Não sou uma pessoa descontraída. Vivo sob algum stress quer no trabalho, quer na vida pessoal. Mesmo quando tudo parece correr bem, sinto sempre uma tensão latente. Ultimamente, esta tensão tem-se revelado em pensamentos negativos como achar que tenho alguma doença (mas não arrisco ir ao médico) ou que vou ter um acidente.
Toda a gente me diz para não pensar nestas coisas, porque acabo por as atrair… Não acredito que seja assim, mas a verdade é que gostava de me libertar destes pensamentos e de viver de forma mais tranquila. Neste momento não tenho nenhum problema grave para resolver e acho que devia andar mais descontraída e não tensa e nervosa como me sinto.
Não quero ser daquelas pessoa de quem se diz que têm tudo para ser felizes, mas não conseguem…
A tensão latente que refere, em si mesma, não tem de vê-la como obstáculo. Pessoas cuja personalidade tem este “atributo”, tendem a orientar-se para a acção (“fazedoras”). Se este for o seu caso (já que desconheço a sua idade, história de vida, etc), inibir esse impulso é que pode revelar-se problemático, na medida em que, quanto mais descontraída tentar ser, maior a probabilidade de ficar com a sensação de ter alguma coisa errada consigo, o que se afigura uma fonte de frustração (com os sentimentos e emoções destrutivas que envolve, além de pensamentos catastróficos).
O receio de atrair tais cenários negativos, pelo simples facto de pensar neles – como lhe dizem – pode dever-se às tentativas (infrutíferas) de racionalização do seu desconforto, do qual deseja libertar-se (e, não encontrando uma via concreta para fazê-lo, começar a alimentar fantasias de doença ou contribuir para aumentar o nervosismo que refere).
Sugiro um breve exercício de auto aceitação, ou seja, comece por admitir que essa faceta “tensa” não a vai matar ou levar à cama, e permita-se ter momentos do dia para sentir tal tensão em toda a sua exuberância. Ao mesmo tempo, identifique o que essa tensão lhe traz ao pensamento, incluindo situações de antecipação de situações agradáveis (como aquele nervoso miudinho que precede alguma actividade que dá prazer, sentir) e sugestões que considere positivas (“estou viva”, ou “enérgica”, por exemplo). Familiarizar-se com o que lhe parece ser “o inimigo” é o primeiro passo.
O treino de consciência corporal também pode ser útil para ajustar a sua forma de sentir-se “bem” na sua pele. A exposição progressiva a este estado emocional tensional, idealmente à noite, e na sua zona de conforto, pode levá-la a reconhecer as partes do corpo onde essa tensão incide mais. Inspire fundo, aumente voluntariamente o grau de tensão (física) e permaneça assim alguns segundos e… liberte com a expiração, toda a carga que sente nessas partes do seu corpo (ex: maxilares, mãos, membros inferiores, ombros). A repetição da prática vai possibilitar-lhe reconhecer, espontaneamente, quando (e em que partes do corpo) concentra mais pressão (involuntária) e reduzi-la, voluntariamente, quando deita o ar fora (por exemplo, enquanto conduz, numa interacção com alguém, durante o ato de mastigar ou simplesmente enquanto tecla, imprimindo menos força a cada movimento).
A descontracção (e o sentimento de felicidade) surge naturalmente, sempre que se vive uma experiencia interna de fluidez, fazendo aquilo em que se acredita e confiando nas metas pessoais, especialmente as de médio prazo. Se continuar a sentir-se “contraída”, analise os factores/situações que podem estar a influenciar esse estado sintomático. “Oolhe/faça” por si: exercite-se, tome pequenas decisões que lhe facilitem a vida/reduzam eventuais sobrecargas a que tenha assumido como suas, delegando-as ou dizendo “não”, quando sente que o seu limite foi atingido. Caso tudo isso seja insuficiente, marque uma consulta de psicologia para a ajudar no processo.
Clara Soares, jornalista, psicóloga e autora do blog Psicologia Clara