Sofia Aparício: Viajo para ganhar mundo, não é para descansar

Foto: José Carlos Carvalho

Sofia Aparício: Viajo para ganhar mundo, não é para descansar

No Instagram, Sofia Aparício apresenta-se como “atriz, manequim, amante da realidade e ativista do sonho”. Na vida real, foge de rótulos e realiza-se como pessoa “a tentar equilibrar um bocadinho os pratos da balança”.

Aos 54 anos, desdobra-se entre empreitadas de trabalho em Portugal (na moda, no cinema, no teatro) e viagens que lidera mundo fora, muitas vezes com África na mira. Vive indignada com a Humanidade e encontra momentos de felicidade na solidariedade, com os pés assentes na terra.

Está agora em S. Tomé e Príncipe, a ver no terreno a ação da Helpo, uma ONG portuguesa que já lhe deu vários afilhados à distância, como o Marcelo, um menino de 15 anos da região de Nampula, em Moçambique.

Benim
Fui ao Benim com uma líder incrível da 100 Rota, a Rosa Furtado, numa viagem pela África Ocidental que incluiu o Togo e o Gana, durante o festival anual de vudu. A região foi conhecida na Europa como a Costa de Ouro, depois como a Costa dos Escravos, e hoje sentimos que estamos na África pura e dura. No Benim, ficámos em aldeias remotas, onde as festas não são tão sofisticadas como em Ouidah, a capital do vudu. Aconselho a levarem máscara, por causa do pó.

O que a move? O que a apaixona no dia a dia?
Sou apaixonada por este planeta. Se existe um Deus, ele é este planeta, responsável pela nossa vida. Não uma construção ideológica, mas esta física e esta química que nos permitem existir. Adoro a sensação de que somos pó de estrelas que existiram há milhões de anos. E move-me a curiosidade pelo planeta em si, por culturas diferentes e, sobretudo, por pessoas diferentes.

As pessoas parecidas consigo despertam-lhe pouca curiosidade?
Sinto que aprendo pouco com quem teve o mesmo tipo de educação. E, sendo eu privilegiada por ter tido os pais que tive e por ter nascido e crescido na Europa, com acesso a educação, informação e cultura, tenho o instinto de tentar equilibrar um bocadinho os pratos da balança. Em miúda, a minha mãe ralhava comigo: “Lá estás tu a querer ajudar os pobrezinhos.” Mas não era isso. O meu instinto foi sempre proteger os mais frágeis.

Que pais foram esses?
Um pai angolano, e angolano mesmo, porque os meus avós eram de Santa Comba Dão e emigraram para Ucuma, uma pequena vila ao pé da cidade do Huambo (antiga Nova Lisboa), e ele nasceu e viveu em Angola até à independência. Tenho pelo meu pai um amor que não cabe em mim, vivíssimo e que só vai morrer quando eu morrer. Já fui ver o sítio onde nasceu e as lágrimas corriam-me pela cara, porque pensava: como é que em 1900 e troca o passo, uma criança com 17 anos, que só conhecia Ucuma e Nova Lisboa, veio com uma bolsa estudar engenharia para Portugal? É preciso uma coragem incrível.

Portanto, um pai angolano e uma mãe…
Uma mãe filha de agricultores de uma aldeia ao pé de Viana do Castelo, Perre, que veio ter-me a Portugal porque o meu pai tinha escrito “branco de segunda” no Bilhete de Identidade. Penso que já não era assim quando nasci, em 1970, mas a minha mãe não queria esse estigma para mim. E com menos de um mês fui de navio para Angola.

Os seus pais conheceram-se em Portugal?
No Porto, onde a minha mãe estudou Medicina. E foram ambos os primeiros letrados nas suas famílias. Sou filha destes senhores incríveis que viviam bem em Angola e que ficaram praticamente sem nada, mas ainda construíram uma vida bastante confortável em Lisboa. Logo após a independência, a família ficou separada: eu fui para casa dos meus avós, em Perre, a minha irmã para um colégio interno no Porto, o meu pai para uma empresa de construção civil em Viseu e a minha mãe veio abrir o serviço de neonatologia na Estefânia.

