Equipa de investigadores do Applied Physics Laboratory da Universidade John Hopkins desenvolveu uma interface cérebro-máquina (BMI, do inglês Brain-Machine Interface) e um par de próteses que podem ser usadas por pessoas com mobilidade condicionada ou paralisia para auxiliar em tarefas básicas, como comer. Numa demonstração do conceito, a equipa revela que um homem com a parte superior do corpo paralisada há 30 anos foi capaz de manipular um garfo e uma faca colocados nas suas mãos para comer uma fatia de bolo. Há uma voz computadorizada que narra todos os movimentos e subgestos que estão a acontecer. Desde partir um pedaço da fatia com a faca até levar esse pedaço à boca, o processo demorou cerca de 90 segundos.
A interface desenvolvida pelos cientistas permite fazer uma comunicação direta entre o cérebro e um computador, que descodifica os sinais neuronais para realizar várias funções externas como mover um cursor no ecrã ou levar um garfo à boca, explica o News Medical Life Sciences.
O estudo agora publicado no Frontiers in Neurorobotics pega nas conclusões de mais de 15 anos de investigação em ciências neuronais, robótica e software como parte do programa Revolutionizing Prosthetics, desenvolvido com o apoio da DARPA. A novidade aqui é que o input requerido do cérebro é mínimo, alargando a possibilidade de ser usado por mais pessoas.
Francesco Tenore, que coordenou o estudo, confirma que “apesar de os resultados serem preliminares, estamos entusiasmados com a possibilidade de oferecer aos utilizadores com capacidades limitadas o verdadeiro sentimento de controlo sobre máquinas assistentes cada vez mais inteligentes”. Já David Handelman, o autor principal, revela que “para os robôs poderem realizar tarefas como os humanos para pessoas com funcionalidade reduzida, é necessário terem destreza semelhante à dos humanos. Esta requer um controlo complexo de um complexo esqueleto robotizado. O nosso objetivo é tornar fácil o utilizador controlar as poucas coisas que interessam mais para tarefas específicas”. Já Pablo Celnik, o investigador principal do lado do Departamento de Medicina Física e Reabilitação (PMR) da Escola de Medicina da Universidade de John Hopkins, e que também contribuiu para o estudo, realça que a “interação humano-máquina demonstrada neste projeto denota as capacidades potenciais que podem ser desenvolvidas para ajudar pessoas com deficiências”.
As equipas pretendem continuar com o estudo, que já não conta com o apoio da DARPA desde agosto de 2020, e explorar ainda mais o potencial da tecnologia, avançando para a estimulação sensorial aos amputados e que lhes permitam usam sinais de movimento dos músculos a partir do cérebro para controlar uma prótese. O objetivo é que essa estimulação sensorial permita ao utilizador não estar sempre a olhar para o membro a ser controlado e ainda assim ser capaz de realizar as tarefas.