Parte daquilo que nos torna humanos é a nossa capacidade de pensar formas mais eficientes de fazermos o que fazemos. As primeiras ferramentas de que há registo datam de há 2.6 milhões de anos e serviam para facilitar as tarefas de caça e recoleção que os nossos antepassados ancestrais levavam a cabo no seu dia a dia. Ao longo da história temos vindo a fazer esta transferência de trabalho para outros meios. Pensemos na transferência de trabalho para os animais (e mais tarde para os tratores) que fizemos na agricultura, na evolução que os transportes tiveram, das liteiras, aos coches, aos carros com motorista e a um futuro que se pensa que irá ser autónomo; e até no que diz respeito à escrita, inicialmente à mão, para passar a ser feita através de prensa móvel e completamente automatizada hoje em dia: sempre que possível, terceirizamos o trabalho, encontrando formas mais eficientes de levar a cabo as mais diversas tarefas.
A automatização é um reflexo da nossa capacidade de inovar, que tem vindo a ganhar diferentes formas ao longo da história.
Este impulso inovador encontrou terreno fértil na digitalização dos processos e do trabalho. Dado que neste contexto tudo é informação, os computadores podem ser utilizados para processar tarefas e decisões de forma muito mais rápida do que qualquer humano conseguiria fazer. O Robotic Process Automation (RPA) e a Inteligência Artificial (IA) são duas ferramentas tecnológicas de grande importância para a automação. O RPA automatiza processos através de robots, que correm em computadores e que executam um conjunto de passos repetitivos e previamente parametrizados. Existem, tipicamente, 4 pontos que deverão ser verificados para que um determinado processo possa ser automatizado com RPA:
- A execução do processo baseia-se em regras;
- O processo deverá ser espoletado em intervalos regulares ou ter um trigger pré-definido;
- O processo deve ter inputs e outputs bem definidos;
- O processo deverá ter um volume significativo.
Um exemplo de um processo que verificaria estas quatro condições seria o processamento salarial: todos os meses, em data definida, é necessário analisar as folhas de horas de todos os colaboradores para contabilizar as horas trabalhadas, fazer os cálculos necessários, apurar os valores da massa salarial e informar o banco das transferências a efetuar. O que pode tomar um conjunto significativo de horas a um colaborador humano, pode ser feito em minutos por um robot virtual. Por outro lado, a IA pode atuar como um facilitador do trabalho do robot, ao exercer capacidade de decisão nalguns passos. Por exemplo, num processo em que os inputs sejam fontes de dados não estruturados ou semi-estruturados (por exemplo um ficheiro pdf), através de IA é possível fazer a leitura óptica desses documentos e recolher a informação necessária à execução do processo. A IA tem ganho o seu espaço no campo da automação: já hoje temos telemóveis que nos sugerem tarefas com base em perfis de utilização e localização, por exemplo, e existem inclusivamente algoritmos que são capazes de, entre outros, escrever notícias, código de programação, cartas de recomendação e perfis de emprego.
O Nova SBE Digital Experience Lab irá organizar dois workshops gratuitos relacionados com RPA e uma aplicação de IA, o process mining, durante o próximo mês para explorar em maior detalhe cada uma destas tecnologias e os seus benefícios e implicações.
Estudos sugerem que a implementação destas tecnologias nas organizações produz benefícios tangíveis, tais como altos rendimentos de retorno de investimento, poupança de FTEs, outputs processuais de maior qualidade e maior satisfação quer por parte dos clientes, como dos próprios colaboradores.
Este é, aliás, um dos argumentos utilizados pelos defensores da automação de processos: que a utilização de robots para realizar as tarefas mais fastidiosas do dia a dia das empresas liberta tempo para que os colaboradores se possam dedicar a outras tarefas intelectualmente mais exigentes e que isso gera índices de satisfação superiores. As consequências da robotização na economia têm sido amplamente investigadas e debatidas nos últimos anos. Mas este é um tema longe de ser novo. A ansiedade da automação, tem surgido a cada viragem tecnológica no último século. É certo que a cada nova onda de automação houve um conjunto de profissões que foram tomadas pelas máquinas, mas como observam alguns economistas, uma nova onda tecnológica melhora, tipicamente, a economia e cria empregos, quer diretos, quer indiretamente estimulados pelo consumo.
É bastante provável que venhamos a assistir ao crescimento deste fenómeno. À medida que vamos trabalhando na transição digital das empresas, aumentamos também o âmbito da automatização dos seus processos e tarefas. Estará assim o ser humano condenado a ser desempregado e, mais à frente, não-empregável? Provavelmente não. Haverá sempre espaço para a inteligência cognitiva, para a empatia e para a criatividade, que são características profundamente humanas, que configuram tantos trabalhos tão importantes para a economia.
Imaginemos 2030: um mundo de hipereficiência, com uma sociedade e uma economia digital, em que a colaboração entre humanos e máquinas é mais estreita do que nunca. Alguns trabalhos foram substituídos, novos trabalhos surgiram. Mas o cliente, o colaborador, o utente, o decisor continua a ser o ser humano. O que estamos a fazer para ajudar as pessoas a reorientar as suas competências para um futuro assim?
(*) – Um bom exemplo da automatização de algumas tarefas: este título foi gerado automaticamente através de Inteligência Artificial.