Num comunicado divulgado esta terça-feira, 29, a farmacêutica norte-americana Moderna revelou dados sobre a capacidade da sua vacina para produzir anticorpos neutralizantes contra 16 variantes do vírus SARS-CoV-2, incluindo uma batizada de A.VOI.V2. Esta variante foi descoberta em Angola, no passado mês de março, e anunciada como aquela que apresentava o maior número de mutações em relação ao genoma original do vírus. Totaliza 34, contra 18 da variante Gamma (Brasil), 17 da Alpha (Reino Unido) e 15 a 17 da Delta (Índia).
A sequenciação do genoma da A.VOI.V2 foi realizada num laboratório da África do Sul, o KRISP, que já tinha estado envolvido na identificação da variante sul-africana (Beta). Ali foram analisadas amostras recolhidas no aeroporto de Luanda, entre passageiros que aterraram na capital angolana de junho de 2020 a fevereiro de 2021. Três desses viajantes, provenientes da Tanzânia em meados de fevereiro, acusaram positivo no teste Covid e estavam infetados com esta variante que deixou alerta os investigadores sul-africanos. Isto porque certas mutações da A.VOI.V2, também presentes nas variantes Beta e Alpha, por exemplo, estão associadas a uma maior capacidade de propagação do vírus, por um lado, e de evasão aos anticorpos produzidos pelas vacinas e pelo sistema imunitário de quem já foi infetado, por outro. O relatório com a informação pertinente seguiu para a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Desde então, porém, não há registos em Angola de outros infetados pela variante em causa (predomina a variante Alpha), enquanto na Tanzânia os dados sobre a pandemia são escassos, até porque o presidente que governou até março era um acérrimo negacionista. Mas será a inclusão da A.VOI.V2 no estudo da Moderna motivo para soarem alarmes? Quão preocupados devemos estar com esta nova variante?
Depois de consultar uma base de dados do sistema de vigilância britânico à Covid-19, e as referências às mutações principais da variante descoberta em Angola (uma vez que o nome nem aparece), o epidemiologista Manuel Carmo Gomes pressupõe que “já foi detetada aqui na Europa”, mas apenas muito esporadicamente. “Não me parece que tenha uma frequência que justifique interesse”, afirma o também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e membro da Comissão Técnica de Vacinação.
Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, considera que a A.VOI.V2 “não tem expressão”, na linha de tantas outras variantes insignificantes, sem características biológicas para se imporem no contexto pandémico. “Não aparece sequer nas 25 variantes mais relevantes”, desvaloriza, por seu lado, Henrique Lopes, especialista em saúde pública e professor da Universidade Católica.
A OMS também não a qualifica de variante de interesse – e muito menos de preocupação -, como a própria Moderna sublinhou no comunicado divulgado esta semana. Ainda assim, das 16 variantes analisadas pela companhia norte-americana, a A.VOI.V2 foi a segunda contra a qual a vacina produziu menos anticorpos neutralizantes.
Conclusão
FALSO. Os especialistas ouvidos pela VISÃO garantem que não existem motivos para alarme. A variante angolana não oferece, neste momento, quaisquer razões para preocupação.
FACT CHECK “VERIFICADO”. Conheça os factos, porque é preciso ter VISÃO.