Existem hoje mais pessoas no nosso planeta do que ontem, e dificilmente chegará o dia que esta expressão não seja verdade. No entanto, eu acredito que isto seja um ponto positivo. Quanto mais pessoas existirem, maior a produtividade, maior a probabilidade de vingarem disruptores, capazes de contribuírem para os desafios apresentados pelo aumento populacional frente ao aparente limite de recursos.
Parece existir também outra tendência, que segue o aumento da população: a sua concentração geográfica. Os centros urbanos, são, historicamente, os locais onde a oportunidade mora, e apesar da necessidade de contacto físico parecer cada vez menos relevante, face à digitalização do trabalho, continuamos a assistir a um aumento na concentração populacional nestes locais.
Da mesma forma que é fundamental assegurar um desenvolvimento de recursos face ao crescimento populacional, é também fundamental assegurar um crescimento sustentável nestes locais densamente populosos e urbanizados.
O trânsito diário nas estradas, a falta de ligação entre diferentes tipos de transporte e a ineficiência do sistema público, aliados à poluição característica das cidades e ao atual desafio ambiental, fazem com que todas as cidades, mesmo as mais evoluídas e inovadoras, estejam hoje a viver um problema de mobilidade urbana.
A capacidade de as pessoas se movimentarem está assim a ser posta em causa, o que torna necessário planear um futuro em que as cidades sejam melhores locais para todos, que permitam às pessoas estarem constantemente em movimento, algo que lhes é natural.
Sinto que precisamos repensar as cidades e encontrar soluções e acredito que a inovação tecnológica é a chave para mudar de direção e contornar o desafio, estando cada vez mais presente na vida das populações urbanas.
Utilizamos hoje mais serviços com recurso à tecnologia do que nunca, grande parte destas inovações nascem para contornar os desafios diários sentidos pelos seus próprios criadores, permitindo uma maior mobilidade ou a chegada de tudo o que precisamos até nós, sem nos deslocarmos.
Assim que saímos de casa, além dos transportes públicos e do carro próprio, recorremos a plataformas de mobilidade, que nos permitem ter motoristas à nossa porta em minutos. Se queremos uma opção mais ambientalmente responsável, vamos para o trabalho de trotinetes eléctricas ou de bicicleta.
É certo, não nos faltam inclusive opções para simplificar momentos como uma normal ida às compras ou a preparação de uma refeição, já que cada vez mais produtos e serviços chegam até nós numa questão de minutos e à distância de um clique numa app.
No entanto, a conveniência do imediato quando é desenhada apenas tendo o consumidor final, e não o que o ambiente que o envolve, pode criar problemas adicionais.
Criando-se a necessidade de desenvolver soluções, que permitam manter o consumidor final contente e satisfeito, tendo um menor impacto negativo na sustentabilidade da cidade.
Neste sentido, a tecnologia nas cidades passará também, por exemplo, por opções como cacifos inteligentes, que vão permitir recolher encomendas feitas online, desde roupa a medicamentos, em qualquer lado que nos seja mais conveniente, evitando deslocações desnecessárias, e o impacto negativo econômico e ambiental criada pelas mesmas
Soluções não faltam e, se à partida podemos pensar que estas ferramentas nos tornam mais dependentes da tecnologia, eu considero, por outro lado, que trazem a flexibilidade e facilidade necessárias ao dia a dia.
Abrindo o leque de escolhas para o consumidor final, e permitindo uma maior dicotomia de escolhas individuais e a prática de diferentes estilos de vida, respondem-se a diversas necessidades e aumenta-se a sua autonomia, trazendo benefícios na sua gestão de tempo, algo tão importante nos dias de hoje.
Acredito que a crescente utilização de meios tecnológicos, além de contribuir para uma melhoria na forma como nos movemos e vivemos nos grandes centros, é um passo importante para alcançar o estatuto de cidade inteligente. O futuro passa por construir locais mais eficientes, adaptáveis e com um grande componente sustentável.
Para que tal aconteça, além das iniciativas e inovações tecnológicas que vão emergindo para responder a estes problemas, é necessária uma boa gestão dos recursos, tanto públicos como privados, que possibilitem esta mudança no presente e no futuro de todos.