Lembra-se de Angola? De Ucuma?
Já era Luanda, de onde vim com 5 anos. As nossas memórias também podem ser contadas, mas lembro-me do andar de cima da nossa casa, sem nunca ter visto fotografias, e até da cor da alcatifa, que era mostarda. Também me lembro das minhas talas, porque tinha as pernas muito tortas e dormia de talas, e de um vizinho sem uma unha. Claro que posso ter sonhado com isto da unha, não sei, não percebo nada de sonhos. [Risos.]

Fechou tudo numa gaveta?
O amor que tenho por África é uma extensão do amor que tenho ao meu pai. Ele era africano e viveu deprimido muitos anos. E eu costumo dizer que tenho um coração africano e uma cabeça europeia.

África tem que ver com a largueza de horizontes?
É isso, mas não é só isso. Tem que ver com o facto de ser o útero do planeta, o berço da Humanidade. Não sou nada de energias, mas quando saio do avião em África sinto uma energia que me agarra o coração e fico ali, presa ao chão e à força da Natureza.

Turquia, Curdistão e Iraque
Na 100 Rota, sou líder de duas viagens, uma pela Turquia e o Curdistão, e outra pelo Iraque. Mardin, considerada a capital do Curdistão turco, é uma cidadezinha linda no cimo de uma montanha que se visita a pé. No Curdistão iraquiano, um dos sítios de que mais gosto é Lalish, o local mais sagrado para os yazidis (religião perseguida por todos). É uma aldeia onde só se pode andar descalço e tem um templo yazidi que visitamos durante o festival anual. O Iraque é uma caixinha de surpresas e não conheço outro povo tão generoso, simpático e acolhedor. Na região dos pântanos, ficámos em casa de uma família cujo patriarca era um homem velhinho, lindo.

A sensação é boa?
É incrivelmente boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser dolorosa. A maior parte da população africana vive mal, a desigualdade é gigante e a responsabilidade desse mal viver é muito do Ocidente. Sendo que aquelas pessoas são maravilhosas, têm gestos de generosidade connosco sem pedir nada em troca. Quando estive no Gana, no início do ano, fui ao mercado Makola, no centro de Acra, e percebi logo que não era bem-vinda por causa da cor da minha pele. Nunca levo isso como uma ofensa, percebo. As pessoas que têm esta cor de pele [aponta para uma das mãos] não costumam lá ir para ajudar nem para ser amigos deles. O Gana tem uma das maiores lixeiras têxteis do mundo e aquele mercado vive muito à conta de fardos de roupa cada vez de pior qualidade que eles nem sequer conseguem usar ou reaproveitar.

Para quem tem um percurso na moda, faz sentido ter esta consciência.
Não sou hipócrita. Nunca fui muito consumista e cada vez sou menos, mas claro que consumo fast fashion. Faço-o com um peso muito grande na consciência e, sempre que posso, escolho roupa feita de materiais reciclados e com o símbolo do comércio justo.

Estava a contar que não se sentiu bem-vinda naquele mercado no Gana.
Já esperava, porque faz sentido, e por isso fui com uma pessoa de lá. Prefiro sempre ir com locais, acabo por aprender mais, e é também por isso que gosto de viajar sozinha. Conheço mais gente e fico em casa de pessoas onde não ficaria se estivesse acompanhada.

É outra experiência.
Quando viajo, nunca sinto que vou de férias, porque o meu trabalho não é das nove às cinco, 11 meses por ano. Agora tenho uma empreitada de seis ou nove meses, a seguir fico desempregada e é nesse tempo que viajo. E viajo para ganhar mundo, não é para descansar. Não tenho o menor interesse em passar o tempo todo num resort. Nada contra, mas viajar não é isso.

