D. Dinis tinha 18 anos quando foi aclamado rei de Portugal, e o seu nome é reconhecido até por aqueles que há muito esqueceram as lições de História nos bancos da escola. Mas nem mesmo esses achariam possível contemplar – ou até instagramar – as feições de um monarca desaparecido há 700 anos. A imagem 3D agora divulgada, sustentada em dados científicos, é a de um rosto contemplativo, de olhos azuis e expressão serena, cabelo aloirado encimado por uma coroa. Não é o de um jovem a assumir o manto pesado da governação nem o de um monarca europeu com a juba arruivada que os rodapés históricos sempre lhe atribuíram (e que o ADN não conseguiu confirmar): é o de um “coração de leão” na fase final da sua vida. E esse foi também um dos muitos desafios e decisões assumidos pela equipa transdisciplinar que conseguiu o feito pioneiro de realizar a primeira imagem cientificamente fundamentada de um rei português da primeira dinastia, através da reconstrução facial, realizado sob a coordenação científica de Eugénia Cunha, antropóloga forense da Universidade de Coimbra.
Para um leigo, há algo de experiência sobrenatural (ou até de argumento cinematográfico) neste ressuscitamento de uma figura há tanto tempo desaparecida nas ditas brumas do passado. Esta revelação é o resultado dos estudos arqueológicos e antropológicos desenvolvidos nos últimos anos, em contexto tumular e laboratorial, dedicados ao rei português, mas também ao seu espólio – incluindo o manto real e a espada medieval descoberta. Iniciado em 2016 por iniciativa da extinta Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), em parceria com a Câmara Municipal de Odivelas, o Projeto de Conservação e Restauro do Túmulo de D. Dinis – que é, aliás, a pedra de toque das comemorações alusivas ao sétimo centenário da morte do rei português – contou com peritos de áreas tão diversas como arqueologia, antropologia biológica, genética, química, toxicologia, conservação e restauro, história e história de arte. E com o trabalho de entidades nacionais e internacionais, como o Laboratório José de Figueiredo, o Laboratório de Arqueociências e a Liverpool John Moores University FaceLab, que realizou a reconstrução facial através de impressão 3D.