por processadores especializados para treinar sistemas de IA.
“Estamos a reinventar a computação da forma mais grandiosa possível. O que antes era programação, agora é aprendizagem automática. O código da programação era para ser executado em CPU [unidades de processamento central], a aprendizagem automática é para as GPU [unidades de processamento gráfico]”, acrescentou.
Jensen Huang vê a Inteligência Artificial a crescer em duas direções distintas. Do lado do consumo, através dos chamados agentes, assistentes digitais que funcionam como robôs digitais – nós damos as instruções, o sistema vai buscar a informação necessária e depois executa a tarefa. A outra grande revolução acontecerá na área industrial, através da robótica, que na prática é a Inteligência Artificial, mas aplicada ao mundo físico, com o qual passa a poder interagir.
“Vamos ter colegas de trabalho que são agentes de IA. Serão bons em marketing, em design de chips, em programação, em gestão das linhas de produção. Vão trabalhar connosco para sermos mais produtivos. E teremos uma superprodutividade”, defendeu ainda o CEO da Nvidia.
Uma amizade improvável
Se a Nvidia é a estrela do momento, por causa da elevada procura que os seus processadores especializados estão a ter por parte das maiores empresas do mundo para treinar modelos de IA, a Intel está, de certa forma, no extremo oposto. Isto porque apesar de os CPU serem importantes no contexto do processamento de informação e treino de algoritmos de IA, não são tão relevantes quanto as GPU. E, nessa área, a Intel não tem o mesmo poder e presença das rivais Nvidia e AMD. Além disso, os próprios CPU da Intel têm vindo a perder alguma relevância, como mostram os exemplos da Apple ter criado os seus próprios processadores baseados numa arquitetura diferente (ARM) e de os equipamentos Windows estarem a tentar fazer o mesmo caminho, com os portáteis Copilot+. Resultado? As receitas e lucros da Intel têm ficado aquém do esperado e a empresa tem vindo a despedir milhares de funcionários nos últimos meses e anos. E mesmo assim, Pat Gelsinger, CEO da Intel, tem um recado para todos (incluindo a Exame Informática): “Os rumores da nossa morte são severamente exagerados”.
Para o CEO, “a arquitetura x86 está a prosperar”. “Está a passar por um período de customização, de expansão e de capacidade de escala. Mas o nosso ecossistema está robusto e a crescer”, garantiu no palco do Lenovo Tech World, que a Exame Informática está a acompanhar.
Apesar da confiança demonstrada, o evento em Seattle serviu como local de anúncio para uma amizade improvável: as rivais Intel e AMD, duas das maiores empresas de processadores do mundo, criaram um grupo conjunto (e que conta ainda com a participação de empresas como a Google e Microsoft, e gurus da tecnologia como Linus Torvalds, do Linux, e Tim Sweeney, da Epic Games) para assegurar o futuro da arquitetura x86 nesta nova realidade de mundo digital.
“Pela primeira vez, o Pat e a Lisa [AMD] concordam numa coisa”, disse a brincar o executivo da Intel. Mas há outra área na qual os líderes das duas gigantes tecnológicas concordam – não há como fugir da revolução da Inteligência Artificial.
“Estamos a entrar numa das mais entusiasmantes eras de inovação. E para alguém que trabalha nesta área há 40 anos, isto é muito profundo. É como quando chegou a internet. (…) Todos os dispositivos vão tornar-se num equipamento com IA, todas as pessoas terão IA na ponta dos dedos”, defendeu ainda Pat Gelsinger. E Lisa Su, CEO da AMD, está no mesmo comprimento de onda.
“A IA é a tecnologia mais importante que já vi na minha carreira. Ainda estamos nos primeiros dias, mas o ritmo de inovação está a ser muito rápido. Fizemos mais progresso em dois anos do que fizemos nos últimos dez. Vejo isto como uma oportunidade para resolver os problemas mais desafiantes do mundo”, sublinhou a líder da gigante americana.
Lisa Su está consciente que “toda a gente quer mais poder de computação para IA”, sobretudo no que diz respeito a grandes empresas do segmento com quem estão a trabalhar, como a Microsoft, OpenAI e Meta. E a única forma de dar resposta a esta grande procura é criando sistemas que são cada vez mais poderosos do ponto de vista da computação, mas mais eficientes do ponto de vista dos custos (seja de aquisição, seja de manutenção, seja do ponto de vista energético).
Neste sentido, a AMD anunciou no Lenovo Tech World um novo sistema dedicado especificamente para tarefas de IA generativa, o MI325X, que está a ser desenvolvido em conjunto com a tecnológica chinesa. “É um dos casos em que a coinovação e o codesenvolvimento permitem acelerar a inovação e a adoção da IA”, garantiu Lisa Su.
Além da parceria com outras tecnológicas para responder aos desafios da grande procura da IA, a AMD está também a adotar uma postura agnóstica e, neste momento, os sistemas da AMD já suportam mais de um milhão de modelos e ferramentas de Inteligência Artificial, dos mais populares PyTorch, Triton e Hugging Face, a outros desconhecidos, mas com aplicações em indústrias e problemas específicos. “Estamos comprometidos com o ecossistema de software aberto”, garantiu a diretora executiva da AMD.