Já disse que viaja para ganhar mundo. Começou como manequim?
Com 11 anos, a minha mãe mandou-me sozinha para a Bélgica, estudar Francês durante três meses. E, no ano a seguir, mandou-me para Inglaterra, estudar Inglês. Portanto, chegava o verão e a minha mãe mandava-me embora [risos]. Depois, já como manequim, viajava bastante em trabalho, o que adorava. Talvez tenha sido aí que comecei a fazer as minhas viagens sozinha pelo mundo.

E o regresso a África, a Angola?
Houve uma altura em que queriam que o meu pai voltasse a Angola para trabalhar e eu fui a única da família a dizer-lhe para não o fazer. Ele sofreu imenso por ter de vir de Angola, vi-o deprimido, para que é que ia abrir uma ferida que entretanto fechara? Mais tarde, talvez há uns 20 anos, convidaram-me a abrir um cibercafé em Luanda e o meu pai foi comigo porque eu queria a minha nacionalidade angolana (passei a ter dupla nacionalidade) e era preciso ele ir buscar a sua certidão de nascimento. Dessa vez, viajei um bocadinho à volta de Luanda, mas não foi aí que me apaixonei por África.

Foi antes? Depois?
Já devia ter estado na África do Sul, em Cabo Verde e de certeza em Marrocos, mas este amor por África é uma coisa que eu sabia que existia. É a liberdade e a necessidade de horizontes largos. Tenho uma casinha na Graça, que comecei a comprar com 27 anos, e a única coisa que eu queria era uma vista. Às vezes, apetece-me passar muito tempo na casa que temos na aldeia, mas falta-me o “a perder de vista”.

Além de viagens, a sua conta no Instagram está cheia de ativismo.
Ah, mas isso não é uma coisa consciente. As coisas vêm ter comigo. Já em miúda, entrava muitas vezes em conflito e era sempre a defender quem estava a ser vítima daquilo que agora chamamos de bullying.

E isso passava-se onde?
No Sagrado Coração de Maria, em Lisboa. Sou menina de colégio de freiras e ainda entrei na Católica para estudar Gestão [risos]. Mas eu já era assim na escola da aldeia, onde fiz a segunda classe, e, segundo o meu pai, em África chegava do infantário e contava: “Andei ao milho”, ou seja, tinha andado à pancada para defender alguém que estava a ser agredido. Portanto, o meu ativismo nunca foi uma coisa pensada, foi mais uma incapacidade minha de não dizer nada e de ficar quieta.

O que é que a indigna?
Agora, especificamente, indigna-me o que se está a passar na Palestina. As pessoas têm medo de usar a palavra, mas a definição de genocídio é exatamente o que está a acontecer ali por interesses económicos. Como é que uma pessoa consegue ser acionista de uma fábrica de armas e tem os seus filhos e os seus netos a dormir? Gosta deles, quer que tenham um sono tranquilo e vende armas? Esta distopia… Não consigo viver numa bolha.

Gana
No Gana, estive em aldeias, mas também em grandes cidades como Acra, a capital. Em Acra, é obrigatório visitar o mercado Makola, onde há tudo à venda – até aquilo que é considerado lixo na Europa. O país recebe o desperdício da fast fashion mundial, e não muito longe desse mercado existe uma lixeira têxtil gigante, à beira-mar. As roupas, a maioria de poliéster, acabam por ser levadas pelo mar. Visitámos ainda a maior lixeira de sucata eletrónica do mundo. O Gana é um país lindo, mas as viagens também servem para nos educar.

Mas a Sofia já furou a bolha há muito tempo.
A maior parte das pessoas é muito preguiçosa e muito cobarde. Preguiçosa para pensar e cobarde, por exemplo, para assumir o seu privilégio. Não faz mal nenhum sermos privilegiados. É uma sorte. Eu não me sinto culpada por ser privilegiada, mas tento usar o meu privilégio. Quantas outras pessoas mereciam ter a vida que eu tenho? Todas mereciam e há melhores vidas do que a minha, atenção. Mas conheço muitas pessoas que não querem sair da sua bolha de privilégio por preguiça de pensar. Já mudei de ideias ao longo da vida. E, às vezes, basta só um bocadinho mais de empatia.

