Os dois empresários concordam que ser empreendedor exige uma forma diferente de pensar o mundo e consideram que os empresários têm má reputação em Portugal, o que representa um travão à iniciativa privada no país.
Respondendo a uma pergunta do diretor da EXAME, Mário Ferreira admitiu que a imagem dos empresários ficou prejudicada por alguns dos escândalos em que a banca e outros setores de atividade se viram envolvidos nos últimos anos. “Um dos grandes problemas [das empresas] é o financiamento. Esses escândalos de milhões não estavam acessíveis a qualquer um. Pagámos todos por isso em termos fiscais, mas também nesta sensação de que os grandes empresários são uns vigaristas e que essa é a única forma de ganhar.”
O presidente da Douro Azul sublinhou a importância das escolas e da comunicação social para incentivar os jovens a serem empresários e, aqueles que já são, a terem a ambição de crescer. “O empreendedor tem um sonho e quer construi-lo. Se tiver sucesso, isso transforma-se em mais responsabilidade e, se correr bem, em riqueza. Algumas das PME têm de ir mais além. Um país só de PME também não se safa. Têm de exportar mais, concorrer, comprar empresas do mesmo setor no estrangeiro.”
João Miranda acha que os empreendedores olham para a realidade com um filtro muito próprio. “Quando vejo um problema, vejo um negócio, procuro uma forma de encontrar uma solução. Há seguramente uma forma diferente de ver o mundo. Nasci numa mercearia. Sei o que é fazer a caixa todos os dias à noite. Aprendi a contar com notas de 20”, afirmou.
O ex-CEO da Frulact quis também distinguir empresário de empreendedor: “um empresário tem uma empresa, um empreendedor é mais do que isso”. “Gosta de criar coisas, estar sempre no momento de encontrar outro produto”, acrescentou. “A mim dói-me quando me abordam para um projecto qualquer e eu não entro.”
Mário Ferreira concorda. “Sim, acho que há um gene [do empreendedor]. Eu sempre senti no sangue que gostava de fazer negócios.”
Já no final da conversa, ambos comentaram as propostas que têm sido discutidas durante a campanha eleitoral, sublinhando a necessidade de alívio da pressão sobre as empresas. Mário Ferreira destacou a necessidade de descer impostos, enquanto João Miranda se concentrou no “peso do Estado”. “Não acredito que o país consiga continuar a viver com ideologias que condicionam a iniciativa privada. É ela que cria riqueza e que partilha riqueza. É bom que se cuide da galinha, porque, às tantas, ela está depenada e nem ovos põe”, concluiu.
A conferência da EXAME distinguiu as PME com melhor desempenho em 2020, dentro do universo da 1000 maiores Pequenas e Médias Empresas nacionais, segundo os dados da Informa D&B.