Quero saber porque é que não consigo refazer a minha vida amorosa, agora que já tenho 42 anos e há pelo menos dois que desejo um parceiro estável.
Nunca me vi no papel de encalhada, mas começo a acreditar que, nesta matéria, a idade conta. Custa-me perceber porque é que só encontro homens que não querem compromissos, ou já estão, como dizem as minhas amigas, ocupados.
Onde estão os homens livres? Dizem que os 40 são os novos 30 e que os homens apreciam as qualidades das mulheres maduras, mas se calhar isso só acontece às que vêm nas revistas. O mesmo se aplica às rugas e aos cabelos brancos, que começam a preocupar-me.
Terei passado “o prazo de validade” para uma relação séria? O que devo fazer?
Em primeiro lugar, importa esclarecer que o mito da beleza existe, mas não é para aqui chamado. Certamente já se terá interrogado acerca de pessoas que não cumprem os cânones da elegância ou os parâmetros da juventude física e não é por isso que ficam sem namorado. A palavra ‘namorado’ tem um significado diferente de ‘parceiro’, já que este último pode até ser estável, mas apenas não ter o registo do compromisso que parece estar implícito no seu pedido: quer um homem livre. Para amar. Para uma relação madura ou, pelo menos mais completa e disponível no plano afectivo.
Talvez mereça a pena interrogar-se acerca do que a leva a sentir-se atraída por pessoas que só parcialmente podem estar consigo (porque não se querem comprometer e partir para um caso sério ou porque “já estão ocupados”, seja por estarem casados, numa união de facto ou com um relacionamento estável, mas não consigo). A resposta, deverá procura-la em si: terá medo da intimidade? Muitas pessoas que foram magoadas emocionalmente em relacionamentos anteriores, dos quais nunca se refizeram completamente, tendem a emitir sinais ao outro, sem que disso se dêem conta, no sentido de estarem dispostas para algo mais, mas ao mesmo tempo, algo menos.
O envolvimento acarreta riscos, nomeadamente o da exposição de zonas secretas – e não estou a pensar apenas no plano das fantasias eróticas – e isso passa pela revelação de algumas vulnerabilidades que se torna mais fácil, ou cómodo, esconder. “Não entregar os pontos”, como se costuma dizer. O facto de estar “no mercado”, provavelmente com mais treino e bagagem do que aos 30, e com uma motivação clara para se comprometer pode coexistir, provavelmente, com uma espécie de travão interno, como uma voz interior a dizer “mais vale ser caçador do que ser presa.”
A preocupação, talvez excessiva, com os primeiros sinais de envelhecimento, ainda que seja legitima (o culto da juventude eterna é uma “norma social” interiorizada no mundo ocidental, especialmente nos países do sul da Europa), leva-me a questioná-la sobre aquilo que sente em relação à sua própria disponibilidade para amar e entregar-se sem tantos receios. Como se o que está em xeque seja colocado quase exclusivamente no plano da imagem, do embrulho, mais do que no que está lá dentro. E que, porventura, pode muito bem merecer um rótulo, que Jorge Palma tão bem imortalizou na canção “Frágil”. Se assim for, talvez possa começar a olhar para si com outros olhos. E procurar ajuda profissional para melhor aprofundar a raíz de eventuais medos (como o da rejeição de quem é, mais do que por ter determinada idade e mais ou menos rugas ou cabelos brancos).