Um dia, vão perguntar-nos se não sabíamos o que se passava em Gaza.
Já me aconteceu precisar de me desligar, não ir ao Instagram nem ler notícias, como se a guerra estivesse em pausa para mim. Mas, ao terceiro dia, o meu sentimento de culpa era gigante porque as crianças que estão a morrer não podem pôr a guerra em pausa. Cada vez mais dou graças aos deuses por não ter tido filhos. Foi a decisão mais acertada.

Não ter filhos foi uma decisão consciente?
Completamente. Não queria deixar um filho neste mundo. Costumo dizer que foi por amor ao meu filho que nunca nasceu que não o tive.

Daí ter afilhados, na Helpo? Como é que começou a sua colaboração com esta ONG?
Ajudei a pintar a sede da Helpo nas Fontainhas, em Cascais, há uns 20 anos, e agora tenho dois afilhados, um em Moçambique e outro em S. Tomé. Para mim, uma pessoa de sucesso é uma pessoa que melhorou a vida de alguém. E eu quero fazer isso ao longo da minha vida. Essa é a minha recompensa e nem sequer o faço por altruísmo.

É para se realizar como pessoa?
Não é bem isso. Faz-me sentir melhor. Neste meu percurso à procura de associações com as quais gostava de colaborar deixei muitíssimas pelo caminho porque faziam caridade. A caridade é uma coisa de cima para baixo. Do tipo: estou aqui, sou privilegiada, mas sou boazinha, estou a dar-te uma esmolinha ou comidinha. Não gosto disso. Gosto de solidariedade. Eu sei os nomes dos sem-abrigo apoiados pela associação CASA, com a qual colaboro. Na Helpo, senti que faziam um trabalho eficaz, nomeadamente com os programas de apadrinhamento em África, e tive um afilhado no Norte Moçambique, na zona de Nampula, o Marcelo, que entretanto fez 15 anos.

O apadrinhamento na Helpo acaba aos 15 anos?
Sim, porque é quando os meninos acabam o Secundário. Depois, se forem para o Ensino Superior é outro apadrinhamento. O Marcelo ainda está a acabar o ano letivo e, naquilo que depender de mim, vai ser o que quiser. Talvez arquiteto? Já me disse que gostava de seguir Arquitetura. Eles ficam sempre muito acanhados quando nos conhecem, mas o Marcelo fala bem português, coisa que quase ninguém fala, porque a mãe é professora, ou seja, já não é a primeira geração da família a estudar.

E, mesmo assim, precisou de ajuda.
Estas populações que vivem em situações frágeis… é ter farinha e feijão para o dia e mais nada. Aliás, uma das coisas que a Helpo também faz é o lanche escolar. Infelizmente, só dá para ser uma vez por semana, porque não há meios para todos os dias, mas isso leva-os à escola porque nunca sabem quando é. E em S. Tomé e Príncipe tem uma horta comunitária e cria animais. Sou vegetariana, mas parece-me importante que criem animais para tentarem ser autossuficientes. O objetivo da solidariedade não é tornar os outros dependentes de nós, é dar-lhes instrumentos para não precisarem mais de nós.

Togo
Em língua jeje, Togo significa “além da falésia”. É um destino para quem gosta de África. Os seus mercados tradicionais são incríveis, mas temos de ir preparados para ver muita carne pendurada. Em Sokodé, a cerca de 300 quilómetros da capital, todos os anos há um festival que atrai centenas de cavaleiros. Na região de Koutammakou, as tata, umas casas fortificadas, são impressionantes.

