É preciso monitorizar a aplicação e utilizar bem o envelope financeiro que chegará a Portugal nos próximos anos para suportar a recuperação da economia no pós-pandemia e a transição energética e digital, sob pena de o País perder esta oportunidade “única” que pode ser também a “última”. Este foi o entendimento deixado esta quinta-feira, 11 de fevereiro, pela generalidade dos participantes na conferência “Plano de Recuperação para a Europa: Oportunidades e desafios para as empresas”, onde também se defendeu a criação de condições, do lado do Estado, para reduzir os custos de contexto e facilitar o investimento.
Durante o primeiro painel desta iniciativa da EXAME e da Ageas Seguros, dedicado à natureza e os mecanismos de acesso a este pacote financeiro, Rui Leão Martinho, bastonário da Ordem dos Economistas, disse-se otimista com essa aplicação, referindo-se ao papel que a União Europeia terá na definição de objetivos e no acompanhamento que será feito da execução dos projetos, da qual ficará dependente a libertação do financiamento. Mas pediu, ainda assim, “olho vivo na execução e na monitorização” dessa aplicação.
Nuno Gonçalves, vogal do conselho diretivo do IAPMEI, sublinhou por outro lado a necessidade de atrair investimento, essencialmente estrangeiro, trazendo mais projetos e com mais qualidade ao País. Desígnio que, para o bastonário, terá de ser acompanhado da redução de custos de contexto e por sinais de estabilidade do quadro fiscal num prazo alargado. Já o presidente da CIP pediu uma aposta decisiva na facilitação da relação com o Estado, com um “Simplex digno desse nome”.
“É urgente sairmos deste estado anémico em que nos encontramos,” insistiu António Saraiva, destacando ainda que o facto de estar previsto que os parceiros sociais acompanhem a execução das verbas comunitárias previstas na chamada “bazuca” contribui para que esteja otimista em relação a este processo, que envolve globalmente 1,8 biliões de euros na UE (orçamento plurianual mais fundo de recuperação), mais de 45 mil milhões dos quais terão Portugal como destino.
O segundo painel, também moderado por Camilo Lourenço, debateu as prioridades para a aplicação dos fundos do plano de recuperação europeu e evidenciou o papel do Estado na transformação que o envelope comunitário pode trazer à economia. Pedro Matias, presidente do ISQ, defendeu mesmo a necessidade de separar o plano em dois, um de investimento público e outro mais virado para as empresas. “Confundir tudo isto numa bazuca vai dar confusão,” repetiu.
Já Cristina Siza Vieira destacou a relevância do setor do turismo para o crescimento da economia nos anos pré-pandemia e apontou como positivo o investimento público aplicado na estratégia de redução da sazonalidade, valorização do interior através de fundos comunitários e verbas próprias geridas pelo Turismo de Portugal. Ainda assim, a CEO da Associação da Hotelaria de Portugal defendeu que “tem de haver investimento digital na Administração Pública, para que possamos diminuir o peso e o volume dos funcionários públicos, para que os possamos qualificar mais, ter menos e que ganhem melhor”.
Já antes o diretor da EXAME tinha ressaltado a importância de garantir que parte das verbas do Plano de Resiliência e Recuperação venha a ser aplicada na transformação do Estado. “A reforma da economia pode ficar coxa se nos esquecermos desse pilar. O plano Costa e Silva fala do Estado de uma forma quase assistencialista, mas o papel do Estado deve ser mais do que isso”, defendeu.
Também presente neste painel, o diretor-geral de marketing e distribuição da Ageas Seguros, Gustavo Barreto, destacou a necessidade de as empresas analisarem e prevenirem o risco dentro das suas organizações, nomeadamente através de um serviço de consultoria que esta empresa disponibiliza aos clientes, que permite identificar esses riscos e criar sugestões e ações de formação para os mitigar. “Para haver um acidente grave há 300 incidentes. Se se evitarem alguns destes, a probabilidade de haver um acidente grave reduz-se imenso”, apontou.