Em “O Feitiço do Tempo”, Bill Murray está preso num ciclo que o força a reviver sucessivamente o dia 2 de fevereiro. É mais ou menos o que tem acontecido com o Governo português e as contas públicas. O ritual é anual: fechadas as contas, o Ministério das Finanças convoca uma conferência de imprensa e anuncia ao País que, afinal, foi surpreendido por um crescimento mais elevado, emprego mais robusto ou inflação mais alta. Por isso, o défice voltou a ficar abaixo do que estava orçamentado. Nem sequer importa qual é o ministro. Todos os anos é Dia da Marmota para as contas públicas portuguesas.
Nos sete anos em que os governos de António Costa geriram os recursos do Estado, só por duas vezes a meta do défice não foi ultrapassada. Em 2017 (ano da injeção de capital na Caixa Geral de Depósitos); e 2020 (ano da mais destrutiva pandemia em 100 anos). Nalguns casos, a diferença é marginal (0,3 pontos em 2016 e 2019), noutros ela é abissal. 2022 foi um bom exemplo: o défice acabou por ficar 2,8 pontos abaixo do orçamento original (1,5 pontos, se considerarmos o orçamento apresentado já em abril).