A famosa cana para pescar.
Para serem independentes e saírem do ciclo da pobreza. Irritam-me as pessoas que vão a países africanos e levam na mala “umas coisinhas para as crianças da rua”. Não se dão coisas na rua. Isso é satisfação própria, é egoísta, fomenta a mendicidade e não é educativo. Se querem realmente ajudar, escolham uma associação, entreguem-lhe as coisas e a associação saberá como, quando e onde distribuí-las de forma eficaz. Os doces fazem mal aos dentes, eles não têm dentistas e aquilo é cáries por todo o lado. Estar a dar canetas e coisinhas escolares na rua só os habitua a pedir. E depois estas pessoas queixam-se “Ah, eles estão sempre a pedir.” Sim, claro, tu estás a potenciar isso!

Lá está, é caridade.
A minha mãe dizia que gostar de um filho não é dar-lhe tudo o que podemos dar. É poder dar tudo e não dar tudo. Saber ir dando, para que isso seja positivo para o filho. Temos de saber dar. E, às vezes, custa horrores não dar. É o complexo do salvador branco, essa coisa abominável. “Vamos salvar a África!” Há uns anos, quando me cruzei com este conceito, comecei a pensei: “Será que tenho isto?” Juro! É importante sermos confrontados com estas coisas.

Até porque as pessoas de certeza lhe perguntam “Então, porque é que não ajuda aqui?”
Mas eu ajudo aqui. Além da Helpo, que também tem ação em Portugal, colaboro com a CASA, com quem faço a ronda dos sem-abrigo (aliás, vamos fazer hoje), a CCC [Corações Com Coroa] e a Associação Mais Proximidade, que dá apoio a pessoas mais velhas, principalmente no combate à solidão.

Mas, sempre que pode, regressa a África. E entretanto também como líder de viagens.
Estava no Médio Oriente quando conheci um rapaz chamado Francisco [Agostinho], que é dono da 100 Rota. A primeira vez que fui ao Iraque foi com ele, em 2021, depois da minha mãe morrer.

Vai sempre com apoio dos locais?
Claro. Nem faz sentido de outra maneira. Aliás, o que gosto nas viagens é exatamente apoiar a economia local. E conhecer Bagdade com uma pessoa que vive lá… Já lá estive duas vezes e este ano ia liderar mais uma viagem, mas foi cancelada por causa do que está a acontecer na Palestina. E vamos ver o que acontece para o ano, porque tenho novamente marcado o Iraque e uma outra viagem, ao Sul da Turquia e ao Curdistão iraquiano.

O Curdistão iraquiano, que inveja.
Já tenho saudades dos meus amigos curdos. Quando se viaja sozinho, faz-se amigos. Os curdos sempre me despertaram curiosidade, por isso comecei a ler sobre eles e decidi que ia lá ver. Por exemplo, os peshmerga, que são os combatentes do Exército iraquiano, nunca são uma força atacante. Foram ajudar os americanos a acabar com o ISIS em Mossul, lutaram contra o Saddam e as prisões políticas… A história da Humanidade não é nada bonita.

Peru
Na América Latina, o Peru é um daqueles destinos que se deve aproveitar para conhecer enquanto não está completamente turístico. É lindo ver na rua as pessoas vestidas com os trajes típicos no seu dia a dia. Não é encenação, é genuíno. E depois temos toda a sua natureza exuberante – os vulcões, a selva, as montanhas. A vista da Montaña de Siete Colores (ou Vinicunca) é arrebatadora.

A Sofia gostava de ter regressado agora ao Iraque?
E porque não? Percebo que as pessoas tenham medo, mas eu ia e não é porque sou maluca e inconsciente. Há um ano, achei que Bagdade estava um bocadinho mais militarizada, mas tudo supertranquilo. Havia um tanque parado com militares lá em cima, numa praça qualquer… mas isso não me causa nem medo nem insegurança. É assim.

