Nos últimos anos, sobretudo nas gerações mais jovens, a atribuição de valor ao bem-estar e à saúde mental levaram muitos a mudar o statu quo. Vestir a camisola, dando mais do que o estritamente necessário, com sacrifício de tempo, saúde e sem ganhos relevantes, passou a ter os dias contados. A desistência silenciosa – quiet quitting – criou ondas de choque no meio corporativo. Na China, milhares de jovens chineses disseram “basta” à “corrida de ratos” em que as suas vidas estavam a tornar-se, adotando o registo tang ping (deitar-se ao comprido) como forma de protesto. Após o abrandamento forçado pela pandemia, o teletrabalho instalou-se em força e a semana dos quatro dias entrou na ordem do dia. Em Portugal, a avaliação da experiência, que envolveu 41 empresas e mais de mil trabalhadores, divulgada em abril do ano passado, mostrou resultados positivos. Entre eles, a redução média de 13,7% nas horas semanais deu frutos na qualidade do sono (mais 11 minutos, em média), a autoavaliação da saúde mental (duplicaram as respostas de excelente e muito boa) e o espaço para o ócio (mais tempo com família e amigos, para si mesmos e passatempos). Além disso, a maioria dos gestores reportou uma subida em receitas e lucros face ao ano anterior.
“Há uma tendência para resistir a modelos de organização que não respeitam o direito a desligar, sobretudo nas gerações mais jovens, que valorizam o bem-estar e a soberania do tempo para si”, refere Ana Paula Marques, professora na Universidade do Minho. “Os gestores de Recursos Humanos parecem ter dificuldade em envolver a geração com 20 e mais anos nas equipas e nos compromissos organizacionais.” O fenómeno coexiste com a “autoexploração consentida, comum em teletrabalho e nas gerações com 30 e mais anos, que tentam dar o litro em abono da progressão nas carreiras”.