Se tivesse um cartão de visita, escrevia “atriz” ou “aventureira”?
Nunca sei apresentar-me. Quando me pedem a profissão, tenho de lá pôr uma coisa e então ponho atriz ou manequim. Sim, sou atriz, mas não punha isso num cartão de visita. Poria filha do meu pai e da minha mãe.

Mas porque não atriz? Não tem formação?
Não fiz o Conservatório, mas fiz um curso de teatro de três anos com o John Frey [ator e professor americano que teve um estúdio no Teatro do Bairro, em Lisboa, onde lecionava a Técnica Meisner]. E vou fazendo workshops, mas não punha “atriz” num cartão de visita, porque parece-me redutor. Viajante, sim, já poria num cartão.

Pelo meio, ainda faz trabalhos como manequim?
Sei que tenho 54 anos [risos], mas faço. Faço, por exemplo, sempre que a Antónia Rosa [maquilhadora e diretora criativa da revista Zoot] me convida, porque divirto-me muito. Eu sou plasticina para o talento dos outros e aquilo arranca sempre com uma conversa. Pergunto-lhe: “Então, o que é que pensaste hoje?” e ela começa a contar-me a história que imaginou e, enquanto está a maquiar-me, eu vou construindo a minha personagem, o que adoro. E a nossa amizade vem do 86 [80-60-86, programa sobre moda que Sofia apresentou na RTP, entre 1994 e 1998].

Quando esta entrevista for publicada, a Sofia estará em S. Tomé, com a Helpo. Já sabe por onde vai andar?
Nos 15 dias que estiver com eles, vou onde me levarem. A minha ideia é conhecer pessoas e só regressar em janeiro. Nunca sei quando volto [risos]. Talvez tenha trabalho logo no início do ano, mas preferia só em março porque fui desafiada a ir ao Burkina Faso no final de fevereiro.

Passa o Natal em S. Tomé?
E estou muito feliz com isso. Não odeio o Natal, mas odeio loucuras coletivas, seja o Natal, o Carnaval, os futebóis. Toda a gente em dezembro, no mundo ocidental, tem uma árvore de Natal em casa – e eu não tenho, nunca tive e nunca vou ter. As pessoas gastam imenso dinheiro a comprar coisas que ninguém quer e, quanto mais consumimos, mais lixo existe no planeta. E irrita-me muito que na altura do Natal as pessoas se lembrem todas de ser boazinhas. Os sem-abrigo dormem na rua e têm necessidades 365 dias por ano. Porque é que só se lembram deles no Natal?

“Com 75 cêntimos por dia, melhoramos a vida de alguém”

Sofia Aparício colabora com a ONG para o desenvolvimento portuguesa Helpo, apadrinhando crianças à distância

“A Helpo tem um trabalho incrível em Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, mas está desesperadamente a precisar de mais padrinhos. A forma clássica custa 23 euros por mês. Com 75 cêntimos por dia, melhoramos a vida de alguém, é dinheiro bem empregue. O apadrinhamento que apoia um jovem que quer fazer o Ensino Superior custa 45 euros por ano em Moçambique e 60 euros por ano em S. Tomé. Quando as pessoas se põem a dizer ‘Ah, ajuda em África, mas não cá dentro’ é mais uma desculpa de mau pagador. Quem ajuda lá fora também costuma ajudar cá dentro. Só quem não ajuda em lado nenhum é que usa essa desculpa. Em maio, fui ver o trabalho da Helpo em Moçambique e conhecer o meu afilhado Marcelo. E senti-me orgulhosa com o trabalho da ONG e por contribuir para ele. Porque vi as escolas que construíram, vi as escolas que apoiam, vi o resultado prático da nossa colaboração. Numa das escolas que visitámos, daquelas mais no meio do mato, mais isoladas, vi como é difícil convencer as crianças a ir às aulas, porque os próprios pais são analfabetos e parece-lhes mais importante ajudar na machamba [pequena horta]. Só o exemplo de quem já conseguiu fazer o Secundário mostra a estas crianças que, mesmo no meio do nada, existe uma perspetiva de futuro.”

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